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Por Matheus Thomaz

Uma outra celebração pós ano novo dos governantes de Macaé foi referente ao turismo na cidade. Foi Manchete em 04 de janeiro de 2019 no O Debate online: “Macaé tem destaque nacional como destino turístico de lazer”. A matéria destaca o fato de Macaé mudar sua categorização no Ministério do Turismo, passou de B para A. Por fim, são apresentadas as vastas opções de lazer que Macaé possui:  a serra, os parques ecológicos e as várias praias ao longo dos 23 km de costa.

É importante ressaltar que há, de fato, um esforço do poder municipal em fomentar o turismo de lazer na cidade. Esse esforço é visível na cidade, mas é sentido principalmente no aspecto econômico. Conforme a fala do secretário adjunto de turismo, na citada matéria “nos últimos cinco anos, o turismo de lazer em Macaé deu um salto, com participação de 30% no faturamento, segundo informações da rede hoteleira”. Há entre os que governam a cidade quem diga que o turismo pode ser uma nova matriz de desenvolvimento para a cidade. Não à toa, a responsabilidade pelo turismo fica a cargo da secretaria de desenvolvimento econômico, trabalho e renda.

Uma conferida no relatório de categorização do Ministério nos permite confirmar que Macaé, situada na região turística da costa do sol, agora tem o conceito A. Nessa região turística tem o mesmo conceito, Armação dos Búzios e Cabo Frio. Sendo que até o ano passado apenas Cabo Frio era A.

De acordo com Ministério do Turismo: “A Categorização dos Municípios das Regiões Turísticas do Mapa do Turismo Brasileiro é um instrumento elaborado pelo Ministério do Turismo para identificar o desempenho da economia do setor nos municípios que constam no Mapa do Turismo Brasileiro.” E a categorização serve para: a) Otimizar a distribuição de recursos públicos; b) Orientar a elaboração de políticas específicas para cada categoria de municípios; c) Aperfeiçoar a gestão pública, na medida em que fornece aos gestores do Ministério e dos Estados mais um instrumento para subsidiar a tomada de decisão; d) Auxiliar na atualização do Mapa do Turismo Brasileiro, que é feita periodicamente; e) Auxiliar na reflexão sobre o papel de cada município no processo de desenvolvimento turístico regional.

Será que se pode pensar no turismo como uma alternativa à dependência econômica dos Royalties do petróleo e como um promotor do desenvolvimento?

Como referência para a reflexão vou recorrer ao artigo de Maria Dilma Simões Brasileiro, pesquisadora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), “Desenvolvimento e Turismo: para além do paradigma econômico.” Nele a autora apresenta algumas conceitos de desenvolvimento e outros de turismo, relacionando os dois no sentido de pensar possibilidades de desenvolvimento a partir do turismo.

Há alguns anos Macaé se destacava pelo turismo de negócios, além de ser local estratégico da indústria do petróleo, que por si só já impulsiona quase todos os negócios locais, a cidade possui um polo gastronômico e uma vasta rede hoteleira, a maior do interior do Estado, situado no bairro dos cavaleiros, Imbetiba e Centro.

Em relação ao turismo, a autora aponta o que seria um turismo de massas. “Uma oferta de sol e praia, sem maiores preocupações com as questões ambientais e culturais do próprio local”. Acredito que essa seja a política de turismo de lazer em Macaé e que o deslocamento do turismo de negócios para o de lazer esteja intimamente ligado à crise do setor do petróleo. Principalmente por que o turismo praticado na cidade não aparenta ser uma alternativa à dependência do petróleo, mas um outro caminho econômico de obter os mesmos resultados. Acumulação de capital, manutenção de certas elites e produção de desigualdades.

Há alguns anos eu apresentei um trabalho em um congresso científico onde o objeto de minha análise foi a questão social e os indicadores analisados foram referentes à Macaé, como processo da reflexão eu percebi que há aumento da desigualdade social, da distância entre os mais ricos e os mais pobres de Macaé. Sobre eles eu que escrevi que “A expressão dessa desigualdade é percebida ao se observar os dados socioeconômicos existentes. Um olhar sobre o atlas do desenvolvimento humano 2013, nos mostra uma variação da renda per capita de R$ 561,15 em 1991, para R$ 1.103,42 em 2010. Em dezenove anos, mesmo considerando o acelerado crescimento populacional, dobrou a renda per capita no município. Porém essa proporção não é acompanhada pela redução da desigualdade, considerando a variação do índice de GINI, no mesmo período teve uma variação ínfima, passando de 0,57 para 0,56. Por esses números é possível perceber que há uma forte acumulação no período.

Em números, a variação dos 20% mais pobres no município era em 1991 eram 2,85% da população que correspondia à 2670 habitantes. Ao passo que esse mesmo recorte da população em 2010 aumentou para 3,39%, o que parece uma pequena variação em termos absolutos é de 7008, o que equivale a um aumento de mais de 60% de pessoas nessa condição. No mesmo período a população total teve um aumento de 45%, ou seja, houve um aumento dos 20% mais pobres em uma proporção maior que o próprio aumento populacional.”

Ao observar o turismo agora, percebo novamente características semelhantes. O turismo de massas se expressa no sentido do capital como um processo de acumulação e retorno rápido. Um aspecto do turismo em Macaé é a centralidade e a canalização de grande parte do fluxo turístico para a região dos cavaleiros. É o clássico turismo praia, sol e mar. Podemos inferir daí que grande parte do dinheiro que circula com o turismo entra na região dos cavaleiros e entorno.

Os segmentos do capital instalados naquela região, setor hoteleiro, gastronômico e especulação imobiliária, são por óbvios os principais beneficiados com a centralidade dada à região. Segmentos que têm laços estreitos com o grande capital instalado na indústria do petróleo. Muitas vezes esse, segmentos tem ligações indiretas com os governantes de sempre e de ocasião, em outros casos eles assumem diretamente o poder local. É como se a elite local, que nunca deixou de ser serva dos colonizadores, que governa desde sempre, tivesse um pequeno comitê para cuidar de seus negócios enquanto utilizam a estrutura pública para divulgar e realizar seus eventos.

Enquanto isso o restante da população trabalhadora residente em Macaé assiste e usufrui, não necessariamente nessa ordem. No artigo “desenvolvimento e turismo”, a autora apresenta que há outras possibilidades de turismo, em que o aspecto central é ter direta relação de decisão dos sujeitos que habitam a cidade, daqueles que vivem o cotidiano, sofrem com a crise e que essas grandes conquistas econômicas do turismo quase não chegam até eles.

O turismo em Macaé para o ano de 2019 segue a lógica de segregar, concentrando as  atividades novamente quase que exclusivamente nos cavaleiros. O calendário de eventos turísticos divulgado pela prefeitura apresenta 28 datas para eventos. Destes 17 estão previstos para a região dos cavaleiros, com uma outra extensão na Imbetiba e/ou Praia do Pecado, apesar de a matéria de O debate online ressaltar que na cidade há 23 Km. Uma única previsão para o Sana, e a mesma coisa para o Frade, deixando de fora grande parte da região serrana. Três atividades para o centro de convenções. Os demais são chamadas gerais.

Enfim, praticamente toda região do outro lado da ponte, ao norte da cidade, fica excluída de ter atividades ou de ser considerada como atração turística em Macaé. Por exemplo,  no extremo norte da cidade, próximos a bairros populosos e que por serem majoritariamente habitado pela classe trabalhadora local sente a crise de forma mais perversa, pois muitas vezes perde todo o pouco que tem, está o Parque Natural do Barreto, citado na reportagem do turismo, mas nenhuma previsão de evento ou atividade.

Apesar de Macaé ter belas e importantes unidades de conservação, não há nenhuma associação de atividades do calendário com o turismo ambiental. Nada se planeja para o Arquipélago de Santana, para o Parque Jurubatiba ou para o Parque do Atalaia. Nada se fomenta sobre a questão ambiental local, não se constrói um turismo de responsabilidade ambiental. Pelo contrário, quando se olha para o calendário de atividades o que se percebe é uma sutil prevalência de um turismo de consumo, carro, cerveja e comida. São variações do mesmo tema a serem montadas na orla dos cavaleiros privilegiando os estabelecimentos, que além de já terem seus restaurantes no local, acabam ocupando a maioria das tendas de expositores.

Enfim, é preciso pensar em outras possibilidades. Não é possível mais repetir os mesmos erros do petróleo em outros ramos produtivos. Nessa lógica da acumulação, triunfa o viver bem de alguns às custas do sangue e suor de muitos. É real a possibilidade de um turismo diferenciado em Macaé, que envolva mais sujeitos e promova agregação da cidade, que leve o dinheiro para as regiões que mais precisam e que vá além da responsabilidade ambiental, que seja integrado a natureza. Precisamos nos libertar do grande capital, descolonizar nosso poder local e invocar maneiras de construir o Bem Viver para todos.

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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