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“Rosa Vermelha” manda lembranças

Rosa Vermelha
Rosa Vermelha

 

“Rosa Vermelha”, codinome dado pela imprensa carioca ao justiceiro que abatia suas vítimas com tiros disparados por sua pistola calibre 45. O nome era devido às marcas das balas deixadas em suas vítimas, que lembravam aquela flor. Imagem ilustrativa 

O ano era 1968 e o Rio de Janeiro assistia pela imprensa à escalada de uma onda de violência. Os jornais, programas de rádio e a televisão davam cada vez mais espaço às reportagens sobre assaltos e confrontos entre bandidos e policiais.  A letalidade destes confrontos na época, não chegava nem perto do que acontece nos dias de hoje, mas era suficiente para deixar a população apreensiva, e a imprensa daqueles dias percebeu perfeitamente aquele sentimento.

O jornalismo policial daqueles dias fez  uma operação discursiva muito importante que na minha opinião, ajuda bastante a entender como esta mesma imprensa passou a descrever a violência na cidade, e como a população carioca  a percebeu.

O que eu quero é fazer uma genealogia da narrativa do “Bandido Bom é Bandido Morto”, esta narrativa não caiu do Céu, pois a população do Rio de Janeiro não nasceu falando isso. Estou em busca do momento em que o ovo desta serpente foi colocado no ninho.

Em outra coluna mencionei o livro do jornalista Davi Nasser sobre a atuação de Felinto Müller à frente da Chefia de Polícia do Rio de Janeiro. Davi Nasser praticamente reinventou o jornalismo policial brasileiro. Mas ele não teria tanto sucesso, não fosse também o trabalho valioso do fotógrafo francês Jean Manzon. Ambos ajudaram a criar uma nova narrativa sobre as personagens do submundo do crime carioca.

Cara de Cavalo, morto em Búzios (quando ainda era 2º distrito de Cabo Frio) em 1964 foi imortalizado na celebre obra de Helio Oiticica, “Seja Marginal Seja Herói”.Foram 100 disparos, destes 52 atingiram o bandido, 25 deles na região do estomago.Montagem Prensa de Babel 

Bandidos como “Cara de Cavalo”, “Mineirinho”, entre outros, enchiam as páginas dos jornais cariocas e fundaram uma nova maneira do público perceber a criminalidade no Rio de Janeiro. A partir do final da década de 60, tornou-se cada vez mais comum esta imprensa carioca  fazer alusões a uma suposta “guerra” da sociedade contra o “crime”. De um lado, os policiais retratados como paladinos da Justiça e de outro, o “bandido”, muitas vezes pintado como uma figura quase sobrenatural.

A percepção do público sobre a morte violenta mudou. Antes, esta morte era descrita como uma aberração, algo que quebrava todas as regras de humanidade, fosse ela de um cidadão comum, ou de um bandido, esta morte era para todos os efeitos, algo abominável. Mas então, a partir daquele período, um novo sentimento surgiu em meio a este público. As constantes matérias sobre a ‘guerra” da polícia carioca contra o crime ajudaram a sedimentar nesta população, o sentimento de que a morte poderia sim, ser uma “solução” para o problema da criminalidade na cidade.

Ou seja, é possível perceber no jornalismo policial carioca de meados dos anos 50, o surgimento de uma nova mentalidade, a de que a morte de bandidos era não apenas necessária, como até mesmo desejável. Faltava então, as personagens que dariam forma a esta nova mentalidade.

Os exemplares da “Última Hora”, periódico carioca criado pelo jornalista Samuel Wainer mostram bem esta mudança de sensibilidade. Em uma série de reportagens publicadas entre 1968 e 1970, um novo ator no combate ao crime no Rio de Janeiro entrava em cena, o “Esquadrão da Morte”, título genérico dado às ações de grupos de policiais organizados para exterminar sumariamente foras- da -lei.

Nessa época, uma personagem   ganhou destaque na imprensa era “Rosa Vermelha”, codinome dado pela imprensa carioca ao justiceiro que abatia suas vítimas com tiros disparados por sua pistola calibre 45. O nome era devido às marcas das balas deixadas em suas vítimas, que lembravam aquela flor.

O “Vampiro” de Niterói, que estuprava e matava crianças, na maioria das vezes crianças. Algumas ele chegou a beber o sangue- daí o apelido “vampiro”. Um vez viu um culto religioso deste da TV que crianças iam todas pro céu. Por isso, na sua logica, não ataca adultos porque poderia leva-los para o inferno. Foto Jornal do Brasil 

Pouco tempo depois, aparecia o “Vampiro”, um outro justiceiro, que colocava o sangue de suas vítimas, geralmente criminosos acusados de terem cometido crimes como assaltos, estupros e assassinatos.  O padrão era o mesmo: um telefonema era dado para toda a imprensa carioca, um corpo encontrado em um terreno baldio.

Para cada assalto ou morte noticiados burocraticamente, havia uma outra matéria sobre os esquadrões da morte. A mensagem parecia ser essa: se o crime tinha escapado ao controle das autoridades, e os bandidos agiam como bem queriam, aqueles justiceiros eram  a solução para o problema. Bem, o ovo da serpente já havia chocado.

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Minha tese é a seguinte: o discurso do “Bandido bom, bandido morto” só pôde prosperar na opinião pública carioca, porquê antes, quase meio século atrás, a percepção da população carioca em relação à violência tornou-a cada vez mais favorável ao extermínio, como uma solução ao problema da Segurança Pública. Na minha opinião, isto fincou raízes profundas no imaginário do cidadão carioca. A narrativa do ‘justiceiro” sofreu modificações ao longo dos anos. No começo eram os Esquadrões da Morte, depois passaram a ser os “Capitães Nascimento do BOPE”, e agora esta personagem tem a sua versão política.

Os nomes e as personagens mudaram ao longo de todos estes anos, mas o enredo tem sido o mesmo: resolver o problema da segurança em uma cidade sitiada pelo medo só com a bala de prata do Justiceiro.

“Rosa Vermelha” manda lembranças.

 

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