“A ciência não pode provar a existência de Deus. Só a fé pode”. A frase foi dita por um conhecido rabino na semana passada. Ele afirmou ainda que a ciência lida com as verdades físicas e que a religião lida com as verdades alcançadas pelas sensações e pelos sentidos. Isso mostra o quanto o pensamento primitivo ainda está presente no mundo atual.
Aristóteles, em sua querela com Platão, já afirmava que não há como entender a realidade a não ser através dos nossos sentidos, embora reconhecesse, tal como o aluno de Sócrates, que a realidade certamente não tem a aparência que nos pareça ter. Ao contrário do que o Rabino afirmou, é necessário método para escapar das impressões falsas dos sentidos.
Todo cientista hoje sabe que isso não importa para que se compreenda o funcionamento do universo. O fato dos sentidos nos enganarem em relação àquilo que nos vêm de fora, não significa, por isso, que devamos abandonar a ciência e abraçar as crenças. Estas últimas são sempre piores do que a ciência, pois se baseiam apenas no que advém dos sentidos. Temos que escolher aquilo que melhor explique a realidade, e a ciência é, de longe, o melhor referencial cognitivo para tal, pois trabalha com métodos (caminhos) e evidências (fatos) que se sobrepõem aos nossos sentidos enganosos sobre os fenômenos, e que estabelecem a maioria das supostas verdades religiosas.
A realidade não é relativa. Teoria não determina os fatos. Einstein acreditava em um universo estático e, achando que havia um erro em sua teoria, criou uma constante para que ela descrevesse o universo como estático, segundo a crença popular vigente. Mais tarde, porém, as observações do telescópio Hubble mostraram a realidade – o universo é dinâmico e está se expandindo. A realidade é o que é, temos que nos submeter a ela, e não o contrário.
O problema fica mais tenso entre ciência e religião quando a crença tem seus tentáculos na história e com isso interfere no comportamento humano. Na Idade Moderna européia, por exemplo, acreditava-se que os reis absolutistas, com um simples toque com as mãos, curavam os doentes. Hoje sabemos que os doentes eram em sua maioria camponeses que tinham escrófulas e que as mesmas eram curadas, com o tempo, pelos próprios anti-corpos que eles possuíam. Mas se na época você discordasse abertamente da miraculosidade do toque do rei você poderia facilmente ir parar na fogueira.
Vou dar outro exemplo mais conhecido. Hoje, milhões de pessoas ainda acreditam na fábula do Império de Salomão, da Bíblia. Pois bem, cinqüenta anos de pesquisas científicas (históricas e arqueológicas) provaram que este império jamais existiu. Se houve um rei chamado Salomão, ele era um insignificante chefe tribal, líder de uma população menor do que duas mil pessoas vivendo em algumas poucas aldeias dispersas. A arqueologia prova que ele nunca construiu um templo majestoso, nunca submeteu vastas áreas, e que a Judéia, em sua época, era apenas uma província dependente do Egito. Nem ao menos seu palácio suntuoso existiu.
Mas vá falar isso para os fanáticos ! Eles vão chama-lo de herege e condena-lo ao inferno eterno por não acreditar literalmente na narrativa bíblica. Não recuarão sobre sua crença nem que um milhão de evidências provem que ela é absurda.
Você deve estar pensando: mas se a ciência achar provas daquilo que a bíblia afirma ? Eu te respondo dizendo que imediatamente a ciência vai tratar a narrativa como verdadeira, como já trata, aliás, várias passagens históricas da bíblia, principalmente aquelas que datam do Rei Josias (632-609 a.C) em diante.
O que a ciência busca é a verdade. Ela erra e pode continuar errando, mas se conserta com grande facilidade quando novos métodos válidos e novas evidências apontam seus erros. Isso jamais acontece com o pensamento religioso. Ele se fia apenas em seus dogmas e em seus livretos supostamente sagrados. E pronto.
Se você duvida do poder da ciência em melhorar nossa vida e descobrir a verdade sobre o mundo real, olhe a sua volta. Veja a luz elétrica, os computadores, os celulares, a geladeira, o fogão, os milhares de aparelhos médicos que tratam nossas doenças, os antibióticos, as vacinas, os automóveis, os aviões. Veja como sua vida melhorou com isso tudo. Você já imaginou se a ciência tivesse recuado diante dos religiosos de plantão ? Você estaria morando na selva, usando uma lamparina de óleo de fígado de baleia e morrendo com trinta anos de idade de tuberculose.