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Baluartes, a mitologia sombria do Brasil Colônia

Genocídio dos índios Goitacazes é parte do enredo de novo livro de terror

Jornalista e pesquisador da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), o escritor Clinton Davisson, lançou esta semana o romance de terror usando o folclore nacional, fatos e personagens históricos. A trama se passa no Brasil Colônia do Século XVIII e aborda eventos históricos como o genocídio dos indígenas Goitacazes no norte fluminense ocorrido há mais de 200 anos. O livro demandou 12 anos de pesquisa e mistura precisão histórica, terror e pitadas de humor.

Depois de morar em Macaé, Rio das Ostras e Maricá, por mais de 15 anos, o escritor ficou fascinado pela história dos indígenas Goitacazes que viveram na região por vários anos e foram chacinados no final do século XVIII. Depois de mais de 12 anos de pesquisa, o autor lançou pela Editora AVEC o livro Baluartes – Terra Sombria, uma mistura de terror e aventura histórica usando personagens folclóricos brasileiros, como o Curupira e a Cuca. Personagens históricos como Tiradentes também interagem com os protagonistas.

Na história, três jovens, um estudante português, um príncipe africano e uma indígena brasileira, cada um de uma etnia que formou a identidade brasileira, são convocados por uma misteriosa sociedade secreta, os Baluartes, para irem até o Brasil Colônia de 1780 para investigar casos de seres da mitologia brasileira como o Saci, o Boitatá, o Caipora, a Mula sem cabeça e descobrem que é tudo verdade.

Dentro deste contexto, o autor ainda usa fatos históricos como pano de fundo. “Neste primeiro livro também temos personagens históricos europeus. Quando são convocados ainda na Europa, os jovens se deparam com um jovem (10 anos) Napoleão Bonaparte e conversas deixam claro a eclosão da revolução francesa. O famoso músico, Wolfgang Amadeus Mozart, também participa ativamente de uma aventura em um castelo assombrado na Itália. Já no Brasil, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o famoso Tiradentes, também participa da história”, conta o autor.

O genocídio da etnia dos Goitacazes é o pano de fundo da história de uma das protagonistas, a indígena Tŝahi que tem sua aldeia dizimada e precisa trocar o nome para Jaciara, da etnia Tupi, e até fugir para a Europa para poder sobreviver. “A pesquisa foi importante para ter precisão histórica e geográfica. Não queria colocar Tiradentes com a idade errada e no lugar errado. Entretanto, tudo isso é apenas um pano de fundo para poder contar uma boa história de aventura e terror envolvendo personagens interessantes. Também tem boas pitadas de humor”, explica Clinton.

Clinton Davisson

De acordo com o escritor norte-americano, Christopher Kastensmidt, finalista do prêmio Nébula por seu trabalho literário que levou o folclore brasileiro a fazer sucesso nos EUA, o livro de Clinton Davisson tem muito a dizer, tanto sobre o passado quanto para o atual momento histórico. “Com habilidade, o autor nos conta a história da origem e formação do trio improvável de Tŝahi, Akim e Luís, três “titãs” caçadores de monstros no melhor estilo Van Helsing ou Geralt de Rivia. Os caçadores de monstros são os grandes heróis que nós precisamos, os nossos escudos contra os monstros nascidos dos nossos medos mais profundos, para nos poupar da necessidade de enfrentá-los sozinhos. Neste momento que o nosso mundo fica tão dividido entre “nós” e “eles”, é bom que ainda possamos imaginar um mundo onde trabalhamos juntos para vencer os monstros que enfrentamos todos os dias. Que este passado fantástico vire o nosso futuro”, afirma.

Cultura indígena em foco

Jornalista por formação, mestre em comunicação, o escritor Clinton Davisson teve que estudar a língua Tupi para seu primeiro livro de sucesso, Hegemonia – O Herdeiro de Basten, de 2007. Já para Baluartes, além de estudar outras línguas indígenas, o autor contou com a ajuda da antropóloga, Eliana Granado, e da historiadora e diretora do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes, Graziela Escocard, para conseguir entender melhor a cultura e a língua dos Goytacazes que foram extintos através de genocídio no século XVIII. O livro, entretanto, só ficou pronto depois que o autor foi trabalhar como jornalista e pesquisador da Secretaria de Saúde indígena (SESAI), do Ministério da Saúde. Lá, teve contato com diversos indígenas, inclusive como colegas de trabalho. “É muito importante para a SESAI ter um escritor de reconhecimento internacional escrevendo sobre a cultura indígena. Acho que deveria ter mais apoio para este tipo de iniciativa porque está divulgando uma imagem positiva e realista dos povos originários”, conta o psicólogo da SESAI, Marcos Pádua, indígena da etnia Atikum.

A enfermeira, Claudia Vieira, da etnia Potiguara, também funcionária da SESAI, ajudou o autor com detalhes sobre a personalidade da personagem Tŝahi. “Eu cresci na comunidade indígena, aprendi a caçar, pescar, tirar o couro de animais, usar o poder curativo das plantas e diversos elementos da cultura Potiguara. O Clinton ficava me perguntando tudo sobre assunto porque queria escrever algo que respeitasse a cultura indígena. Tenho muito orgulho do trabalho dele”, afirma.

Série para Streaming

Mesmo antes do livro ser terminado, a história dos três jovens que atuam como investigadores da mitologia brasileira no Brasil Colonial atraiu a atenção de produtoras cinematográficas. De acordo com o diretor Helvécio Parente, da produtora Escaravelho Produções, o potencial do livro é grande e visa suprir um mercado que está carente no Brasil. “Vimos como a série Cidade Invisível causou impacto e gerou muitos fãs. O trabalho de Clinton tem um potencial grande porque, além de utilizar os personagens da mitologia brasileira, existe uma questão pesquisa histórica e a discussão de temas importantes como o racismo, a escravidão e o genocídio de indígenas”, explica. O projeto está em fase de captação de recursos e deve envolver outras produtoras brasileiras. O objetivo é criar o piloto de uma série para streaming.

O livro pode ser adquirido no site da editora

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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