A Brasa queimou as palmeiras,
O vermelho correu como sangue.
Fuligem, no seco, afogou.
Até cobra se perdeu no mangue.
O boto afundou,
De medo corou o céu
E até Charía fugiu, se assustou.
O ar faltou nos pulmões,
As flechas partiram no fogo.
Tradições afogadas,
Guardadas como tesouro
Por Iara.
Correria, cansaço, estouro
Pegadas fincadas na mata.
No peso da fome índio lutou
Mas vira mundo veio,
E no açoite gritou.
Antes do final,
Iemanjá foi quem chorou.
Contorceu-se em desgosto,
Navios negreiros quebrou.
Quem trazia, eram seus filhos:
Ogum, Oxóssi e outros Orixás.
Iansã os ventos dobrava,
Mas rasgar as velas era incapaz.
Anjinhos ousados o barco ocupavam
Vôos de medo,
Eles alçavam.
Ao chegar,
Na senzala,
O enfraquecido Tupã brigou com Oxalá.
Mas vendo formigueiro e colar
Jaci e Exu apartaram a discução.
Filho tava morrendo,
Pedindo clemência e perdão.
Pouco depois veio Alláh
Deus bom, Deus justo,
Vindo das areias.
Os Malês resolveu libertar.
E instigando o vento e a Maldita fala
Fez seus filhos bravamente lutar.
Mas quem sobrou foi O Senhor.
E o resto que vinha,
À Salvador,
Foi atirado ao mar.
Como deviam
Ogum e Oxóssi,
Reencontrando-se, apertaram as mãos.
Soltaram algemas e venceram:
Estrada, Mato e Escuridão.
Quando surgiu Capitão:
Negro, Índio, Mameluco e Cafuzo
Com arma na mão.
Gostava da escravidão,
Como Negro da Casa
Que ria da senzala.
Assim Oxóssi cortejou Ceuci
E para ela fez um belo barraco,
No meio da floresta,
De palha e de barro.
Que como mãe acolhia
Quem vencesse todas as encruzilhadas.
Ogum guardava a porteira
E Abaçai esperava a ronda.
Curupira, com caçador e capitão, brincava
E Boitatá lambia
Fazenda, Engenho e parede de Senzala.
Eu sou Negra, Indígena e Caraíba.
Surgi no Basil,
Mas minha casa é Pindorama.
A bela terra das Palmeiras,
Com trilhas de lama.
- Por Larissa Schmitt (25/11/2019 às 14:10)