Por Vilmar Madruga
Há 25 anos atrás, numa Búzios onde haviam cadeiras na calçada e minhas filhas ainda crianças podiam andar pela Rua das Pedras sozinhas brincando de lojinha na vizinhança, abri meu primeiro ateliê. Uma pequena e charmosa sala no mesmo endereço onde Brigitte Bardot ficou hospedada e onde hoje funciona o Cigalon, da minha amiga Sonia Persiani. Joanna, minha filha mais velha com apenas 11 anos foi quem me ajudou a montar a pequena galeria.
Eu pendurava os quadros e ela as belas peças de cerâmica da mãe. Vinte anos depois sua filha Isabella, então com 5 anos pintava comigo dando boas pinceladas no enorme painel que providenciei para inaugurar meu último endereço na cidade: a galeria no Porto da Barra. Foram 25 anos de exposição permanente, curadorias e estrepolias por esta cidade que me alegra na mesma medida em que às vezes me assusta. Pois, chegou a hora de fazer um ano sabático, como na orientação do velho testamento onde Deus de 7 em 7 anos pedia ao povo que não plantasse nada e deixasse descansar a terra por um ano.
Meu descanso não será de uma terra física. Desejo proustianamente correr atrás de um tempo não necessariamente perdido, mas buscar terras das quais sinto saudades sem nunca ter pisado a planta do pé. Um continente desconhecido, não desbravado, cheio de riscos e incertezas. A chegada da idade contribui muito para este olhar. O que ainda não sei? O que me falta trilhar? Por que não correr riscos? O filósofo Bachelard diz que no campo da imaginação aprendemos a ser jovem tarde demais. Às vezes usamos nossa energia para administrar a vida mais do que a vivendo.
Até aqui tenho cuidado da saúde, evito a carne vermelha, o sol depois das dez, o Jornal Nacional, as manifestações a favor da intervenção militar, os passeios de escunas e a lei seca. Falta-me gastar mais tempo com a leitura, com passeios com meus netos pela praia. Tempo para os museus e para os espaços alternativos. Para ver ou (me) ocupar com arte. Exercer uma mobilidade esquecida e preterida pela tal zona de conforto. Liberdade de deslocamentos que possam me levar da Provence a Pindamonhangaba. Ah, e paciência… Como preciso tê-la. Dos gerúndios das mocinhas do telemarketing que vão estar verificando minha solicitação ao mau humor dos franceses e às discussões politicas nas redes sociais.
Penso também no Algarve, em Portugal, onde já tive ateliê. O lugar ideal para quem quer correr riscos já que estudiosos apontam com grande possibilidade a repetição do terremoto de 1755 atingindo de Faro a Leria com direito a tsunami que inundaria também a cidade do Porto.
Mas, como basta a cada dia seu próprio cuidado, ainda estou por aqui assistindo a sessão de domingo do Cine Bardot, jantando a luz de velas no Cigalon, comendo o filet ao gorgonzola do Patcho, o sorvete do Filipe no Porto da Barra ou simplesmente correndo para ver o por do sol em algum píer da cidade. Isto Mastescard não compra.