Numa época em que acompanhamos ações preconceituosas e transfóbicas, um período sombrio no qual a intolerância têm se tornado mais cada vez maior entre as pessoas, existem histórias de amor, com final felizes. É a história da professora trans/travesti Sara Wagner York, de 43 anos, e que mora em São Pedro da Aldeia.
Sara, que é uma renomada cabeleireira, maquiadora e professora, têm muitos motivos para celebrar a vida, e o melhor, vida em família e com muito amor. Os ofícios da profissão de cabeleireira e maquiadora rendeu lhe em Londres, vários prêmios. Lugar onde viveu durantes anos.
Recentemente, Sara foi a ganhadora da promoção Amores Acústicos, do Boticário. No próximo dia 07 de agosto, acompanhada da amiga Erika Barbosa Araújo, também professora, além de mestre em psicologia, vão assistir ao show de Jota Quest & Silva e Ivete Sangalo, no Theatro Nacional, em São Paulo. E um dos motivos de tal comemoração, é o reencontro com filho, em 2012. Para participar da promoção, Sara teve que enviar uma história de amor. E, claro, não poderia ter sido outra: o afastamento e o reencontro com filho Victor Ruggerio. Momentos de muita dor, mas uma história com final feliz, digna de se tornar um filme.
Enquanto mulher travesti, Sara narra que teve um filho aos 16 anos de idade. Eles estavam sempre juntos e moravam próximos um do outro. A mãe de Victor, no entanto em determinado momento segue com a vida por outro caminhos, retirando o filho do contacto com o pai (a Sara) aos 5 anos. Para Sara, restou um grande buraco, não apenas saudades, mas uma dor que parecia não ter fim.
Longe do filho e sem saber de seu paradeiro, Sara se perdeu na solidão. Sem apoio familiar, ou institucional refugiou se nas ruas onde conheceu a vida com crack e outras substâncias ilicitas. Foram longos quinze anos de dor. Depois dos 10 primeiros anos, ainda sofrendo com a ausência do filho, conseguiu sair das ruas e refez a vida. Sara então se mudou para Londres, onde se tornou uma cabeleireira reconhecida e contava sempre sua história para todos.
Nas redes sociais em 2012, recebeu uma mensagem pelo facebook. Era para ela telefonar para um número de telefone no Brasil. Sara, com muito trabalho, estava com a vida estabilizada. E já “desistente da dor”, entrou em contato com aquele número de telefone. Segundo ela, do outro lado da linha uma homem de voz suave e doce disse: Alô, quem fala? Sara respondeu: Sou Sara Wagner York, de Londres. Do outro lado da linha, o homem diz: sua benção meu pai, que saudade de você.
Era Victor, filho de Sara. Ele também procurava por ela. Em 2012, se reencontraram, e uma das imagens do encontro foi registrada na foto da amiga Ana Figueiredo. Haja conversa para colocar em dia.
Atualmente, Victor, com 27 anos, mora em Goiânia, com esposa e o filho. Sara é um pai, que é uma mulher e trans, transborda de felicidade porque é avó. O neto tem quatro anos.
Se tornaram uma família e são muito felizes. “Depois eu soube que a mãe do meu filho havia se casado e, por vergonha, pois naquele tempo era assim, o levou embora e registrou o em nome de outra pessoa. Reencontrar meu filho depois de 15 anos, é sim uma grande e verdadeira história de amor que tenho vivido. Então, inscrevi a história na promoção e ganhei. Estou muito feliz”!
Devido à distância, pai e filho não podem se encontrar frequentemente, mas se falam com frequencia.
Depois de retornar ao Brasil, em 2013, Sara estudou e atualmente trabalha como professora de uma rede municipal de ensino. “Tento mudar histórias, que começaram tristes, mas que, com alguma ajuda, terão um final feliz, como foi a minha. Sigo sonhando a cada novo dia”, comemorou.
E a agenda dela como professora está lotada de eventos para o próximo mês. Todo conhecimento adquirido em anos de estudo, dedicação e crescimento, a professora Sara no próximo dia 12, estará na UNIRIO ministrando uma roda de conversa com a temática Educação Democrática. No dia 15, na UFRRJ em Seropédica para o encerramento da Semana Acadêmica, abordando Direitos Humanos e Educação. E dia 17, na Faculdade Estácio, em Cabo Frio, a convite da coordenação e dos alunos e alunas do curso de Pedagogia.
Sara também é Mestranda do Geni – Grupo de Estudos sobre Gênero, Sexualidade e Interseccionalidades – do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) – ProPEd. É Pedagoga, Professora de Língua Estrangeira, Especialista em Escola de Tempo Integral, Membro militante ANTRA – Associação Nacional de Trans e travestis e IBTE – Instituto Brasileiro Trans de Educação e Bolsista CNPq.