Alguém tem dúvida de que Spike Lee é um dos grandes artistas de sempre? Por mais que alguns torçam o nariz por isso, e razões além da arte podem fazer alguém torcer o nariz, as artes após Spike Lee sofreram impacto direto. Digo isso com firmeza porque os filmes deles influenciaram músicos, artistas plásticos, artistas visuais, dançarinos, a moda e por aí vai. Não é pra qualquer um, né?
Pois bem, No dia de Martin Luther King Jr., feriado nacional nos EUA para comemorar o nascimento do líder da luta pelos direitos civis de 2016, Spike Lee junto com Jada Pincket Smith anunciou que não iriam ao Oscar, pois pelo segundo ano seguido, todos os indicados eram só pessoas brancas.
“Para mim, a batalha ‘real’ não está na cerimônia da Academia, mas nos escritórios de direção dos estúdios de Hollywood, nas redes de televisão e de cabo”, escreveu Spike Lee em seu Instagram e aí vem a parte mais interessante do boicote, a política real por trás da ação que acabou se estendendo a outros artistas que não se sentiram representados.
Além do lugar do comum de dizer que independente de ser branco ou preto, o importante é que a produção seja boa, e não se atentar que os critérios para se achar bom o ruim algo, tem a ver mais com seus preconceitos do que outra coisa, Spike Lee liderou um movimento político com resultados plausíveis.
Lembremos que política é o movimento do conflito. Tenho uma demanda e a capacidade coletiva de adesão a mesma provoca tensão nos organismos de decisão que muitas vezes são obrigados a ceder e atenderem a demanda imposta. Na política, a tensão sempre é a mola propulsora de ações ou mudanças, ou pelo menos, deveria ser.
Spike Lee pressionou os escritórios de Hollywood. Mostrou a possibilidade de prejuízos sem precedentes se não atendesse minimamente a diversidade existente no seu Cinema e o Oscar teve que ceder, ainda mais com uma ameaça de fazer uma premiação paralela ao Oscar em resposta a branquitude reinante.
Estamos em 2019, Spike Lee ganha o prêmio de roteiro adaptado por “Infiltrado na Klan”, sem contar os prêmios de outros anos pra “Moonlight”, além de Mahershala Ali ganhar pela segunda vez o prêmio de ator coadjuvante e Ruth E. Carter pelo figurino em “Pantera Negra”.
Já dá para se ouvir por aí: “Só ganharam porque são pretos, o Oscar tá perdendo o sentido”. Talvez o Oscar nem seja tão importante assim, como ainda insistem em dizer, mas o sabe o importante disso tudo: A capacidade de fazer a real política, defender nossos interesses, colocar nossas preferências em cena e elas realmente serem relevadas a ponto de se mexer na “tradição”.
Funcionou, obviamente, porque foi o Spike Lee. E como disse no primeiro parágrafo, é um dos grandes artistas de sempre da história da Humanidade. E se nós formos devidamente organizados, a gente consegue colocar nossas demandas em pauta?
Vamos fazendo a coisa certa e vendo no que vai dar…
*Fabio Emecê é MC, Poeta e gosta de Cinema