Búzios, sétimo município mais populoso da Baixada Litorânea, atingiu em 2023 a marca de 25.373 veículos registrados, segundo o Detran-RJ. O número representa aumento de quase 1.400 unidades em relação a 2022 e pressiona uma malha viária limitada, que tem na Avenida José Bento Ribeiro Dantas a única via central.
Entre os dados, chama atenção o crescimento dos utilitários e pesados — categoria que inclui vans do transporte alternativo (único sistema público municipal), caminhões e micro-ônibus, em grande parte ligados ao turismo receptivo. Eles saltaram de 1.173 veículos em 2022 para 5.570 em 2023, quadruplicando em apenas um ano.
A frota local já equivale a 63% da população estimada em 40 mil habitantes e coloca Búzios como a sexta cidade da região com maior volume de veículos, atrás apenas de Maricá, Cabo Frio, Saquarema, Rio Bonito e Araruama.
Infrações e acidentes mudam de eixo
O município registrou 13.042 infrações em 2023, número praticamente estável em relação ao ano anterior (13 mil). O perfil, porém, mudou: em 2022, a maior concentração se dava em rodovias estaduais, sobretudo na RJ-102 (Rasa e Reta da Marina). Em 2023, a maior parte das autuações foi feita dentro da área urbana, na Avenida José Bento Ribeiro Dantas e na Estrada da Usina, com predominância de excesso de velocidade.
Os acidentes também acompanharam essa mudança. Em 2022, 37 das 69 ocorrências aconteceram na RJ-102. Já em 2023, a José Bento Ribeiro Dantas concentrou sozinha 24 feridos. O total de sinistros caiu de 69 para 67, mas a gravidade diminuiu apenas parcialmente: as mortes passaram de 13 para 7, enquanto os feridos seguiram em patamar elevado (94 em 2023 contra 100 em 2022).
Motociclistas permanecem como o grupo mais vulnerável. No primeiro trimestre de 2024, o Detran-RJ apontou que as motos responderam por 46% dos acidentes graves no estado, contra 42,1% dos automóveis. No Hospital Municipal Rodolpho Perissé, os números confirmam o alerta: foram 45 vítimas em sete meses de 2024, e 87 apenas até setembro de 2025, quase o dobro.
Gargalos sem solução
A concentração do fluxo na José Bento Ribeiro Dantas expõe a fragilidade da rede viária local. Projetos para diversificação de rotas foram discutidos, mas não avançaram. Um exemplo é a proposta de alça viária estadual ligando a RJ-102, após a ponte Octavio Raja Gabaglia (sobre o canal do Aretê), ao trecho próximo ao Hospital Municipal. O traçado poderia aliviar o gargalo da Reta da Marina e do entroncamento do antigo pórtico, mas foi embargado após recomendação do Ministério Público Federal. No mesmo local uma obra privada em curso desperta críticas e, se concluída, impedirá definitivamente as condições da retomada da estrada.
Novas alternativas
Entre as poucas boas notícias está a drenagem e pavimentação da Estrada da Fazendinha, que conectará os bairros Cruzeiro da Rasa e Caravelas, criando um novo eixo continental.
O arquiteto e urbanista Octavio Raja Gabaglia também projetou uma rota complementar, prevista no Plano Diretor de Búzios. A via começaria em Maria Joaquina (Cabo Frio), atravessaria a RJ-102 em frente à reserva da Marinha e se conectaria à Estrada da Fazendinha. Se implementada, abriria uma nova porta de entrada para a cidade. Essa obra, mesmo endo recebido investimento de emenda parlamentar em 2021, atualmente não está em discussão no município nem pelo Poder Executivo e nem Pelo Poder Legislativo.
Perspectiva
Sem a execução desses projetos estruturantes, a tendência é de agravamento. Os dados parciais de 2025 já mostram aceleração no número de acidentes, especialmente com motociclistas. Ao mesmo tempo, o avanço da frota de utilitários, caminhões e micro-ônibus amplia o risco de colisões de maior impacto.
Com frota crescente, transporte público restrito às vans e uma via central saturada, Búzios permanece na “zona vermelha” dos acidentes do Detran-RJ, ao lado de municípios como Saquarema e Araruama.