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Esse ano a FLIP homenageia Lima Barreto

 

Fábio Emecê
Professor de português do estado do Rio de Janeiro, rapper e ativista de causas ant-racistas e aniversariante do mês

Estamos na época que nunca finda de questionamento da verdade ou opiniões diversas confundindo os significantes, embolando os significados e nos dando direito de dizer que tá tudo errado. Ou certo, dependendo de quem fala. Tudo combinado ou nada combinado, falas espontâneas ou nem tanto acreditam que estamos indo pro lado certo, mesmo com 60 mil mortes por ano.

Numa inspiração a lá Lima Barreto, digo que o Brasil é um lugar onde todos dizem que a língua portuguesa é a mais difícil do mundo, todo mundo fala sobre tudo, lê sobre nada e ouve, só ouve o jabá, se é que me entende. Aliás, o escritor relegado aos sanatórios em sua época, hoje é homenageado na FLIP – Paraty.

Como bom brasileiro, preto e de várias agências fracassadas, me dou ao direito de elaborar algumas teses cuja sustentação vai depender basicamente como estou e como quem lê, ouve ou me enxerga. Pois bem, Lima Barreto era um preto brasileiro com acesso às letras. Elaborou toda uma literatura de questionamento da formação do Estado Brasileiro naquilo que se é hoje, que é a república federativa e na época, o projeto dele não deu em nada.

Minha tese é: dentro da branquitude (procurem saber o que é) aceita – se ou não os papéis além daqueles que são determinados por eles mesmo. Um preto com habilidade além do serviço braçal ou um feito de um preto com determinado apuro e sofisticação é autorizado se esse preto for “amigo” ou apadrinhado por um branco da elite, ele ter uma aclamação popular fora de qualquer controle ou depois de um bom tempo dele morto, logo inofensivo, ser alçado a condição de genial ou importante, que seja.

Lima Barreto se configura no último caso, de um preto genial, de uma obra profunda e rebuscada, cuja entrada nos círculos e sua interpretação da República como algo falho e caduco antes de nascer, cabe nos dias atuais, mesmo os dias atuais serem pouco proveitosos em análises críticas.

E aí vem a crítica básica daqueles que não aceitam nem os pretos geniais inofensivos, colocando a obra em terceiro plano e questionando o fato de se impor dentro do espectro social, uma aceitação de pretos, pobres, indígenas e tudo aquilo representativo de uma intelectualidade branca feita por esse grupo não ser realmente bom.

Quem diz que algo é bom ou ruim de fato? O que foi dito como bom no Brasil excluiu e invisibilizou muita gente, propositalmente, obviamente, porque é ameaça. Ao cânone, aos costumes e a forma. Forma essa definidora de heróis e currículos.

Lima Barreto é emblemático nesse sentido de desvelar a vergonha brasileiro pela periferia e do que é produzido nela. Periferia heterogênea, sanguínea, pulsante e constantemente controlada e idiotizada, por que não? Você acredita mesmo que essa periferia na qual é propagandeada é a real?

Enfim, falta muito pra sermos um território de leitores, ainda falta mais para reconhecermos nossas produções e muita coisa, mais muita coisa para a aclamação popular por si só ser maior que uma Flip da vida.

Enquanto isso, sigo invisível e escrevendo por aqui. Em breve, num sanatório, como Lima Barreto…

 

Leia mais textos do professor Fábio Emecê 

Noticiário das Caravelas

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Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

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