Pais de menina com microcefalia poderão cultivar a planta e produzir o remédio em casa
Emitido na tarde de quinta-feira (27), o Salvo-conduto nº 510003545307 assinado pela juíza federal Monica Maria Cravo, é o primeiro da baixada litorânea e região dos lagos, a permitir o autocultivo da cannabis medicinal.
A ordem de Habeas Corpus foi concedida a Denise Fogel e seu marido, Rodrigo Soares, que agora poderão plantar a cannabis e produzir o óleo extraído da planta para uso terapêutico no tratamento de saúde de Gabriela Soares, filha do casal, portadora de microcefalia.
Advogado, ativista da causa e presidente da comissão de estudos do uso da cannabis medicinal na OAB Búzios, Hamber Carvalho destacou a importância desta conquista que privilegia o preceito constitucional do direito à saúde e à vida.
– O autocultivo com toda a segurança jurídica vem trazer a garantia de que Gabriela, nossa pequena Gabi, de apenas quatro anos de idade, tenha acesso permanente ao remédio que tanta precisa para se desenvolver e viver com qualidade. Agradeço muito à Dra. Mônica Cravo, juíza federal de Macaé, ao procurador federal Flávio de Carvalho Reis e ao advogado Helio Ribeiro Junior – destaca Hamber.
Uma história de sucesso
Grávida de Gabi em 2015, Denise teve os sintomas da zika logo nos primeiros meses de gestação, mas o exame realizado não confirmou a doença. Quando Gabi completou seis meses de idade, seus pais não notavam a evolução da bebê, que pouco interagia com a família. Com estrabismo e pouco desenvolvimento cognitivo, Gabi foi diagnosticada com microcefalia devido à zika. Exames mostraram alta carga viral da doença, confirmando que realmente Denise contraiu zika na época da gestação.
– Foi uma surpresa para nós, não sabíamos. A médica neurologista explicou que o encefalograma da Gabi mostrou que ela apresentava risco de epilepsia, por isso tinha crises de ausência. Começamos então com remédio anticonvulsivante, mas ela evoluía durante um mês e depois perdia tudo, voltava a ter crises de ausência. Trocamos o remédio diversas vezes e sempre acontecia a mesma coisa. Foi quando no hospital do cérebro, recebemos a indicação para procurar uma médica que utilizava o canabidiol. E isso mudou tudo! – conta Denise.
Com laudo de cem por cento de epilepsia, mesmo usando os anticonvulsivantes, Gabi passou a fazer uso do canabidiol diminuindo de cem para oitenta por cento, logo nas primeiras três semanas de uso. A partir daí, Gabi passou a tomar somente o canabidiol e em três meses a epilepsia já tinha baixado para vinte por cento.
– Antes do canabidiol a Gabi não evoluía. Começava a ter controle de cabeça, tronco mais firme, mais depois de um mês ela perdia tudo novamente. A epilepsia é como se os neurônios fossem fritados no cérebro. A criança não consegue avançar. Mas a cannabis medicinal mudou tudo. Sou cristã e tinha muito preconceito em relação à planta da maconha, mas o canabidiol pra gente é vida, benção, evolução, é maravilhoso, este remédio é tremendo na nossa vida. Hoje temos que divulgar muito este benefício da cannabis, falo para todas as mães que vejo com criança com problema como a Gabi, porque a cannabis é vida – reforça.
Denise conta que a última visita de Gabi ao oftalmologista deixou o médico extremamente impressionado. Sem ver a menina há cerca de um ano, o médico se surpreendeu com a postura, a evolução da parte cognitiva e a grande melhora na visão.
– Em relação ao estrabismo, um dos olhos já voltou para o lugar e o outro está quase bom. O oftalmologista não entendeu nada. Achou a evolução dela incrível, disse que parecia outra criança, completamente diferente. Ele me perguntou que tratamento eu estava fazendo com a Gabi e quando falei da cannabis ele disse que também vai começar a estudar sobre a planta. Antes da cannabis a Gabi não pegava nada, não levantava os braços, não interagia nada com a gente. Só ficava parada, toda molinha, nem sustentava o tronco. Agora participa de tudo, quer pegar tudo, desce do sofá sozinha, movimenta as pernas, quer andar com a gente, usa o andador bem ativa, já balbucia mãe, faz sons que não fazia antes, sorri, antes ela só olhava para a luz, hoje olha pra gente, observa nosso rosto, reconhece as pessoas. Agora fica em pé, tem controle de cabeça, interage bastante, vê os irmãos e fica super feliz, demonstra alegria e todos nós aqui, eu, meu marido e meus filhos, estamos maravilhados. Em 9 meses de uso, Gabi foi além do imaginado. Agora está cheia de vontade, o que é uma evolução incrível! Tudo o que ela faz hoje é um milagre. Com a cannabis ela só teve evolução, está tendo reconstrução dos neurônios e barrou a epilepsia – comemora Denise, e todos nós!