Há alguns dias, em São Pedro da Aldeia, a vereadora Claudinha (PTB) pediu a instauração de duas CPIs para investigar a Educação da cidade. As Comissões foram aprovadas e, segundo a parlamentar, está surpresa com o tratamento que vem recebendo do executivo após a aprovação de ambas. Em uma Sessão Ordinária da Câmara Municipal há alguns dias, Claudinha, em seu discurso, disse que o governo municipal alegou que não iria responder os ofícios dela porque não tinha obrigação de produzir provas contra si mesmo.
E, de acordo com a parlamentar, na tribuna disse que “em nenhum momento disse que eles são culpados. Mas preciso de documentos e informações que estão dentro da secretaria e que somente eles podem me dar”, explicou a vereadora. Claudinha lembrou que qualquer cidadão comum pode solicitar informações sobre a administração pública.
Portanto, para ela, o governo do prefeito Cláudio Chumbinho, está se valendo de racismo e misoginia estrutural. “O que eu percebo é que o prefeito se recusa a aceitar minhas prerrogativas como vereadora. Será que é por que sou uma mulher negra?”, questionou. Claudinha disse ainda que está estudando com os advogados outros meios de fazer valer suas solicitações. Ela disse que vai procurar o Ministério Público (MP) e outros órgãos a fim de conseguir obter a documentação necessária para avançar na CPI.
Após a suspeita de racismo e misoginia do Governo Municipal com a vereadora Claudinha (PTB), a prefeitura enviou uma nota sobre o que ocorreu. “Caso Vossa Senhoria não tenha conhecimento, a querida e competente Secretária de Saúde do Município de São Pedro da Aldeia é negra, o competente Presidente do Instituto de Previdência é negro, a Subsecretária de Educação é negra, o Chefe de Gabinete é negro, dentre outros tantos servidores que dignamente dedicam seu tempo exercendo suas funções com carinho e dedicação”, justificou o prefeito Cláudio Chumbinho.
E ainda pediu explicações da vereadora “quanto aos motivos das rotineiras insinuações, lembrando que a inviolabilidade penal dos vereadores não pode constituir um motivo de inimputabilidade total ou mesmo o privilégio de uma irresponsabilidade pessoal absoluta como já decidiu o Supremo Tribunal Federal em diversas ocasiões”. Partindo dessa nota, a parlamentar teria o prazo legal de 24 horas para se justificar, sob crime de calúnia.
Em entrevista exclusiva ao Prensa de Babel, Claudinha revelou diversas questões sobre a sua luta com a causa negra. Confira:
Prensa: Por não responder as suas solicitações para a CPI, você acha que a prefeitura esteja sendo racista?
Claudinha: Não posso afirmar, mas questiono o poder público com essas ações.
Prensa: Não sei se você viu, mas na Alerj algumas parlamentares negras foram barradas. Alguma vez já aconteceu isso com você?
Claudinha: Não claramente. O preconceito velado é pior, porque ele fere e machuca.
Prensa: A sua principal frente é a do combate ao racismo?
Claudinha: A minha frente é a população que não é assistida.
Prensa: Voltando ao caso da Prefeitura. Eles soltaram uma resposta “temos negros nos cargos..”. Essa frase não seria o “não sou racista, mas..”?
Claudinha: Desde pequena sou militante do movimento negro e sou pós-graduada em cultura afro. Essa frase “temos negros nos cargos” faz parte do nosso debate constante, onde colocamos esses elementos na posição hierárquica e conseguimos perceber as justificativas do não sou racista.
Prensa: Você já presenciou alguma discriminação que você teve que intervir?
Claudinha: Várias vezes. Não me calo. Estamos no século XXI e esse comportamento é inaceitável.