A ARTE DO MIMETISMO CAMALEÔNICO NA POLÍTICA
Alguns políticos de Macaé, que chegaram a ser eleitos para os concorridos mandatos de deputado federal, acabaram perdendo total apoio popular em função da falta de coerência ideológica e partidária. Viraram casos clássicos.
O primeiro exemplo é Miriam Reid, deputada federal em duas legislaturas, mas que trocou tanto de partidos e ideais – com passagens pelo PSB, PMDB, PDT, PMN, PSC – que simplesmente desistiu da sua candidatura a prefeita em 2004 e sofreu amarga derrota para vereadora em 2008.
Outro exemplo de incoerência, em relação às lideranças políticas e às trocas de siglas, é Fred Kohler, com passagens pelo PPS, PMDB, PDT, PCdoB. Na mesma eleição para prefeito em que Miriam desistiu de concorrer (2004), Fred chegou a ter uma excelente votação (35.919 votos) perdendo apertado para Riverton (39.726 votos).De lá para cá ele, simplesmente, não conseguiu se reerguer na política macaense, chegando a receber uma vergonhosa nota de repúdio do PSOL, em 2012, no qual a executiva se manifestou com veemência:
“Cabe-nos informar que o mesmo tentou filiar-se ao partido e teve o seu pedido negado pela Direção Estadual, pois não possui histórico ou preenche o perfil ideológico e político coerente com o programa e os objetivos do PSOL. O cidadão que já esteve vinculado ao Governo Riverton e que nos últimos 3 anos pertenceu a diferentes partidos da ordem burguesa, como o PMDB de Cabral, Sarney, Michel Temer, e à época de Rosinha e Garotinho, e recentemente ao PDT (que nem de longe representa o progressismo do tempo de Brizola e hoje é um partido acessório do Governo Dilma, contra os trabalhadores), vem espalhando, com auxílio de seus aliados, que seria pré candidato do PSOL à prefeitura em Macaé sem sequer estar filiado!”
A que ponto chegamos! Essa introdução é para explicar um pouco a relação do eleitor macaense diante da trajetória política do nosso retratado de hoje nessa coluna “Perfis dos pré-candidatos a prefeito em Macaé”
André Longobardi –Tentando surfar na onda bolsonarista
Em 2006, André Longobardi andou apadrinhado pelo ex-governador Anthony Garotinho (outro que andou por muitos partidos (PT, PDT, PSB, PMDB, PRB, PRP, Patriota, PROS) que, na ocasião, era secretário de Governo de sua mulher Rosinha Garotinho, então governadora.
Em 2016, já no PR, verdade seja dita, foi o único candidato de oposição à reeleição de Aluízio Junior, que cumpriu com o compromisso acertado entre os demais candidatos de se unirem em torno do nome que tivesse mais força nas pesquisas: Igor Sardinha e Danilo Funke mantiveram suas candidaturas, mas André Longobardi recuou e apoiou o candidato de Riverton, Chico Machado, ganhando inclusive, pela fidelidade, a vaga de vice na chapa, mesmo sem nunca ter sido testado nas urnas, ou mostrado seu “peso” político na cidade.
Após ser derrotado nas eleições de 2016, foi trabalhar na área de Cerimonial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio. Aproximou-se do prefeito de Belfort Roxo, Waguinho (MDB), que este ano é candidato à reeleição unindo bolsonaristas e petistas numa ampla aliança. Em Macaé, André Longobardi chegou a pedir votos para a esposa do prefeito. a então candidata a deputada federal, depois eleita, Daniele do Waguinho (MDB), posando em santinhos ao lado de Julinho do Aeroporto, vereador cassado em Macaé, na semana passada.
Nascido em Santos/SP, mas considerado ‘cria’ de Macaé, estudou no tradicional Colégio São José, e é empresário no ramo de reparos navais.
Embora todas as expectativas do bolsonarismo macaense em 2018, tenham sido apostadas no candidato a deputado federal pelo PSL, delegado Felício Laterça, com a saída do presidente Bolsonaro do partido, e com o voto do deputado Laterça contra a indicação de Eduardo Bolsonaro (o 02) para ser embaixador nos EEUU, e a posterior demissão do ministro Sergio Moro, a referência de Laterça como bolsonarista raiz, perdeu toda sua força.
Em seguida, os filhos do presidente da República se filiaram ao REPUBLICANOS, partido do prefeito do Rio, Bispo Marcelo Crivella, ligado a Igreja Universal do Reino de Deus, do seu tio Bispo Edir Macedo.
Aparentemente, Longobardi talvez tenha visto aí uma excelente oportunidade para se posicionar no alto de uma onda (Bolsonaro teve 67,2% dos votos em Macaé em 2018) que poderia lhe levar ao podium nas próximas eleições. Talvez ele não tenha levado em conta a crescente desaprovação do governo do presidente, mas isso, também, parece ter se estabilizado, com os filhos, os ministros e Bolsonaro tendo recuado nas declarações polêmicas, fazendo a aprovação do governo voltar a crescer, não nos mesmos pataramares de 2018, mas acima dos 25% que chegou a atingir.
Mas os problemas não param por aí, o próprio presidente Bolsonaro que não conseguiu montar seu próprio partido o ALIANÇA, ao que parece, voltou a flertar com o PSL, assim como o PRB de Roberto Jefferson e Robson Oliveira, em Macaé.
A prática bolsonarista agressiva adotada, depois dessa última troca de partidos, por Longobardi tem lhe rendido polêmicas não muito favoráveis. Recentemente ele foi pivô de algumas situações delicadas,como a que é acusado, junto com o deputado Felipe Poubel, de depreciar os moradores do bairro Lagomar, um dos maiores polos eleitorais da cidade, classificando 10% dos seus moradores como “traficantes e bandidos”. É claro que a população desse bairro, formada fundamentalmente por trabalhadores, inclusive muitos em situação difícil, pela crescente crise e o desemprego – assim como o restante da cidade – não gostou dessa agressão. A indignação foi tão grande que a Câmara de Vereadores chegou a emitir uma carta de repúdio a Longobardi e Poubel.
Alea jacta est. A sorte está lançada. Terá o bolsonarismo macaense capacidade de transferir votos para André que já andou flertando com Garotinho quando ainda se dizia de esquerda, com Cabral no PMDB e agora com o presidente da República com seus rompantes?
Quem viver, verá.