Vivemos momentos estranhos…
Vejo recorrentemente um setor tentando colocar a responsabilidade em outro (como se com isso conseguisse se eximir do problema)… A hotelaria, que diz que o culpado pelas aglomerações são os restaurantes, os restaurantes, que culpabilizam os eventos, os eventos, que responsabilizam as praias cheias, a opinião pública em geral e o governo, em particular, que recrimina o setor privado.
Nos últimos 9 meses, desde que começou a pandemia, tínhamos um total de 12 leitos no Hospital Rodolpho Perissé em Búzios. Após um Decreto Municipal, o comércio da península ficou fechado por aproximadamente 4 a 5 meses (medida que nesse momento foi apoiada por 80% do comércio), justamente para dar tempo ao executivo de preparar a saúde pública para a crise sanitária. Hoje, 9 meses após o início da pandemia, temos quantos leitos? Os mesmos 12 leitos com respiradores.
Somente agora, aos 45 minutos do segundo tempo (antes tarde do que nunca) estamos vendo uma suposta ampliação dos leitos através do aluguel de respiradores. Sou consciente que problemas complexos demandam soluções complexas, sobretudo quando não há uma boa comunicação entre as esferas de poder (municipal, estadual e federal). O que mais me surpreende, ou me deixa indignado, é a forma simplista como a opinião pública trata o problema. Estamos sempre buscando um culpado para o problema e não uma solução efetiva para o problema.
Parece ser que hoje, o grande vilão são os eventos privados (que não trabalham há 9 meses). O governo em geral sempre vê a oportunidade e surfa a onda dando uma resposta à opinião pública, que na maioria das vezes não traz um resultado efetivo. Uma das poucas coisas importantes que apreendi em Ciências Políticas, é que o bom gestor é aquele que aprova medidas que geram a menor quantidade de externalidades negativas, ou seja, que busca solucionar o problema de fato.
Faço um paralelo a um tema polêmico, a prostituição, posso ser contra ou a favor ideologicamente, mas aprovar uma normativa que proíbe, muitas vezes não soluciona o problema, muitas vezes, até agrava. Como empresário, posso assegurar que estamos exaustos. Foram dezenas as vezes em que nos aproximamos do setor público para prestar solidariedade e brindar de sugestões em prol de soluções para o equilíbrio entre a saúde e a economia.
Mas no final, a conta sempre chega, e na maioria das vezes, somos nós que pagamos. Sobretudo quando as ajudas são mínimas e, as poucas que vieram, são empréstimos que precisam ser pagos, não são doações. Ou seja, no final, a ajuda é paga por nós mesmos.
Em conclusão, hoje vivemos um gravíssimo problema no setor sanitário, ocasionado por diversos fatores, porém, estamos sempre buscando um culpado, um vilão e, raríssimas vezes, atacamos o problema com soluções efetivas que vão resolver o problema, e não somente o ego da opinião pública.