No último domingo (23), um cinegrafista da Inter TV, afiliada da Rede Globo, foi agredido. Rogério de Paula estava cobrindo a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson em Comendador Levy Gasparian, no Rio de Janeiro, quando foi agredido por um apoiador do político no bairro Gulf. A ação gerou movimentação no local e indignação de profissionais da imprensa nas redes.
Em um vídeo publicado no Instagram, o repórter da Inter TV Carlos Miranda, que acompanhava o cinegrafista, esclareceu sobre a situação vivenciada. “Quando nós chegamos, fomos recebidos por um grupo de apoiadores do ex-deputado, que começaram a hostilizar a imprensa, a tentar expulsar a gente e impedir o nosso trabalho”. O jornalista contou que, ao perceberem o clima de tensão, resolveram se afastar do local. “Nós não reagimos a nenhum tipo de violência”, explica. Os ataques, no entanto, permaneceram, até que em certo momento um homem bateu na câmera do cinegrafista e deu um chute em suas costas. “A câmera acertou a cabeça do Rogério, deixando-o tonto”.
Rogério já passou por uma cirurgia na cabeça devido um aneurisma e a câmera acertou exatamente o local onde ele fez essa cirurgia. “Rogério ficou tonto e teve uma ameaça de crise convulsiva, passou a suar muito, mas aí nós tentamos acalmá-lo e ele foi ficando melhor”, disse. Momentos depois ele foi atendido pelo Corpo de Bombeiros e levado para o Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Três Rios. Rogério passou por exames ontem e passa bem. De acordo com informações recebidas, o cinegrafista passou a noite sendo monitorado na UTI por precaução devido seu histórico médico.
“É bom lembrar que o trabalho da imprensa é cobrir o que acontece no nosso país para informar a população, para trazer informação para as pessoas para que elas entendam o que está acontecendo no nosso país”, esclareceu o repórter. Miranda afirmou ainda que é lamentável que esses casos ocorram. “Eu espero que a gente possa superar esse momento, que a gente possa viver em paz porque nosso país sempre foi um país de paz e eu espero que a gente continue assim, vivendo em paz”. O jornalista disse que deseja que esse ódio passe e que as pessoas reflitam sobre suas atitudes. “São trabalhadores honestos, corretos que estavam ali apenas cumprindo a função de informar a população”, afirmou.
Segundo a polícia, o acusado de agressão será intimado para depor hoje. Não há atualização sobre o estado de saúde do cinegrafista hoje, mas a previsão é de que receba alta na parte da tarde.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e os Sindicatos de Jornalistas do Município do Rio de Janeiro e do Estado do Rio de Janeiro divulgaram nota de repúdio após o caso de violência no último domingo (23) no interior do estado. Em nota, as instituições cobram a punição do agressor e condenam mais um ato contra profissionais da mídia. Veja alguns trechos abaixo:
Fenaj
“Não podemos naturalizar e nem aceitar essa situação. Desde 2019, houve uma explosão da violência contra a categoria, a partir da chegada ao poder da extrema-direita. Passamos de 135 agressões, em 2018, para 430 em 2021.
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e os Sindicatos de Jornalistas do Município do Rio de Janeiro e do Estado do Rio de Janeiro repudiam e condenam mais esse ato de violência contra um trabalhador da mídia. Ao mesmo tempo, cobram das autoridades a apuração e punição do agressor.”
Abraji
“A Abraji se solidariza com o repórter cinematográfico Rogério de Paula e toda equipe da InterTV. Espera que as autoridades fluminenses investiguem com celeridade a agressão ao cinegrafista. É inadmissível que profissionais de imprensa sejam impedidos de realizar o seu trabalho de levar informações de interesse público para a sociedade.
Além do ataque contra o repórter cinematográfico, foram registradas hostilidades contra outros jornalistas no entorno da casa do ex-deputado. Isso é sinal de que, nos próximos dias, todas as entidades que prezam por um ambiente democrático no Brasil devem permanecer vigilantes em defesa do exercício do jornalismo.
A Abraji também pede especial atenção das autoridades de segurança pública do país para que jornalistas tenham condições de trabalhar em segurança. Recomenda ainda que veículos de imprensa reforcem orientações e condições de segurança a seus profissionais na cobertura eleitoral”.