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Senhora na liteira (uma espécie de “cadeira portátil”) com dois escravos, Bahia, 1860 (Acervo Instituto Moreira Salles).

 

Na semana passada publiquei um artigo onde discutia o efeito de longo prazo de uma instituição, no caso a Escravidão, sobre a desigualdade existente no Brasil de hoje. Argumentei que à primeira vista, parecia muito difícil explicar uma realidade atual, a partir de causas tão recuadas no tempo.

Foto da Fazenda Quititi, no Rio de Janeiro, 1865. Observe o impressionante contraste entre a criança branca com seu brinquedo e os pequenos escravos descalços aos farrapos (Georges Leuzinger/Acervo Instituto Moreira Salles).

Denominei este tipo de fenômeno de “efeitos de longo prazo”, e cheguei mesmo a idealizar um jogo, com o objetivo de mostrar que as oportunidades para populações que descendem de escravos foi muito diferente, quando comparadas com as populações que não descendem de escravos

É interessante observar que se pegarmos a relação de escravos existentes nos municípios brasileiros em 1872, e compararmos com a medida de desigualdade de renda das populações destes mesmos municípios atualmente, podemos perceber que existe uma correlação positiva entre estas duas variáveis. Ou seja, municípios brasileiros que tinham uma parcela grande de escravos em sua população, lá no distante século XIX, hoje apresentam índices de desigualdade de renda maiores do que outros municípios, onde a presença da escravidão não foi tão grande.

Como se costuma dizer, correlação não é necessariamente uma causa, mas significa pelo menos, que onde há fumaça, também tem fogo. Usando uma analogia culinária, vamos supor que os dados que hoje estão ao nosso dispor sejam os “ingredientes” de uma receita, no caso, tentar saber a influência da escravidão sobre a desigualdade de hoje.

Quitandeiras em rua do Rio de Janeiro, 1875 (Marc Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles).

Esses “ingredientes” seriam a proporção de escravos em uma população, no ano de 1872, quando foi realizado o Censo do Império. Além dele, podemos pegar os dados atuais desta população, como a desigualdade de renda, o PIB per capita, a diferença de renda a partir de raça, assim como a diferença de escolaridade.

A maneira como todos estes “ingredientes” são processados para nos oferecer um resultado é chamada de modelo. O leitor pode pensar este “modelo”, como aquelas máquinas de café, onde dependendo dos ingredientes que inserimos na máquina, o “resultado” será um café mais ou menos fraco. Como o próprio nome diz, modelos não são expressões fiéis da realidade, mas nos ajudam um bocado a entender como ela funciona.

Este modelo nos diz que se aumentarmos em apenas 1% a população escrava em um município brasileiro, isso lá em 1872, a desigualdade renda, medida pelo índice de GINI no século XXI, aumentará em pelo menos 13%. Ou seja, se um município como Cabo Frio aumentasse em apenas 1% o número de escravos no século XIX, a desigualdade de renda entre brancos e negros , atualmente seria 13% maior do que é hoje.

A presença da escravidão ajuda explicar também a explicar as diferenças de renda e educação entre brancos e negros no Brasil de hoje. O que aconteceu no passado chega ao nosso presente, como uma sombra.

Alguém poderia argumentar: mas qual a cadeia exata de eventos que permite entender exatamente o que aconteceu?

João, que era escravo, ganhou sua liberdade, casou teve filhos, e estes também tiveram filhos e assim por diante e então, no século XXI, os descendentes desta linhagem têm menos oportunidades de que os brancos? Então é isso?

O modelo não nos permite acompanhar a sequência, como na técnica do flash back” do cinema. No entanto, ele permite entender algo que os historiadores procuram há muito tempo, o efeito do passado sobre o nosso presente.

Como disse, se quiséssemos ficcionar a realidade, contrataríamos um diretor de cinema e ele faria uma bela sequência em “flash back”, com imagens coloridas e belos efeitos especiais. Mas, como dizia Caetano Veloso, a diferença entre uma fotografia colorida e outra em preto em branco é que a realidade, geralmente, é em preto e branco.

Senhora na liteira (uma espécie de “cadeira portátil”) com dois escravos, Bahia, 1860 (Acervo Instituto Moreira Salles).

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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