Em Armação dos Búzios, a polarização está em alta, mas não se tratam de grupos antagônicos buscando o predomínio da narrativa política. Desde que foram anunciadas, as obras de revitalização do Centro puseram em lados opostos defensores dos tradicionais paralepípedos e os entusiastas dos blocos intertravados. Mas se a Prefeitura bateu o martelo, definindo pela utilização do piso plano, conforme declarou o secretário de Obras e Projetos, Miguel Pereira, de forma exclusiva para a Prensa, há quem sugira uma terceira via, que intercale os dois tipos de superfície.
Não se trata de uma opinião qualquer, pelo contrário. Referência na área de Urbanismo e criador do famoso “estilo Búzios”, o arquiteto Octavio Raja Gabaglia botou régua e compasso no meio da polêmica, e defendeu a utilização mesclada e harmônica de paralelos e blocos. Sem rechaçar qualquer uma das opções, Octavinho acredita que outros fatores de acessibilidade devem ser considerados, independentemente da simples escolha por um ou outro tipo de piso.
“Nas ruas em que as calçadas forem niveladas, o mesmo nível deve ser exclusivo ou, pelo menos, preferencialmente para pedestres. O risco de essas ruas se tornarem estacionamentos é real. Portanto, é necessário que uma parte das ruas mantenha as calçadas em um nível acima da rua. E essas ruas, para manter sua singularidade e charme, devem continuar com o uso de paralelepípedos”, explicou, que prosseguiu.
“São elas a Manoel José Carvalho (Celso Terra), que é uma via de penetração 1 (que pode ir até a faixa do McDonald’s e além, se desejarem, também podem utilizar intertravado); e a Travessa dos Pescadores (Búzios Internacional até o píer), outra via de penetração, que são as entradas inevitáveis para o fluxo do trânsito e que precisarão de uma via de ligação entre elas. Obviamente, não pode ser a Rua das Pedras, e também não seria inteligente que fosse a Turíbio de Farias. Essa via de ligação poderia ser a Cezar Augusto, a Rua do Café Porteno, que também seria preferencial para o trânsito de carros, permitindo a requalificação das calçadas”, conclui.
O arquiteto e urbanista observa ainda que as vias para carros precisam área de parada para carga e descarga em locais estratégicos, a fim de de facilitar o escoamento da carga por meio de carrinhos ou outros meios de transporte menores para os destinos adequados.
“Aproveitando a oportunidade das obras, também é possível realizar outras intervenções que tornem o centro novamente atrativo para passeios, como ocorreu com o Porto da Barra. Dessa forma, estaremos prevenindo em vez de remediar, e já estabelecendo um caminho organizado para o futuro. Acredito que isso seja a melhor maneira de mesclar o uso de intertravado com o paralelepípedo, contemplando a ideia da acessibilidade de forma funcional”, emenda.
Octavio disse ainda para a reportagem que o projeto deve resolver todas as questões referentes ao esgoto, para não haver necessidade de quebra-quebra no futuro, bem como levar em conta a necessidade de deixar adiantado um eventual canal de passagem para fiação subterrânea.
As ruas previstas no projeto da Prefeitura
As ruas passarão a ser de piso intertravado e todas niveladas, para garantir a acessibilidade. Os paralelepípedos retirados serão reaproveitados em outros locais. As ruas contempladas serão Manoel José Carvalho, César Augusto São Luís, Rui Barbosa, Luís Joaquim Pereira, Felipe Gustavo, Travessa Lúcio Quintanilha, Germiniano José Luís, Travessa Oscar Lopes Campos e Travessa dos Pescadores.
Em entrevista publicada no último sábado, o secretário de Obras e Projetos, Miguel Pereira, defendeu o uso de intertravado, alegando ser de preferência da maioria da população.
“Na nossa ideia, é tudo intertravado. Para as pessoas se locomoverem é outra coisa. Você vai com carrinho de bebê, as tem as senhoras. Nós não vamos mexer na Rua das Pedras, vai ficar como está. A Turibio de Farias, por enquanto, também não. Se for olhar, o paralelo está todo irregular. E não tem como fazer sem mexer no que está por baixo. Não adianta apenas trocar esse paralelo, você vai fazer maquiagem. A gente não está pensando na superfície, mas também no que tem por baixo. Algumas ruas vão dar trabalho, que a gente já sabe”, declarou, na ocasião.