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Cidades

Expedição até a árvore mãe do bosque de Pau-Brasil em Búzios

Grupo formado por membros do Instituto Ecológico Búzios Mata Atlântica e do jornal Prensa de Babel utilizam livro do biólogo Janis Roze para chegar à arvore de Pau-Brasil, considerada mãe da maior parte das mais de 500 mudas espalhadas na APA do Pau Brasil, após 10 anos do fim do estudo
A "Grande Mãe" tem cerca de 70 centímetros de diameteos e 11 metros de altura - Todas as fotos Matheus Coutinho
A "Grande Mãe" tem cerca de 70 centímetros de diameteos e 11 metros de altura - Todas as fotos Matheus Coutinho

Há dez anos eram concluídos os estudos realizados pelos biólogos, Janis Roze e Amanda Bernal, na floresta entre a Praia de José Gonçalves e Caravelas, em Búzios, Região dos Lagos do Rio de Janeiro. No local foram catalogados mais de 500 árvores, jovens e adultas, de Pau Brasil. A descoberta se deu em 1998, no entanto, os estudos metódicos só começaram em 2002 e, com a colaboração de voluntários de todo o mundo, se estenderam até julho de 2012. O casal de cientistas, à época, ambos professores na Universidade de Nova York, e desde a Eco 92 visitando o Brasil para longas temporadas, a princípio, catalogavam plantas medicinais quando identificaram as mudas da árvore que dá nome ao país. No dia 9 de julho, representantes do Instituto Ecológico Búzios Mata Atlântica (IEBMA) e repórteres da Prensa foram em busca da grande mãe das árvores de Pau-Brasil em Búzios, utilizando as coordenadas do estudo, finalizado como documento em 2017 e editado em livro, pelo IEBMA, em outubro de 2021. A árvore está lá e cumprindo seu papel.

Apenas as informações do estudo e o conhecimento do guia foram utilizados para acessar a Grande Mãe / foto Matheus Coutinho

O documento, que em livro ganhou o nome de “Estudo Ecológico do Pau Brasil Búzios”, foi o principal instrumento para chegar ao local dentro dos mais de 11 mil hectares de Mata Atlântica preservada em Búzios, e parte do município de Cabo Frio, além do pequeno grupo contar com a experiência de Daniel Lopes, guia local e membro do IEBMA. Também participaram da expedição, o fundador do instituto, Hugo Iurcovich, e os repórteres Victor Viana e Matheus Coutinho. O objetivo era chegar, sem ajuda de aparelhos. O primeiro passo foi seguir pela trilha aberta, utilizada por ciclistas, em direção a parte leste da floresta, mata fechada, onde os estudos se dividiram em duas áreas denominadas de G1 e G2. Sobre as duas áreas, os biólogos descreveram que tanto o crescimento quanto a distribuição do Pau-Brasil estão ocorrendo em um ambiente ecologicamente favorável.

A equipe ao se embrenhar na mata, perdendo-se em alguns momentos, pode observar animais silvestres raros, como a Preguiça de Coleira, e plantas endêmicas como bromélias e orquídeas baunilha, e ainda constatar que em uma das áreas há a presença de aglomerados maiores e quase contínuos de Pau-Brasil maduro e muitas árvores jovens que podem ser observadas a pouca distância das árvores mãe. O livro cita uma área com três arvores consideradas mães, sendo uma delas destacada pelo tamanho e altura, e a principal responsável pela dispersão de sementes que deram origem a centenas de mudas nascendo e crescendo naturalmente, sem esforço humano, nesta região desde a década de 1970.

Observando as indicações do livro, chegando primeiro à área repleta de árvores de Pau-Brasil menores, muitas ainda tendo as etiquetas de catalogação colocadas há uma década, e ainda alguns piquetes no chão, onde haviam mudas e agora pequenas árvores, a expedição chegou até as três árvores citadas, e a grande mãe. Registros históricos citam que exemplares dessa espécie alcançaram até 30 metros de altura no passado, mas atualmente, as árvores remanescentes podem ser encontradas com 8 até 12 metros de altura, e com tronco de 40 a 70 centímetros de diâmetro, a “Grande Mãe” de Búzios tem essas características atuais.

Daniel Lopes foi o guia da aventura. Na foto observa o tamanho da Grande Mãe de Pau Brasil / Foto Matheus Coutinho

Janis e Amanda abordam que as árvores encontraram condições favoráveis para se desenvolver nesta floresta devido a áreas de sombreamento parceladas, já observada por outros estudiosos como favorável para o crescimento do Pau-Brasil. Isso também pode ser observado nas áreas mais aberta, onde o desenvolvimento das árvores realmente aparenta ter sido menor. As características do solo também foram analisadas pelos biólogos, e, de acordo com o estudo, há ao redor das árvores mães, em especial da grande mãe, uma diferença significativa na quantidade de potássio, mais areia e menos argila, e uma retenção favorável de umidade para essa e outras espécies que crescem ao redor.

A Região dos Lagos é conhecida pela pouca oferta de água doce, tanto que para a garantia de água potável a polução crescente, há 24 anos, ficou sob responsabilidade da Prolagos, por meio de um consórcio entre municípios, suprir essa demanda. De acordo com a concessionária, já teriam sido realizados investimentos de mais de R$1,4 bilhão, triplicando o fornecimento de água potável, passando de 30% para 98% desde então.

Búzios está entre os municípios mais áridos dessa região, sem rios, havendo apenas a incidência de pequenos córregos, alguns de formação temporária, existindo em períodos de chuva, ainda assim considerados baixos (cerca de 770 mm, em média ao ano), e sumindo em época de estio. No município muitos desses córregos já não existem mais por conta do desmatamento, uma primeira leva há cerca de 60 anos para a tentativa fracassada de inserção de agricultura e pecuária, e, posteriormente, em especial nos últimos 25 anos, devido a especulação imobiliária.

A sobrevivência da floresta, tanto flora como fauna, dependem de lagoas, que hoje só não estão secas por conta de um trabalho exemplar de parceria entre o IEBMA, a Associação Civil Village Praia das Caravelas (ACVPC) e o Hotel Apa do Pau Brasil, que mantém uma estação de tratamento, que há dois anos, é também uma estação de agua de reuso, e assim alimenta essas lagoas de grande importância, em especial, para os animais. Mas também as 30 espécies de bromélias, que retém água e servem de fonte de água para os animais em tempo de seca, em especial o mico leão dourado e o bicho preguiça, fazem sua parte. No entanto, foi encontrado algo que surpreendeu a todos; um córrego próximo a grande mãe.

Na primeira foto membros da expedição observam, pela primeira vez em 20 anos, a “Lagoa Encantada” sem água. Na segunda foto um córrego, que contorna as três principais árvores mães de Pau Brasil, em 2002 e que, mesmo após meses se chuva, se mantém com água corrente. Próxima expedição visa encontrar a nascente ou origem do mesmo / foto Matheus Coutinho

Janis e Amanda citam, nas coordenadas sobre a localização desta árvore, que, já em 1998, um barranco, ou um leito seco de um antigo córrego, foi encontrado nas proximidades da árvore, e que em 2007 tinha água com cerca de 25cm de profundidade. Nos anos subsequentes até o fim do estudo foi encontrado sempre seco. Desta vez, com cerca de três meses sem chuvas significantes, identificamos que a “lagoa encantada”, com cerca de 1, 60 metros de profundidade, e que faz parte do roteiro do programa de turismo ecológico do Hotel Apa do Pau Brasil, empreendimento que dá suporte ao IEBMA e a ACVPC no trabalho voluntário de preservação da reserva, estava completamente seca.

“Trago turistas, de forma controlada, aqui há anos. É a primeira vez que vejo essa lagoa seca. ”, comenta nosso guia, Daniel.

No entanto, o córrego, citado pelos biólogos como tendo sido encontrado com água apenas uma vez naqueles dez anos, hoje tem água, cerca de 80cm de profundidade, em alguns pontos corrente, e com a presença de pequeninos peixes e camarões, em meio em um dos maiores estios que o município já presenciou no inverno. Isso pode indicar que a preservação desta floresta, tornada Área de Preservação Ambiental (APA) em 2002 por decreto estadual, está funcionando e, talvez, revertendo-se o processo de desertificação. Ponto a ser investigado em uma próxima expedição e que pode apontar um caminho de maior atenção a essa área de gigantesca importância para Búzios e região, visto o acelerado processo de urbanização proposto para o entorno.

“Há mais de 30 anos moro aqui nas Caravelas, e há 25, fundamos o Instituto com o objetivo de organizar a preservação do local, na maior parte do tempo com recursos próprios. Janis e Amanda sempre foram valorosos apoiadores e, assim como fazem por onde passam, dedicaram seu talento, capacidade e tempo, de forma altruísta, como é a característica dessas duas figuras notáveis”, afirma Hugo.

Janis, hoje com 96 anos, esteve em Búzios em outubro de 2021 para lançamento deste livro, em evento organizado pelo IEBMA, sendo, inclusive, homenageado como título de cidadão buziano e encontro na Secretaria de Cultura do município, e pode recontar a aventura. Na década de 1990 a situação do Pau-Brasil era assustadora, o risco de tornar-se extinta era eminente, mas começou a haver reação; em 2004 essa espécie entrou oficialmente na lista de árvores ameaçadas de extinção. Hoje, o pau-brasil encontra-se protegido por lei e não pode ser cortado comercializado, e muitas iniciativas de replantio começaram. Em Búzios há uma joia, uma população de Pau Brasil. E há também um recado da natureza, que diz, como afirmou Janis ao plantar uma muda desta árvore no jardim da Casa de Cultura Zanine, no centro de Búzios: “Essa árvore hoje planta o futuro”.

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