Por Vilmar Madruga
Na longa caminhada como artista e curador conheci colegas de ambos ofícios, visitei muito ateliê Brasil a fora, sem falar na desconfortável posição de aprovar portfólios de gente com trabalhos muitas vezes mais inovadores ou relevantes que o meu. Já revelei este desconforto algumas vezes, em resposta a alguns convites mas as instituições alegam que não o fazem pelo que produzo mas pelo olhar que dirijo à produção contemporânea. Sendo assim, tudo bem.
Contudo, a lição talvez mais proveitosa que a involuntária experiência me trouxe é a de que o talento de um artista é diretamente proporcional à sua modéstia. Explico: artistas de sólida carreira e obras contundentes em sua maioria tem caráter generoso, modesto, quase simplório. E o contrário também é verdadeiro. Tirantes raras exceções, quanto mais equivocada ou rasa a produção de um artista mais arrogante é sua postura.
Tudo isto é para dizer que tenho tido a feliz oportunidade de conviver com três artistas que aliam qualidade de produção, ética profissional e caráter generoso: Rafael Vicente, Rodrigo Pedrosa e Cesar Coelho. Já os conhecia cronologicamente nesta ordem, mas foi em visita aos ateliês da Fábrica Bhering e aos bate-papos regados a cafezinho que estreitamos nossos relacionamentos. Daí a nos juntarmos para uma exposição em Búzios foi um pulo.
Rodrigo Pedrosa comanda a Galeria de Arte Numero 1, no Shopping de mesmo nome no inicio da Rua das Pedras, aquele do rock and roll nas madrugas. Resolvemos então fazer no local uma ocupação de verão com quatro companheiros e uma só idéia: mostrar nossa produção mais recente. A coletiva permanente só será interrompida entre 15 e 30 de novembro para abrigar na GN1 a exposição de dois artistas portugueses.
Assim aproveito para voltar a Búzios, já que minha despedida da cidade está mais para a do cantor Orlando Dias, um que nos anos 70, se despedia dos palcos todos os meses e não ia embora nunca.
Escolhemos para o visual de nosso convite a foto aí da matéria que sugere três marmanjos fazendo o numero 1. A imagem remete também ao trabalho A Fonte do Marcel Duschamp considerado um precursor da arte contemporânea, ao retirar de um sanitário publico um urinol masculino e lhe dar um status de obra de arte. A associação é proposital já que a questão “isto-é-arte? “ parece ter voltado à pauta, ainda que a produção dos quatro artistas ora expostos mantenha a sobriedade e fidelidade à pesquisa que os caracteriza. A mostra inaugura às 18;00hs no próximo dia 3, sexta-feira, durante o feriadão. Bora lá.
Texto de opinião. Não corresponde necessária mente a opinião do Prensa