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Reflexões de quinta: Carnaval, fantasia, confete, serpentina, purpurina e…

 

Chegamos ao momento mais esperado do ano para a maioria dos Brasileiros. Época em que as ruas são invadidas pelos tradicionais bloquinhos de carnaval, que a cada ano vem ganhando mais adeptos em todo o Brasil. Período em que a liberdade de expressão, do movimento, dos desejos e da criatividade estão em sua potência máxima. Momento do ano em que a ordem social vigente parece ser substituída pela lógica da permissividade, ou seja, tudo pode, afinal é carnaval!

A impressão que tenho é que substituímos a ordem social vigente pela lógica cantada por Chico Buarque de Holanda: “não existe pecado do lado de baixo do equador”. Onde as pessoas se juntam para celebrar a “maior festa da terra”. Pobres e ricos têm a possibilidade de se encontrar para festejarem juntos o carnaval, deixando de lado as hierarquias sociais que os separam no restante do ano. O negro, o ano todo sendo invisibilizado, barrado, morto e esculachado, vira protagonista.

As fantasias nos permitem ser o que quisermos. Podemos ser reis, rainhas, palhaços, dançarinas. Nossas dores e dificuldades são encobertas e colocadas para baixo de nossas máscaras alegres. Momento em que nossas amarguras são substituídas pela alegria de ver nossa escola favorita entrando na avenida. Como nos disse o antropólogo Roberto DaMatta: “o carnaval é a possibilidade utópica de mudar de lugar, de trocar de posição na estrutura social”.

Com toda a possibilidade de volatilidade e flexibilidade de como carnaval no Brasil é interpretado e vivenciado, não podemos esquecer que NÃO continua sendo NÃO, mesmo no carnaval. Ou seja, o bom senso e o respeito são itens indispensáveis no “kit carnavalesco” de qualquer folião. Dessa forma, é bom deixar bem claro que o excessivo calor, a pouca roupa e o álcool não são convites para que o corpo de uma mulher seja tocado ou beijado sem seu consentimento.

Precisamos nos despir das fantasias do machismo e da violência que, infelizmente, ainda fazem parte do nosso cotidiano de forma muito ativa. Desmascarar o assédio que se apresenta sobre a pecha de paquera é urgente, seja no carnaval, na noite ou na Sapucaí. Entendam, o ponto aqui não é a proibição do flerte, da paquera ou a defesa de uma lógica moralista sobre as trocas afetivas efêmeras no período do carnaval. É sim a ideia de que essas trocas sejam decisões de ambas as partes e não uma decisão unilateral.

Porque quando uma mulher diz NÃO ela quis dizer NÃO. Assim, qualquer atitude invasiva que venha depois do NÃO se configura como assédio. É bom lembrar da lei 13.718/18 de importunação sexual que estará na avenida nesse carnaval. As pessoas que praticarem toques inapropriados, e as famosas encoxadas, sem o consentimento da outra parte, estão sujeitos a pena de prisão. Tocar, beijar, agarrar ou qualquer outro ato libidinoso, sem o consentimento, que vise satisfazer a própria lascívia, é passível de ser punido com pena de prisão de um a cinco anos.

Nesse carnaval nós mulheres poderemos brilhar com toda nossa purpurina e nos divertir com nossas fantasias confetes e serpentinas, sem sermos encoxadas, puxadas, importunadas e beijadas sem o nosso consentimento. O carnaval será apenas motivo de festas e de alegrias. Os homens precisam compreender de uma vez por todas que NÃO É NÃO! Em caso de insistência ligue 180.

 

*Renata Souza é Bacharel em Sociologia, Mestra em Sociologia Política e foliã

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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