Te encontro na luta
Madrugada de 14 de março de 2018, sono tranquilo, levantei da cama para ir ao banheiro e como de costume, dei aquela olhadinha no celular e dei um grito: – Victor! Mataram a Marielle! Nunca vou esquecer dessa cena, nem do sentimento de medo, dor, desespero e desolação. E mesmo agora, dois anos depois, eles estão aqui enquanto escrevo.
Marielle foi eleita vereadora e era o nome que carregava nossas esperanças de uma luta feminista atuante, para além do discurso, na prática, em ações concretas que transcendem a causa, que tocavam na promoção de leis e na fiscalização de sua aplicação. Uma mulher que não se curvava, que falava grosso quando fosse preciso e que tinha o sorriso mais cativante daquela câmara cheia de homens brancos perpetuadores do status quo.
Nos meses subsequentes me envolvi com a luta, não apenas eu, mas um monte de mulheres em todo o país. Nunca se viu um engajamento maior entre esse público, que tinha uma diversidade de perfis. Marielle uniu a todas nós. Tenho certeza, quem mandou matá-la, se arrepende amargamente, duvidaram de sua força e dos frutos que o assassinato frio e calculista que a tirou do nosso convívio produziria. Bando de covardes que não entendem nada.
No período de mais de um ano foram quatro atos na Praça Santos Dumont e intervenções na Praça da Ferradura. Ações que envolveram diversas mulheres, LGBTs e homens que viram em Marielle uma força que nos impulsionava a repetir suas ações. Cantamos, dançamos, recitamos poesia, nos abraçamos, nos fortalecemos. E durou para mim, o tempo que deveria durar, pelo menos enquanto pude contribuir e somar. As sementes, viraram brotos e agora dão frutos, em muitos lugares. Nenhuma luta é maior ou menor, e cada um escolhe em que frentes vai atuar.
De minha parte, sigo cobrando justiça, perguntando insistentemente, QUEM MANDOU MATAR MARIELLE? Quando teremos justiça para ela e para Anderson, seu motorista, assassinado no mesmo atentado? Quem matou está preso, no entanto, matou por dinheiro, o que não diminui a culpa, mas a motivação é o que importa para nós. Quem lucraria com a morte de uma vereadora eleita, que seria candidata em uma chapa majoritária ao governo do estado?
O que consola um pouco a alma, foi ter sido uma das vozes do interior do estado a corajosamente gritar em praça pública, cercada de truculência, MARIELLE PRESENTE! E nesse caminho ter ganhado irmãs de luta, e com elas, reforçar que nossas pautas importam. Nossos corpos importam, nossa vida importa. Sei quem eu sou e essa Camila, não muda ao sabor do vento.
É o fim do espetáculo, é o começo das mudanças por dentro, de termos nossas vozes respeitadas. Dois anos depois, Marielle está presente e vive em cada uma de nós que chora baixinho no ônibus apertado ou no escuro das ruas mal iluminadas, que sofre assédio moral e sexual, que tem nossa feminilidade mutilada, nossa voz abafada, impedida, cerceada. Mas que se levanta, fala mais alto, se impõe, se une a outras, e vence. Nós vencemos!
Marielle Presente! Hoje e Sempre!