A possibilidade da instalação do campus de Cabo Frio da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) no Colégio Estadual Miguel Couto desagrada um grupo de estudantes e professores da unidade, que criou uma campanha nas redes sociais chamada “Uerj sim, mas no Miguel Couto não”. O movimento ganhou corpo nos últimos dias, com diversas adesões e manifestações públicas de apoio feitas por integrantes da comunidade escolar.
O MIguel Couto entrou no radar para receber os cursos de Medicina, Ciências Ambientais e Geografia pouco depois do primeiro turno das eleições, quando se tornou público que Cabo Frio estava fora do edital do vestibular 2023, por “questões administrativas”, isto é, a disputa jurídica para a desapropriação do prédio da Ferlagos, lugar tido como prioritário para a implantação do campus.
Uma fonte a que a reportagem da Prensa de Babel teve acesso, mas mantida no anonimato, informou que o colégio já recebeu diversas visitas de representantes da Uerj desde que o local passou a ser cogitado para receber a instituição de Ensino Superior, e que a planta do prédio chegou a ser pedida à direção da escola. Ela conta que, das inicialmente seis salas que seriam utilizadas, o plano agora é que sejam cedidas 11, englobando os três turnos: manhã, tarde e noite.
Há uma preocupação com o futuro do colégio, que tem sofrido redução de turmas nos últimos anos e completa 60 anos em 2023.
“Primeiro, eles falaram que queriam cinco ou seis salas, que iam dividir a escola, botar catraca para os alunos não se misturarem, como se fosse possível a entrada dos alunos da Uerj ser diferente da entrada dos alunos do Miguel Couto. Só que nós temos um pátio aberto, o que complica muito, porque aluno universitário não tem regra de horário de entrada; pode fumar; pode ir com a roupa que quiser. Então como a gente lida com essa situação com adolescentes do Ensino Médio?”, questionou a fonte, temendo o uso político da instituição no episódio.
Questionada sobre as tratativas para levar a Uerj para o Miguel Couto e em quais condições isso aconteceria, a Secretaria Estadual de Educação limitou-se a informar que a Uerj solicitou a possibilidade de a secretaria “viabilizar algumas salas para a implementação de atividades da instituição de Ensino Superior por período determinado”.
Também de olho na situação, o coordenador-geral do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe/RJ), Diogo Oliveira, disse que vai procurar a Seeduc para pensar numa política alternativa.
“Além dos problemas de rotina, tem o problema de esvaziar a escola das suas funções originais, desestímulo de matrícula de alunos, fechar turmas e etc”, destacou o sindicalista.
A Uerj não confirmou a instalação do campus de Cabo Frio no Colégio Couto, mas reiterou “o compromisso com seus cursos de graduação em Cabo Frio – Medicina, Geografia e Ciências Ambientais -, que não integram o edital do Vestibular 2023, porque a posse do imóvel destinado a esta finalidade ainda está em litígio, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro”.
“Porém, como não abrimos mão de nosso campus na cidade, e, tampouco, de ampliar a oferta de educação pública no Estado, já estamos em tratativas avançadas na busca de outros imóveis, na região, para a instalação dos cursos. Mas até o momento não temos um local confirmado. Assim que isso acontecer, o que esperamos que ocorra em breve, será lançado um edital de vestibular isolado para esses três cursos”, disse a Reitoria da Universidade, em nota enviada para a reportagem.