Documento descarta que alteração na qualidade da água do rio esteja associada ao lançamento de esgotos sanitários
A Prensa de Babel teve acesso ao relatório das duas amostras coletadas pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) no Rio Una e nos seus efluentes para investigar o que pode estar provocando a mudança na coloração da água e mal cheiro na extensão do corpo hídrico. O resultado descarta que alteração na qualidade da água do rio esteja associada ao lançamento de esgotos sanitários, mas aponta que pode haver influência de “contribuição agroindustrial”.
As amostras foram coletadas nos dias nos dias 26 de janeiro e 1º de fevereiro nos seguintes pontos: 1 – Rio Una à Jusante do Canal do Arroio, na estrada da Agrisa, próximo a Fazenda Araçá; 2 – à montante do primeiro ponto, no Canal do Arroio; 3 – Foz do Rio Una; 4 – entrada e saída da ETE Jardim Esperança; 5 – Canal da Malhada (local de lançamento do efluente da ETE Jardim Esperança).
Segundo o relatório, todos os pontos coletados apresentaram Oxigênio Dissolvido (OD) abaixo de 5 mg/l, que é o padrão recomendado pela Resolução CONAMA 357/2005 para manutenção da vida aquática.
Quanto ao parâmetro de coliformes fecais, em todas as estações de amostragem, apresentaram resultados típicos de áreas rurais com criação extensiva de bovinos. O maior resultado foi encontrado no Córrego da Malhada, que recebe a carga orgânica da Estação de Tratamento de Esgoto de Jardim Esperança, ainda na sua zona de mistura. Mas esses fatores não conferem coloração escura para as águas do Rio Una, uma vez que a Cor verdadeira encontrada no Córrego esteve dentro do esperado na resolução CONAMA 357/2005.
Ainda de acordo com o relatório, os parâmetros indicativos de lançamento de esgoto sanitário se mantiveram baixos nos pontos coletados no Rio Una, confirmando que a alteração na qualidade do rio verificada não está associada ao lançamento de esgotos sanitários.
De acordo com a análise do Inea, em todos os pontos analisados no Rio Una se verificou coloração escura e com resultados elevados para Demanda Química de Oxigênio (DQO). Essa coloração pode ser justificada pelos ácidos húmicos presentes no solo, que conferem essa particularidade.
O órgão ressalta que ressalta que nas semanas anteriores à ocorrência do fenômeno foi verificada a incidência de forte chuva, o que pode ter intensificado a influência de alguma contribuição agroindustrial, causada por fertirrigação e por percolação difusa ao longo da área vistoriada.
Compara a situação do Rio Uma atual com dezembro de 2013, que após a ocorrência de fortes chuvas como as que ocorreram no início de janeiro desse ano, já foi evidenciada a alteração da coloração da água do Rio Una, com alteração impactando negativamente as águas da Praia Rasa
O Inea aponta que umas das hipóteses para a ocorrência desse fenômeno, tendo como base as vistorias e amostragens realizadas ao longo do Rio Una e áreas adjacentes, é de que a coloração escura apresentada no rio se deve, provavelmente, ao escoamento superficial das águas em solos com elevada concentração de ácidos húmicos, uma vez que a bacia hidrográfica em questão é na sua maioria formada por trechos alagados.
Avaliação corpo técnico do Movimento SOS Rio Una
A equipe técnica do Movimento SOS Rio Uma avaliou o documento. Segundo eles, o que chama a atenção é que todos os resultados de nitrito e nitrato no Una estão faltando neste relato técnico. Para checar a tal da hipótese de fonte agroindustrial é preciso analisar a água que chega no Una, vinda do canal que vem da fonte agroindustrial e que ainda não foi feita.
“Esse oxigênio 0 ou perto de zero, como também indicado pelo Inea deve ser por carga orgânica mesmo, diferente do que foi sugerido antes e isso afeta bem acima do ponto 3 (a Foz). Nesse ponto houve melhora na segunda coleta, mas lá tem forte efeito da maré, havendo diluição do que vem de montante durante a maré enchente. O relato não aponta condição de maré. Se foi um dia na vazante e outro na enchente, claro que haverá diferença”, explicou o corpo técnico.
Sobre o Rio Una
O relatório do Inea apresenta algumas características do Rio Uma. O órgão explica que a bacia hidrográfica drena uma área de 477 km², compreendendo parte dos municípios de Cabo Frio, Araruama, São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande. O Una, com cerca de 30 km, apresenta, na maior parte de seu percurso, trechos retificados, atravessando uma zona alagada composta pelos pântanos do Itaí, Irimuru e do Malhado.
No seu curso superior, pela margem esquerda, recebe afluentes de pouca expressão. Pela margem direita, afluem os Rios Carijó, Posse, Papicu, Flecheiras, o Córrego do Retiro e os canais do Pântano do Malhado e do Pântano do Iraí, todos desaguando, principalmente, nos alagadiços, sem apresentarem percursos definidos até a confluência com o Rio Una.
Consequências da poluição:
A poluição tem afetado famílias que dependem da pesca para sobreviver em Búzios. Leia a matéria publicada no site da Prensa nesta sexta-feira (11).