por Monique Gonçalves e Laís Vargas
Moradores de Macaé, Rio das Ostras e São Pedro da Aldeia tiveram seus nomes expostos na semana passada
Um dossiê produzido pelo deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP) com o objetivo de intimidar pessoas que participam de movimentos de Esquerda e progressistas expôs diversas pessoas da Região da Costa do Sol, no interior fluminense. A denominada “lista de antifascistas” foi disseminada na internet desde a semana e revela nomes de supostos “antifascistas”, juntamente com perfis nas redes sócias e até telefones e endereços. A lista contém mais de mil pessoas, incluindo 2 pessoas de Macaé, 3 de Rio das Ostras e 1 de São Pedro da Aldeia.
Investigado pelo STF no inquérito das fake news, Garcia anunciou na última quinta-feira (4) ter entregue ao Governo Federal o dossiê que foi vazado na internet logo depois. Segundo o bolsonarista, o antifascismo seria um “grupo de extermínio”. O mesmo deputado foi visto, em vídeo, enaltecendo o grupo fascista e neo-nazista ‘Carecas do ABC’. Esse grupo paulista estão envolvidos na morte motivada por homofobia de Edson Néris da Silva, em 2000.
A Prensa conversou, com exclusividade, com duas das mulheres expostas na lista: uma de Rio das Ostras e outra de Macaé. A entrevistada de RO preferiu não revelar seu nome, apenas seu apelido, Tica. Ela, que é presente em movimentos progressistas e de Esquerda desde 2012, conta que descobriu sobre a exposição de seus dados durante a madrugada da última quarta-feira (3), o que acabou acarretando em uma crise de ansiedade.
“Eu não tive meu endereço divulgado. Mas expuseram todas as minhas redes sociais, meu número de telefone e minha página de trabalho. Acabei tendo que desativar tudo, porque com a divulgação expuseram minha filha também. Ela é uma criança, tenho que zelar por ela. Creio que uma das intenções desse deputado seja nos prejudicar justamente nisso”, afirmou Tica de 23 anos.
Para a jovem, a exposição tem como objetivo expor pessoas envolvidas em algum movimento de contracultyura, como góticos e punks, e também militantes de causas progressistas, como antirracistas, LGBTs, feministas e etc.
“Mas, ao mesmo tempo, querem nos intimidar, porque o vazamento de dados privados é uma ferramenta de intimidação. Por isso, entrei com uma ação coletiva. Fui aconselhada a fazer apenas isso, por enquanto, mas se receber alguma ameaça recorrente a exposição, serei obrigada a tomar outras medidas”, explicou ela.
Perguntada sobre o que falaria para outras pessoas expostas, Tica afirmou que não se consegue nada com o silêncio, e por isso, todos tem que se pronunciar. “Quem ganha com nosso silêncio são eles. Aqueles que nos expõem, nos colocam em risco e nos reprimem. Só nós sabemos a força que temos juntos”, concluiu Tica.
A Prensa também conversou com outra mulher citada: Fátima Amado. Ela disse que ficou sabendo por uma pessoa de São Paulo que teve acesso ao dossiê, viu fotos e dados, a reconheceu, e a enviou, recomendando que tivesse muito cuidado a partir de então.
Quanto os motivos ela explica que deve ser pelo seu engajamento político a favor da democracia. “Tenho certeza que por ser servidora pública, professora, pelo meu ativismo a favor da democracia e contra o fascismo, nazismo e racismo. Potencializado agora, mais ainda, nesse governo, qur pelo visto, criminaliza tudo aquilo que acredito e que tenho amparo na Constituição. Estou contatando um advogado para resolvermos se farei um Registro de Ocorrência, uma ação cível ou os dois. Até porque, sei do risco que corro, já q o dossiê foi vazado e qualquer um tem acesso a ele. Em tempos de extremismo, todo cuidado é necessário”, comentou.
Cartunista Carlos Latuff na ‘Lista de Antifas”
Um dos listados no dossiê do deputado bolsonarista Douglas Garcia, é o famoso cartunista Carlos Latuff que, em suas redes sociais, reforçou a bandeira. “Sim, sou mesmo antifascista, e continuarei sendo! ”, tuitou. Latuff ainda relacionou o dossiê intimidatório com a perseguição realizada pela polícia secreta nazista (Gestapo). “Essa coisa de dossiê pra intimidar, chantagear, perseguir opositores não foi inventada por bolsonaristas. Houve uma época muito conhecida da História, em que tais dossiês eram cuidadosamente preparados por um órgão chamado Geheime Staatspolizei, também conhecido como…Gestapo!”, disse ainda.