Negociação lenta com poder Executivo mantém contrato suspenso ameaçando a continuidade do trabalho
Há mais de dez dias sem retorno por parte da prefeitura de Búzios, sobre as negociações que envolvem o contrato de prestação de serviço do Circolo Social, e sem receber o pagamento referente ao mês de abril, coordenadores do projeto anunciaram o corte de parte da programação que está sendo disponibilizada online, desde o dia 20 de março, quando iniciaram as medidas de isolamento social devido à pandemia.
Oferecendo uma grade diária de aulas via internet, o grupo explica que está ficando difícil produzir o conteúdo audiovisual das oficinas práticas. De acordo com os coordenadores do projeto, cada oficina engloba reuniões de equipe para debate do conteúdo, criação de roteiro, gravação em vídeo e edição final para montagem, um grande trabalho de bastidores que exige muito esforço da equipe, que inclusive teve que aprender a lidar com toda a técnica audiovisual para produção de filmes.
– Está muito difícil manter o pique de produção, sem as garantias do contrato. Estamos trabalhando muito, intensamente, são muitas horas de dedicação diária para manter o conteúdo para os alunos, e as condições estão ficando difíceis para todos. A prefeitura não pagou o mês de abril e mantém o contrato suspenso no momento, o que complica demais a situação de toda a equipe – explica Antonio Pap, do Circolo.
A equipe avisa que por enquanto vai continuar com as aulas ao vivo, retirando da programação apenas os vídeos das oficinas, que exigem toda a produção audiovisual.
Prefeitura questiona valor de conteúdo online
Conforme afirmou em sua entrevista na Roda da Prensa, o secretario de Turismo, Cultura e Patrimônio Histórico, Armando Ehrenfreund, questiona o valor a ser pago ao grupo, uma vez que o contrato com o Circolo Social prevê aulas presenciais, que não estão ocorrendo. Armando diz reconhecer a importância do trabalho da equipe, mas afirma que as despesas do momento são outras e o contrato precisa ser renegociado.
De acordo com Pap, a equipe do Circolo e o secretário já se reuniram na prefeitura e na Câmara Municipal, com participação dos vereadores da Comissão de Cultura, com o objetivo de adequar o contrato. O grupo aceita reduzir até 40% do valor do contrato, enquanto a prefeitura sugere 70%, o que para Pap, inviabiliza o trabalho. Desde o dia 20 de maio o contrato está suspenso pela prefeitura, e no momento está sendo reavaliado pela Procuradoria do Município. O Circolo Social atua há 17 anos na cidade, e este ano conta com 375 alunos inscritos.
Aulas online ampliaram alcance do trabalho do Circolo
A discussão de bastidores sobre o contrato parece não levar em conta o grande alcance que o trabalho registra junto à comunidade buziana. Neste período de isolamento social, a programação oferecida pelo Circolo, que inclui exercícios físicos, rodas de conversa, espetáculos circenses, de dança e teatro, oficinas e entrevistas diversas, tem conquistado novo público, ajudando principalmente os jovens, neste confinamento. Ao invés de perder alunos, através do trabalho online o projeto está ampliando a divulgação e o alcance do conteúdo oferecido. Nas redes sociais são inúmeros os depoimentos que reconhecem a importância do trabalho online. Muitos afirmam ter descoberto o circo pela internet.
Opinião
Chama a atenção nesta negociação entre o Circolo e a prefeitura de Búzios, a dificuldade do poder Executivo em reconhecer que bastam alguns ajustes no escopo do contrato para que o projeto siga acontecendo online. O Ministério Público já se pronunciou a favor da manutenção do contrato com redução de 25% do valor, afirmando que as aulas virtuais são uma tendência mundial, que deve ser aceita e incentivada, pois ajuda os jovens que já estão sofrendo em confinamento.
Se a ideia da prefeitura ao suspender o contrato ou ao propor a redução em 70%, visa economizar o gasto público para direcionar mais este dinheiro ao combate da pandemia, deveria perceber que o dinheiro na verdade já está sendo utilizado para este fim, contribuindo com a sanidade física e mental de centenas de jovens que estão sem escola e sem convivência social.
Hoje a sociedade discute se não seria mais correto reduzir contratos de recolhimento de lixo, já que os hotéis e restaurantes estão fechados, o que diminuiu consideravelmente o volume e o peso a ser retirado, ou contratos de limpeza de escolas, que também não têm necessidade neste momento, entre diversos outros.