Por Vilmar Madruga
Depois de uma alardeada viagem para curtir meu ano sabático fora do Brasil, fui imobilizado por uma cirurgia de ombro e aqui estou digitando estas mal traçadas linhas quase que com uma só mão, lendo o que encontro pela frente e mergulhando em maratonas de Netflix. A conselho médico, impedido de dirigir, evito o transporte publico e viro refém dos famigerados aplicativos de transportes particulares como o Uber. E é justamente aí que mora o perigo. Em Búzios não corremos este risco por que a primeira vez que tentei pegar um deles fui informado de que para toda península só havia apenas dois veículos. Mas, agora ficando a maior parte do tempo entre Rio e Niterói não tem jeito: dou uma de Angélica e vou de taxi.
A tecnologia de ponta ainda não chegou ao meu aparelho, de forma que meu precário celular (perco um a cada ano e me recuso a adquirir aparelhos acima de mil reais) não suporta programas mais pesados e volta insistentemente à tela inicial me obrigando a fazer a mesma operação inúmeras vezes até obter sucesso. Com o aplicativo do Uber não é diferente.
Depois de muito insistir consigo finalmente manter uma conexão e solicitar o serviço. Inicialmente tudo eram flores. Motoristas pra lá de atenciosos e solícitos. Treinados para só responder perguntas, não usar som alto e manter o carro limpo e o ar respirável. Mas parece que de algum tempo para cá, alguns tem fugido à regra. Uma motorista gaúcha falando muito alto me contou toda sua vida e como foi parar no Uber. Um motorista mesmo me vendo com uma tipóia, não desceu minha bagagem de malas e quadros, olhos grudados no celular finalizando a viagem ou qem sabe de kkk no zap. É mole ou quer mais?
Uma coisa é certa: se a ineficiência não chegou a esta internacional prestação de serviço, desconfio que o UBER já não é mais aquela cocada toda. Primeiro o aplicativo manda o motorista para lugares errados e quando o acesso de volta ao ponto de partida é difícil ele espertamente nos liga para cancelarmos a corrida já que se o fizer é ele quem paga a taxa de desistência e não nós. Pedi um carro de Icaraí para Piratininga, em Niteroi e ele colocou o tempo inicial de espera em 7 minutos, depois 12, 21 e finalmente em 45 minutos de espera. E nada do motorista cancelar a viagem. Isto quer dizer que não poderia pedir outro carro sem cancelar o pedido. Ele também não o fazia para não pagar a desistência. Não tinha pressa. Abri o Graciliano Ramos e esperei a ver até aonde ia a ineficiência (ou será a esperteza brasileira). Pronto. Ele foi obrigado a desistir. Pude pedir outro. No meio do caminho, uma mensagem do cartão de crédito me avisa que o valor da corrida não realizada virá em minha próxima fatura. Legal, né? Mas, não tem problema. É só entrar no site do Uber para reclamar, puxar o histórico de suas viagens, identificar a corrida e pedir reembolso o que se dará através de desconto na próxima viagem. Simples assim.
Por estas e por outras que adoro o serviço de taxi buziano. Conhecemos quase todos os motoristas, senão pelos nomes pelo menos de vista. A artista Angela Lemos Bezerra frequenta as Oficinas de arte que mantenho no Porto da Barra e utiliza sempre o serviço do mesmo motorista de taxi. Num dia destes ao levar numa bandeja algumas tintas para casa tropeçou e fez uma involuntária action painting na porta do taxi amigo, numa colorida e generosa mancha de tinta sobre a lataria. Pena que não filmamos. O cara de boa,saiu do volante, catou com ela um balde de água e lavaram a intervenção artística. O que foi uma pena. Não se fazem mais motoristas de táxis como os de Buzios.