Na luta para ocupar a cadeira de Doutor Aluizio, curiosamente teremos um pré-candidato que se diz o representante do presidente Bolsonaro, e outro, do vice-presidente, Hamilton Mourão
Opinião
Neste ano as eleições municipais tornarão Macaé um espaço interessante de disputa para uma turma que se diz defensora do bolsonarismo. No Legislativo e no Executivo. Na luta para ocupar a cadeira de Doutor Aluizio, curiosamente teremos um pré-candidato que se diz o representante do presidente Bolsonaro, e outro, do vice-presidente, Hamilton Mourão. São eles, respectivamente, os empresários André Longobardi, do Republicanos, e Ricardo Bichão, do PRTB. E ambos parecem seguir a linha dos seus políticos de referência: se Bichão mantém, pelo menos até agora, uma linha discreta, André Longobardi já saiu metendo os pés pelas mãos numa tentativa de “causar” nas redes sociais.
Em uma estratégia nitidamente eleitoral de tentar colar sua imagem à do “mito”, Longobardi trouxe a Macaé um dos mais faltosos deputados da Alerj para gravar um vídeo e cuspir ofensas e denúncias por aqui, o tal de Felipe Poubel, do PSL. O tiro, no entanto, saiu pela culatra: como todo seguidor de Bolsonaro, Poubel não conseguiu falar por mais de um minuto sem soltar alguma besteira. E ele ofendeu de maneira preconceituosa os moradores do Lagomar, um dos bairros mais populosos da cidade, e onde André Longobardi já foi várias vezes em busca de apoio. Ao dizer que 10% dos seus moradores seriam “traficantes e vagabundos”, o deputado com cara de mau (que soa como aqueles vilões de filmes de quinta categoria) deu um verdadeiro presente de grego ao seu anfitrião.
As regras básicas de sociabilidade dizem que somos responsáveis pelo amigo que levamos à casa de um terceiro, para um churrasco ou jantar. Se esse amigo bebe demais e comete alguma gafe, é esperado um pedido de desculpas de quem o levou aos “comes e bebes”. André deveria, no dia seguinte, ter se desculpado com os moradores do Lagomar. Algo até simples e comum na política. Mas um pré-candidato que está se esforçando para ser visto como bolsonarista, dificilmente pedirá desculpas aos moradores de um bairro popular. Até porque provavelmente ele deve concordar com as palavras de Poubel. Seu silêncio apenas confirmaria, portanto, a velha máxima de “quem cala, consente”.
A campanha eleitoral (legalmente) ainda nem começou, mas as chances de cenas e imagens bizarras como as da visita de Poubel se repetirem são enormes. A ausência de projetos para a cidade (e isso não é uma exclusividade de Macaé) leva certos pré-candidatos a tentarem alguma jogada que os coloque na boca do eleitor, no seu raio de visão. E na era das redes sociais isso se torna cada vez mais evidente. E reproduzindo a narrativa da necessidade de renovação, muitos aventureiros se apresentarão com soluções vagas para tudo. No Legislativo, por exemplo, alguns defenderão o Escola sem partido, outros, o combate a corrupção. Mas tornar a cidade um lugar melhor para todos, no entanto, não parece ser a preocupação dessa turma.
Paulo Henrique, é mestre em Ciências Sociais pela UERJ, professor de Sociologia da Rede Municipal de Macaé, palestrante e ativista de direitos humanos
Artigo de opinião