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“O candomblé é uma religião que celebra a vida” – Mãe Fernanda

 

Mãe Fernanda – Fotos de Ronald Pantoja

Doní Fernanda de Oyá, conhecida como Mãe Fernanda, recebeu em seu terreiro na equipe do Prensa, na semana em que se comemora a Festa de Iemanjá, no dia 02 de Fevereiro, no Brasil inteiro—e também em Búzios. No balneário, o dia da Orixá é comemorado nas areias da Praia de Manguinhos,em frente ao píer, a partir das 16 horas.

Fundadora e responsável pelo terreiro Kwe Ase de Oyá Nidan, localizado na Rasa, Mãe Fernanda e sua filha Yatemi Priscilla de Oxum nos contaram histórias e recordações do único terreiro de candomblé da cidade. Com 66 anos, Mãe Fernanda traz em sua história 23 anos de dedicação ao candomblé.

“Não sou brasileira, sou portuguesa.”, conta, relatando ter chegado ao Brasil com três anos de idade, acompanhada de sua mãe, após o seu pai preparar estadia para a família. Aos sete anos, conta, começou a ter problemas espirituais, e mesmo pertencendo a uma família de origem católica, com freiras e padres inclusive, não houve preconceito: “Eu não entendo porque aqui tem tanto preconceito. Eu tinha 10 anos, minha mãe não entendia nada, as amigas diziam que ela tinha que me levar ao espiritismo e ela me levou, foi maravilhosa comigo. Iniciei então no Kardecismo, onde fiquei até os 20 anos”.

“Foi-me dito que eu teria uma missão muito grande e então fui pra Umbanda, onde fiquei até aos 23 anos. Cheguei a ser Babá de Umbanda, mas não adiantou. Comecei a ter problemas de santo e de saúde. O médico perguntou a minha religião e me mandou correr atrás disso, porque não tinha explicação. Conversei com o pai de santo, expliquei a minha situação a ele. Ele já tinha feito tudo, então fui procurar uma Casa de Nação (do candomblé).

Ainda no Rio de Janeiro, se tornou filha de santo de Celso do Ogum, em Rocha Miranda, mas este faleceu um ano e meio depois. “Tinha dada a minha obrigação de um ano. Na minha feitura ele já sabia, minha mãe Oyá disse que teria de me preparar, que eu seria herdeira do seu Axé.”.

A família espiritual, conta, não entendia porque uma pessoa tão jovem, e que não era da família dele, estava recebendo essa missão, não entendiam porque a Dona Fernanda fora escolhida: “Ogum, que era seu pai e minha navalha, fechou a casa, e todos aqueles que manipularam, acabaram por partir. Após a morte do Pai Celso, e minha mãe Oyá me deu condições de que, quando meus filhos vieram pra cá (Búzios), já tivesse tudo aqui dentro”, conta Mãe Fernanda.

 

“Mas era a vontade dos Orixás e um ano depois eu abri minha casa aqui em Búzios. Ela (Priscilla) foi a primeira filha de Santo, não posso ser a navalha da minha própria filha carnal, então, outra pessoa fez a iniciação dela.  Foram muitos  barcos (pessoas) que já iniciamos aqui. Chegamos a dar nove obrigações de uma vez aqui”, relembra, explicando que no seu terreiro não há dias marcados para as atividades, sempre realizando ebós e  limpezas, atendendo a pessoas que chegam com problemas.

Mãe Fernanda também joga Búzios, para ter a comunicação com Horum (o mundo espiritual). Sobre sua mãe, a Orixá que é dona de sua cabeça, Oyá, ela explica: “Ela é vento, é brisa, é um furacão, mas também é uma borboleta batendo as asas.”

Tolerância e respeito

Pedras que foram jogadas no telhado do barracão são guardadas como lembrança

Sua convivência com os moradores do bairro e da cidade sempre foi pacífica, até mesmo com representantes de outras religiões, mas no ano passado um incidente trouxe tristeza e espanto, durante a realização de uma festa. “Tinham muitos carros e pessoas, estávamos limpando o barracão, era uma função. Caíram duas pedras grandes aqui (aponta o local), tinham crianças de quatro anos no momento, e a sensação era de tiros. Quando corremos pra ver, tinha essa pedra (aponta uma pedra enorme) em cima do muro. Fomos à Polícia, porque gerou crime. Eu sempre fui muito bem tratada aqui na cidade. Eu sou madrinha da ordenação de um padre da Igreja Católica Brasileira, é um afilhado maravilhoso. Ele me pede a benção, e eu peço a ele”, lamenta Mãe Fernanda.

O Candomblé tem mais regras, explica, mas é uma religião suave.  Não há um trabalho social formado, mas os membros se empenham de diferentes formas para ajudar a comunidade ou pessoas necessitadas. “Pessoas de outras religiões vem muito aqui. Mesmo evangélicos, e até budistas. Porque há coisas que só o candomblé resolve. Uma vez sofri preconceito por ser branca em um congresso no Cine Bardot, centro de Búzios. Uma pessoa me questionou que por ser portuguesa, branca, não poderia representar o candomblé. Eu até chorei”.

“Aqui na cidade há muitas outras religiões, e todas que não sejam as duas principais religiões cristãs sofrem preconceito. Contribuímos com a sociedade porque ajudamos ao ser humano em diferentes questões. O candomblé é uma religião de vida, pra que as pessoas fiquem bem nessa vida. O Kardecismo cuida da morte, são especialistas no estudo da vida após a morte. O candomblé não é uma celebração da vida.”, pontua.

Orixá não faz diferença de gênero

Oyá, a orixá dona do terreiro e da cabeça de mãe Fernanda

“Orixá não faz diferença de gênero. Deus nos formou seres-humanos, como os primeiros criados. Temos um filho de santo aqui, e ele é hermafrodita. Quando ele chegou à casa eu perguntei ,meu filho, o que você é? Como você quer ser tratado? Ele me disse que era homem, e é assim que ele é tratado e amado. A pessoa tem que ser feliz na vida, ele era triste. Ele aqui é aceito como ele é, e é feliz. Quando estava fazendo sua iniciação aqui ele tinha muito medo que eu morresse, porque antes os outros pais de santo que começaram a cuidar dele morreram. E foi o orixá, um tranca rua, que mandou ele aqui.  Ele nasceu assim, é uma missão acolher as pessoas como ele são”, Defende Dona Fernanda e finaliza: “A sociedade é incapaz de compreender as diferenças, deixem as pessoas serem felizes.”.

Sacrifício de animais

Os sacrifícios de animais, por exemplo, são rituais muito antigos, e praticados por diversas religiões ao longo da história. Jesus Cristo prestou sacrifícios, de cordeiros. A religião judaica realizava sacrifícios.”, explica, colocando ainda que os animais sacrificados em seu terreiro são doados e servem de alimento, nada é desperdiçado.

“O animal aqui é criado com todo carinho e as pessoas são preparadas para realizar o sacrifício sem sofrimento para o animal. O egé (sangue) é vida. Às vezes precisa de egé pra salvar a pessoa, é como uma transfusão de sangue. Se bate até cabeça pro anima aqui”, revela.

 

A Festa de Iemanjá

Priscila a herdeira do axé do  Kwe Ase de Oyá Nidan,com Mãe Fernanda

Sobre a primeira festa de Iemanjá na cidade, Mãe Fernanda explica que contou com a ajuda de uma filha (prima carnal) que morou na Bahia muitos anos, filha de Iemanjá: “O Orixá me avisou que ela iria morrer, e eu não poderia falar isso pra família, as pessoas iam ficar sofrendo. Ele me disse que ela tinha uma missão, que era iniciar a festa de Iemanjá.

Fiz tudo, mesmo sabendo o que iria acontecer, cumpri minha missão com ela e ela com a Casa. Ela sabia fazer as contas, calcular as luas, e assim soubemos a hora certa que tínhamos que fazer a oferenda.”, conta. “Tenho até a foto. No dia só tínhamos um balaio, eram apenas sete pessoas. Fomos lá e entregamos. E a festa vem crescendo todos os anos. A missão dela era iniciar essa festa. Porque ela era de Iemanjá. Agora é como se ela estivesse sempre aqui com a gente. O Hamber (Secretário de Meio Ambiente e Pesca) sempre ajudou muito também, gostamos muito dele. É um grande amigo”.

A filha que auxiliou Mãe Fernanda a iniciar a festa na cidade acabou falecendo um ano depois. Hoje uma das filhas de Iemanjá do terreiro é a ativista, muito conhecida em Búzios, Sirlei.

 

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