A vereadora Cris Lopes (Republicanos) relatou à Prensa de Babel ter sentido “medo real” após sofrer agressões verbais e intimidação ao deixar uma sessão da Câmara Municipal de Armação dos Búzios, na Região dos Lagos. O episódio foi registrado na 127ª Delegacia de Polícia (127ª DP) e está em apuração pela Polícia Civil. Em conversa, que durou cerca de 20 minutos com a reportagem da Prensa de Babel, a parlamentar apresentou a versão dela sobre o episódio de agressão e intimidação sofrido após uma sessão da Câmara Municipal de Armação dos Búzios, na Região dos Lagos.
O episódio ocorreu após o encerramento dos trabalhos legislativos, quando a parlamentar seguia pelo corredor do prédio e, em seguida, até o estacionamento. Segundo o relato, a situação foi testemunhada por assessores, outros vereadores e pessoas que acompanhavam a sessão.
Em entrevista, Cris Lopes afirmou que não consegue compreender por que foi escolhida como alvo da agressividade, já que outros parlamentares haviam passado pelo mesmo local momentos antes. “Outros vereadores passaram pelo mesmo corredor, e mesmo assim ele escolheu ser violento comigo”, relatou.
A vereadora disse que nunca havia visto o homem antes e que não sabia quem ele era. Segundo ela, o agressor acompanhava a sessão para fazer cobranças relacionadas a um acidente envolvendo o pai, que teria caído em um buraco, e buscava responsabilizar tanto a Prefeitura quanto os vereadores. De acordo com a parlamentar, a pauta apresentada por ele não teria recebido atenção do poder público.
A vereadora relatou que o homem reclamava, durante a sessão, por ter sido bloqueado pelo vereador Felipe Lopes em uma rede social. Segundo o relato dela, o agressor gritava e demonstrava forte alteração emocional. Ainda segundo Cris, ela tentou conversar com o homem para entender a situação e avaliar se poderia ajudar, mas ele não demonstrou abertura ao diálogo. “Eu não fiz nada para ele. Não tinha por que ser agressivo comigo”, afirmou. Ao perceber o estado em que ele se encontrava, Cris decidiu se afastar por segurança. “Quando comecei a falar, vi que ele estava completamente alterado. Pensei que não era seguro permanecer ali”, disse.
Questionada sobre o episódio no contexto de seu mandato recém-iniciado e da baixa representatividade feminina na Câmara, a vereadora classificou a agressão como um ato de covardia. Para ela, o comportamento teve um recorte de gênero, já que a hostilidade não se repetiu quando um homem de porte físico maior se aproximou para afastar o agressor do local.
A verreadora registrou boletim de ocorrência na delegacia, onde o caso foi enquadrado como desacato e violência verbal. Segundo a parlamentar, embora o registro não tenha sido formalmente classificado como violência política de gênero, ela entende que o episódio se enquadra nesse contexto. “Ele já estava alterado antes e acabou descarregando em mim”, afirmou.
Durante a conversa o esposo da vereadora, o professor Daniel, também se manifestou. Segundo ele, Cris segue abalada e preocupada com a própria segurança, inclusive em compromissos religiosos. De acordo com Daniel, a agressão não cessou com o registro da ocorrência e passou a se manifestar também nas redes sociais, por meio de ataques virtuais e grupos que continuam direcionando ofensas à parlamentar.
Daniel relatou ainda que outras mulheres que acompanharam o episódio ficaram visivelmente assustadas, incluindo servidoras públicas com décadas de atuação. Para ele, o caso evidencia como situações de intimidação impactam de forma mais profunda as mulheres e contribuem para o silenciamento. “Se uma vereadora, pastora e liderança pública, com respaldo institucional, já se sente assim, imagina uma mulher que não tem ninguém por ela”, afirmou.
O professor destacou que nenhuma provocação ou discordância justifica agressão ou desrespeito a uma mulher. Segundo ele, o agressor chegou a dirigir ofensas também a outras mulheres e a um adolescente, o que levou familiares a cogitarem o registro de ocorrência por ameaça contra o menor.
Questionado sobre a relação entre esse tipo de violência e posicionamentos políticos, Daniel afirmou que se trata de uma pauta que ultrapassa divisões ideológicas. Para ele, a violência contra a mulher não é um tema de direita, esquerda ou centro, mas uma questão estrutural que precisa ser enfrentada de forma ampla, com mais mulheres ocupando espaços de poder e decisão.
Apesar do abalo emocional, o casal afirmou ter recebido apoio institucional. Segundo eles, o presidente da Câmara, vereadores e pessoas que presenciaram o episódio se colocaram à disposição para prestar depoimento, assim como outras testemunhas. Cris Lopestambém destacou o atendimento recebido na delegacia, que classificou como respeitoso e cuidadoso.
Para a vereadora, o episódio deixa um alerta sobre os desafios enfrentados por mulheres na política e sobre a necessidade de fortalecer mecanismos de proteção, diálogo e respeito no espaço público.
A reportagem da Prensa procurou o homem acusado de agressão, mas ele preferiu não se manifestar. “Prefiro aguardar a entrevista dela sair”, disse por meio de mensagem no aplicativo WhatsApp.
A Prensa segue acompanhando os desdobrametos do caso.
