A tese de que a pobreza é a causa da criminalidade, ou do aumento da violência, é contestada veementemente por um dos maiores especialistas em violência urbana do mundo, o professor da UFRJ, Dr Michel Misse.
Para Misse, os que acreditam nesta tese se prendem a algumas estatísticas oficiais que induzem a fazer uma “correlação causal direta entre indicadores de pobreza e criminalidade“. Para fundamentar suas posições contrárias à tese, Misse apresenta três argumentos de outros sociólogos:
- a) Se a pobreza causasse o crime, a maioria dos pobres seria criminosa, e não é. Portanto, a pobreza, por si mesma, não explica coisa alguma;
- b) Se a maioria dos presos é composta por pobres, negros e desocupados é porque a polícia os associa com a criminalidade;
- c) Nas pesquisas a maioria esmagadora dos pobres declara que não se identifica com qualquer carreira criminal;
Misse considera fundamental identificar os preconceitos da polícia e da justiça, que prende os criminosos pobres e deixam os criminosos ricos livres. Em sua opinião, “crime” não seria um privilégio de classes, posto que as estatísticas reais comprovam que não há nenhuma correlação entre pobreza e criminalidade.
Misse argumenta ainda sobre a necessidade de combater a seletividade de certos tipos de crime que é feita pela mídia e pela percepção social para representar a criminalidade urbana, o que induziria as pessoas a associar pobres com crimes.
Para Misse, o crime organizado, vital para compreendermos a escalada da violência urbana no Brasil, tem sua origem na década de 70. De lá para cá, graças a participação e cumplicidade de agentes do Estado, o crime organizado veio apenas se enraizando, produzindo o que ele chama de “acúmulo histórico” de força e expansão.