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Quando o afeto transborda o íntimo – Marcelle Santos

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Antes de começar a escrever, fiquei me perguntando o que diria. Tenho tanta coisa a dizer, mas o silenciamento foi e ainda é algo constante na minha vida. Ora, falar sobre afetividade era um caminho certo, porém, o que comentar se a minha apropriação desse debate, apesar de subjetivamente ter vindo antes, é recente? Aqui, escolho falar de afetividade a partir de uma visão e centricidade preta, e não me refiro apenas a relacionamentos amoroso-românticos, mas sim a uma prática de cuidado e amor uns com os outros. De mim, para você, de você para mim.

Quando inicio a caminhada de retomada dessa temática, bell hooks (sim, em letras minúsculas)foi quem me chamou primeiro, ela reflete em seu texto “Vivendo de Amor” sobre as marcas subjetivas que a escravização do nosso povo, deixou e deixa em nós. À frente explico melhor. A questão é que o auto-ódio e desprezo por nossos semelhantes é algo presente em todo sujeito preto. Bingo. O processo de conversar sobre isso inicia o rompimento do ciclo vicioso de esconder, no mais íntimo, as dores e primordialidade de amor nas nossas vidas, mas é preciso avançar.

Voltando às questões das marcas subjetivas, gostaria que por um segundo, a gente pensasse no contexto brutal de sequestro e escravização do povo preto, onde o preto era visto como mercadoria,sendo suscetível à morte, tortura e estupro não só de nossos corpos, mas também de emoções e sentimentos como cuidado, carinho, amor e afeto. Em um mundo em que se têm os filhos vendidos, maridos e esposas assassinados, não sentir, bem como não amar, se tornam estratégias de sobrevivência.
Assim como o processo de prisão de nossos corpos se renovam com o sistema penitenciário, fomos empurrados a ter resistência quando se trata do afeto de um modo geral, tudo isso como parte da consolidação do trauma colonial. Um autor que gosto traz o sofrimento, nesse sentido, como algo que não é de ordem apenas da intimidade, mas também política. E eu, particularmente acredito que vá além, ambos os territórios se mesclam. 

Quando no texto citado acima hooks nos fala sobre o amor interior, ela diz que é um amor que não é a partir de outro ser ou objeto (portanto não é amor próprio), mas que vem de dentro, do íntimo. Olhar para si e para essas questões é um processo doloroso e incomodo, mas necessário. Só poderemos de fato nos livrar de todas as amarras do colonialismo e nos apropriarmos das nossas narrativas quando exercitarmos o amor interior e aos nossos, e é por isso que prego o aquilombamento(reconexão com nossa ancestralidade e com nós mesmos), o estar entre os nossos, tentativa e erro, querer fazer, ser e exercitar a negritude e tudo que a envolve.   

Sobre a política envolvida nisso tudo, afirmo que quando individual e coletivamente saímos do local de objeto e nos tornarmos protagonistas, humanos capazes de amar estamos sendo tão revolucionários quanto segurar cartazes contra o genocídio do nosso povo, a morte não vem apenas através de uma bala, mas também com o impedimento de viver nossas vidas plenamente e cheias de amor. Por isso, reagir à violência racial também é beijar a sua preta em praça pública, como diz o poeta Lande Onawale. Eu beijo a minha, e você?

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