Enquanto se discute os riscos da Inteligência Artificial (AI) na extinção de cargos de trabalho em nível global – estima-se uma queda de 300 milhões de vagas em dez anos, segundo estudo da Goldman Sachs –, especialistas apontam para os benefícios da tecnologia na empregabilidade de pessoas com deficiência (PcD).
De acordo com informações do Harvard Business Review, pelo menos 386 milhões de pessoas em idade ativa contam com algum tipo de deficiência; em alguns países, apesar da persistente escassez de mão de obra, o desemprego entre PcD chega a 80%.
Segundo Laurie Henneborn, diretora administrativa da Accenture Research e autora do artigo, a IA generativa pode ajudar os indivíduos a encontrar empregos e ter um bom desempenho em funções que não poderiam ser ocupadas sem a tecnologia. “Na minha própria experiência, vivendo com esclerose múltipla, já posso ver o potencial que um ‘copiloto’ poderia oferecer àqueles de nós que trabalham e vivem com deficiência – seja para encontrar e garantir empregos, fornecer informações para nos ajudar a interpretar situações com mais precisão ou oferecendo orientação enquanto participamos de diversas tarefas que envolvem linguagem”, escreveu Hanneborn.
Uma das formas que os sistemas alimentados por IA podem ajudar a remover barreiras ao emprego de PcD é proporcionando novas oportunidades de trabalho remoto. Assistentes virtuais e chatbots podem ser usados, por exemplo, para ajudar funcionários com deficiência a utilizar mais facilmente tecnologias como videoconferências e software de gestão de projetos.
Especialista em automação residencial, o brasileiro Roney Vanucci, CEO da Interactive Home Automation, com sede nos Estados Unidos, fala como a IA pode colaborar no controle de tarefas por meio de voz e gestos. “A tecnologia permite que pessoas com necessidades especiais possam romper barreiras físicas na hora de se alimentar, ir ao banheiro ou se medicar, dando a elas mais autonomia e, consequentemente, mais chance de empregabilidade”, disse. “Além disso, as ferramentas de agendamento e gerenciamento de tempo baseadas em IA podem ser usadas para ajudar pessoas com deficiência a executar seu trabalho com mais facilidade, reduzindo o stress e melhorando a produtividade”, afirma.
Enquanto a IA ameaça funções mecânicas e processuais, o futuro do mercado de trabalho mira na valorização de habilidades humanas como empatia, pensamento crítico e criatividade. “Essa colaboração entre humanos e máquinas tem o poder de abrir portas para uma inovação sem precedentes, beneficiando diversos setores e promovendo melhorias substanciais. A chave para abraçar essa evolução reside na compreensão de que a Inteligência Artificial é uma aliada, uma ferramenta que impulsiona o crescimento humano e inaugura uma era de trabalho mais humanizada do que nunca”, analisa Sandra Maura, CEO da TopMind.
No Brasil, um levantamento do IBGE divulgado em 2021 aponta que 8,4% da população (17,3 milhões de pessoas) têm algum tipo de deficiência. Entre elas, apenas 28,3% estavam empregadas no momento da pesquisa.