Por Fábio Emecê
“Somos o que somos, cores e valores”, ideia básica do disco pouco compreendido do Racionais, de 2014, pode resumir o que foi o Arena Black no último dia 11. Uma apresentação desse porte em Cabo Frio e tudo o que o evento anunciava em oferecer não era certeza de cumprimento e foi o que aconteceu. O evento tava previsto para abrir os portões as 18 h, com apresentações de bandas locais (Quartz e Camaleão Nativo) e batalha de mcs. Os portões foram abertos as 23 h e uma consequência básica do atraso absurdo foi que as bandas locais não se apresentaram.
Trocando ideia com um integrante de umas bandas, ele bolado, disse que não deram maiores explicações sobre o atraso, fora que não tinha cachê e o alento foi um passaporte para o camarote. Pois bem, sou velho em reclamações sobre essas produções que não valorizam os artistas locais e passa batido.
Fora a mercantilização do espaço, com essa coisa de pista premium, pista comum e camarote. Sinceramente, acho estranho demais isso, mas estamos numa era que consumidor se acha cidadão e essas coisas apenas vão.
Um público jovem, seguindo as tendências do rap contemporâneo e seus valores, que beiram ao prazer e a ostentação, com ode a técnica e a lírica, ah, pra que, né? Prova cabal disso foi a abertura do evento que ficou a cabo do Class A. Sem maiores considerações sobre o show, to ficando velho.
Mesclado com a juventude, tinha uma galera cascuda, fã mesmo do Racionais de outros carnavais, fora os bicho soltos, até porque o Racionais, talvez seja o único grupo de rap no Brasil que dialoga, pro bem e pro mal, com todas as classes. Tava ali na brisa, junto com os mais novos, fazedores e admiradores rap daqui da região, ouvindo as impressões deles e observando o ambiente e o grupo de rap mais bem sucedido do Brasil começava a se arrumar no palco. Destaco toda uma equipe, desde do técnico de som ao tecladista, todo mundo bem afiado e ensaiado.
O show começa e clássicos como Negro Drama e Jesus Chorou, mesclado com sons do disco recente, Cores e Valores animam a galera. Houve uma invasão de invasão no palco quando rolava Dá ponte pra cá, mas devidamente contornada e despercebida. Nós, mais velhos, felizes, os mais novos eufóricos e ao final de uma hora e meia de apresentação, vemos os mais novos dizendo que foi o melhor show que eles já viram. Legado é legado, né, pai?
As possibilidades de construir uma ideia a partir de emancipação dos periféricos e pretos a partir da palavra é real com Racionais Mcs e há um diálogo, há uma identificação, de fato. E se afirma isso com esses versos:
“Ovelhas negras desde sempre acompanham a mim
A fase negra vem, era nóis tambem sim
Na linha pontilhada vou indo lindo indo
Na terra cuja o herói matou um milhão de indio
Pelas marginais os pretos agem como reis (reis)
Gostar de nóis tanto faz, tanto fez (fez)
Vou me degradar pra agradar vocês? (nunca)
Por que eu não falei eles pensam que eu não sei”
A Região ainda precisa evoluir pra promover evento do porte que, pelo menos, se propagandeou, mas máximo respeito hoje e sempre ao grupo que me fez adentrar na cultura Hip Hop com força e que moldou em ser o que sou hoje.
Sigamos…
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