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Sara Wagner York é mulher, pai e avó. Ela escreve ocasionalmente para a Revista Eletrônica Prensa de Babel

 

Por Sara Wagner YorkAtivista trans, professora e pedagoga

Como toda criança sempre fui maltratada pelo pensamento da massa, sempre achava estranho ver determinados pensamentos sobre algumas ações e pensava, isso deve ser alguma coisa que eu não entendo, pois ainda não cheguei “lá”. E assim, na esperança de “chegar lá”, acabei me calando por anos sobre várias situações, e isso era muito comum as crianças de outrora.

Lohana Berkins, falecida em 2016, e que é uma travesti argentina, em entrevista ao jornal La Nácion em agosto de 2011 disse, “a sociedade tem um pânico generalizado sobre nossas sexualidades e nossas identidades: no imaginário coletivo somos agressivas, ladras, com AIDS, escandalosas, exibicionistas. Toda uma bateria de questões negativas que estão sobre a gente”, pessoas “descaradamente” homoidentificáveis ou padrão sociosexualizado normatizado.;.

Mas o que eu estou tentando dizer aqui? Sair das formas comuns de pensamento, da ação social mediana e me sentir desconfortável diante do modo como os outros operavam suas vidas, tem sido uma das melhores coisas da/na minha vida. “Então o que acontece conosco? A sociedade perversamente gerou um papel decidindo que as travestis só podem se prostituir. Não se pensa na gente em termos de políticas públicas, mas em termos de zonas de prostituição, sem que seja a gente que tenha pedido isso ou passe por nossas escolhas. Nunca vi manifestação de travesti pedindo zona de prostituição, por exemplo: mas sim continuamos vendo a reclamação por políticas públicas.

Então gerou-se essa história: que a gente só serve para a prostituição e não nos veem como força produtora de trabalho, não nos veem com capacidade para fazermos qualquer coisa.” Ser/estar estranha diante do pensar da massa, não tem preço, e isso só foi possível por causa da não adequação ou tentativa fácil, de aplauso rápido… Pensar é a melhor forma de agir nas expectativas de resultados diferentes, ousemos e vivemos uma vida mais enigmática e menos simplista, essas respostas fáceis e rápidas, já não compram mais público e audiência.

Se eu, mulher trans e travesti, professora e pesquisadora me sinto desconfortável, irritada e suja, diante dessa massa que me faz sentir dessa forma, o que pensar das crianças e adolescentes que não tem se quer, apoio de seus familiares, pais e responsáveis em suas compreensões e buscas? Suicídio… A nossa maior questão ainda é uma velha máxima, o que você prefere mãe? Mil vezes um drogado que um viado na minha casa! Se na minha adolescência eu ouvi isso insistentes vezes, quase 30 anos depois, a pergunta segue sendo a mesma, o que você prefere mãe? Continuar acreditando nessa opções de vivencia ou apoiar seu filho e vê lo mergulhando em águas que sejam mais claras e promissoras? Com a família, seja qual for, ser pai e/ou mãe, deve vir antes do que o pensamento da “rua” e sobre, o que de fato acontece na minha casa.

Vamos construir lares com mais amor e respeito, sabendo que nossos filhos são nossos melhores dons e professores, se ensinamos é também com ele que aprendemos, e com eles independente de suas escolhas sociais (religião, ser médico, comerciante ou estudante, por exemplo), sua sexualidade será respeitada e amada, por que somos “pais” e não mais pessoas que valorizam o pensar alheio da massa que julga muito e ama muito pouco.

*Sara Wagner York É mulher, é pai e é avó Escreve ocasionalmente para Revista Eletrônica Prensa de Babel


https://prensadebabel.com.br/index.php/2017/11/20/18244/

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