Trote racista realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em Macaé nesta sexta-feira (6) tomou conta das redes sociais e repercutiu nos veículos de comunicação de todo o país. A direção da UFRJ anunciou que vai investigar o trote que aconteceu no campus. Uma caloura de Engenharia foi pintada de tinta preta ( blackface) e vestida como garçonete.
O “blackface” é uma prática racista bastante conhecida, em que pessoas de pele clara são maquiadas de preto e retratadas de forma estereotipada.
“Essa prática racista foi combatida pelo movimento negro ao longo de dois séculos por ser extremamente ofensiva às pessoas negras e representar uma ideia de supremacia branca, ironia e ridicularização dos corpos negros como caricatos”, afirmou o diretório acadêmico da UFRJ em uma publicação no Facebook.
E completou: “Os estudantes que estavam no local alegam que não havia a intenção de fazer Black Face, porém evidentemente não houve uma preocupação qualquer com a possibilidade de pessoas negras serem ofendidas e deixou nítida a atitude racista e desrespeitosa vinculada a foto”.
“A Direção do Campus UFRJ-Macaé repudia quaisquer manifestações de caráter racista em suas dependências e abrirá inquérito para apurar o ocorrido no dia 5 de março no trote dos calouros da Engenharia”, afirmou a instituição em um comunicado publicado no site oficial.
“Informamos que as investigações serão realizadas seguindo o procedimento legal e, caso seja constatado crime de racismo, os envolvidos serão responsabilizados tanto na esfera acadêmica quanto na criminal”, acrescentou.
Durante o período da investigação, os alunos não poderão realizar trotes nas dependências do campus em Macaé. A universidade disse que, no início desta semana, foi divulgada uma campanha para impedir o trote violento ou vexatório, ressaltando que “condutas de caráter racista, homofóbico, sexista ou que configure qualquer tipo de discriminação serão severamente punidas”.
A origem do ‘blackface’
O blackface é uma prática que tem pelo menos 200 anos. Acredita-se que ela tenha se iniciado por volta de 1830 em Nova York. Mas não se trata apenas de pintar a pele de cor diferente.
Era uma prática na qual pessoas negras eram ridicularizadas para o entretenimento de brancos. Estereótipos negativos vinham associados às piadas, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.
No século 19, atores brancos usavam tinta para pintar os rostos de preto em espetáculos humorísticos, se comportando de forma exagerada para ilustrar comportamentos que os brancos associavam aos negros. Também ridicularizavam os sotaques dos personagens que incorporavam nas peças.
Isso surgiu numa época em que os negros nem eram autorizados a subir nos palcos e atuar, por causa da cor da pele.
Mesmo no século 20, era muito raro atores negros receberem posição de destaque. Papéis que exigiam uma aparência africana ou asiática eram frequentemente desempenhados por atores brancos usando blackface, ou seja, com a pele tingida.