“Antes eu achava que eu tinha algum problema. Agora vejo que o assédio moral é para todos os servidores” – Miriam Seso
Há duas semanas tentando encontrar seu local de trabalho na prefeitura de Búzios, a assistente social Miriam Seso, servidora pública concursada, procurou a Prensa para deixar o seu desabafo e a sua indignação. Pré candidata a vereadora na cidade de Macaé, onde mora, e onde também é servidora pública municipal, Miriam encabeça o coletivo Simbora de Luta, que reúne servidores públicos na empreitada de conquistar uma vaga no legislativo. Licenciada por Macaé para concorrer às eleições deste ano, a servidora não conseguiu o mesmo benefício em Búzios, e embora estivesse licenciada pela Federação dos Servidores Públicos Municipais RJ, devido ao calendário eleitoral teve que reassumir suas funções na prefeitura. E foi aí que começou mais uma luta para Miriam, entre muitas que já travou na vida para conquistar seu espaço de cidadania. Em entrevista à live “Roda da Prensa”, ela contou sua história.
– Nós servidores públicos sofremos assédio moral. Nesse processo de desmonte do Estado, o servidor público tem os canhões apontados pra ele. E temos que nos unir para fazermos este enfrentamento. O assédio moral tem sido algo muito presente. Este assédio nos adoece e mata, e o índice de suicídio entre os servidores é altíssimo, assim como o índice de adoecimento, de afastamento por transtornos mentais por conta de assédio de chefia. E a gente tem que proteger a nossa vida, porque ela é a única coisa que o trabalhador possui – inicia Miriam.
Servidora pública na cidade de Búzios desde 2007, Miriam revela que já passou por praticamente todos os setores, e afirma que nesta prefeitura, o servidor tem muita dificuldade em se localizar.
– Eu já trabalhei em lugares em Búzios, onde me colocavam, que não tinha nem mesa nem cadeira. Ficavam comigo no setor e depois diziam que não tinham mais interesse e me devolviam pra outro lugar. Antes de entrar com licença sindical eu trabalhava no CRAS da Rasa, e a legislação diz que quando você retorna para a prefeitura, você retorna para o mesmo lugar que ocupava antes da licença. Por conta do calendário eleitoral, eu agora precisei me apresentar novamente na prefeitura de Búzios, e fui então para o CRAS da Rasa. Mas a nova secretária Márcia Abranches, que tomou posse no dia primeiro de julho, me deu uma carta me devolvendo para a secretaria de Administração. Ela não demorou cinco minutos comigo. Mas por que não posso ficar? Eu perguntei. Qual o trabalho que está sendo feito? Eu tenho experiência na área, são mais de 20 anos de trabalho. A secretária me respondeu que em razão da pandemia, o pessoal do CRAS só estava distribuindo cestas básicas. Então eu achei bacana isso, e perguntei se a distribuição acontecia nas escolas. Ela disse que não e eu perguntei como estava sendo feita a distribuição. Ela respondeu que era por processo seletivo, e eu perguntei quem estava fazendo a seleção, já que no CRAS da Rasa tinha duas colegas de licença. Aí a secretária me cortou na hora dizendo para eu ir para a Administração, que lá eles iam me arrumar um lugar para trabalhar. Bom, a partir daí eu já comecei a desconfiar, porque em pré campanha quando se distribui cesta básica e não se quer o servidor de carreira por perto, é que a coisa não deve estar muito bacana – conta.
De volta à secretaria de Administração, Miriam foi redirecionada para o Hospital Municipal Rodolpho Perissé, e como tem especialização em Saúde Pública, e sempre atuou nesta área, conta que seguiu satisfeita para o novo local de trabalho.
– Lá no hospital me mandaram procurar a Nara. Esperei por três horas e me mandaram voltar no dia seguinte. Voltei. Aguardei mais três horas e ela não me recebeu. Retornei pra Administração e o secretário me mandou pra secretaria de Saúde pra falar com Wackinin. Ele então me disse para ir para a Policlínica, para atender pacientes da psiquiatria com necessidade de auxílio na medicação. Achei ótimo, é um trabalho de assistente social, mas para a minha surpresa, ao chegar na Policlínica, me mostraram a lista de remédios da farmácia, e eu teria que ajudar a carregar caixas, arrumar prateleiras, e dispensar medicação. Não aceitei. Sou qualificada, não é serviço pra mim – explica.
Com escala de trabalho de 20 horas semanais, Miriam retorna nesta quarta-feira (22) para a prefeitura de Búzios, na expectativa de encontrar um posto de trabalho adequado a sua qualificação e função, e faz muitas leituras da situação que enfrenta no município.
– A questão racial em Búzios é forte, existe um racismo estrutural. Quando iniciei na prefeitura me mandaram para a Rasa como punição, mas eu adoro. Adorava trabalhar no CRAS da Rasa. Búzios acontece do pórtico pra dentro da península, pouco se olha a periferia no continente, mas a Rasa tem um potencial absurdo – afirma.
Por experimentar na pele o assédio moral que ronda servidores públicos, Miriam fortaleceu a sua luta. Transformou o vitimismo em ação, em pró atividade, e junto com outros servidores públicos fundou o coletivo Simbora de Luta, que reúne trabalhadores concursados, pré candidatos à Câmara de Vereadores de Macaé, onde mora.
– Venho como pré candidata a vereadora de Macaé representando este coletivo. Resolvemos unir nossas forças para fazer este enfrentamento e ocupar os espaços da sociedade civil. E chamo os servidores de Búzios a se espelharem nesse coletivo, unindo pessoas de todos os setores, para ocuparmos a Câmara, os conselhos, as associações de bairro, enfim, os espaços civis para defender a constituição, e todas as nossas conquistas de cidadão. Precisamos nos aglutinar, o servidor está muito desvalorizado, sofrendo assédio moral o tempo todo. Sem servidores públicos não há serviço público. Necessitamos das politicas públicas, que só acontecem quando se tem servidores públicos encabeçando a luta. População, reconheça no servidor o seu maior aliado. E Simbora de Luta! – finaliza Miriam.
Assista a seguir a live Roda da Prensa com Miriam Seso.