Por Sandro Peixoto
Mais uma vez como já é tradição, o Festival de Búzios terá um filme argentino na sua noite de abertura. El Ciudadano Ilustre, que concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro foi o escolhido. Para representar a película, veio o Produtor Fernando Sokolowicz, um dos mais premiados da argentina. Fernando era jornalista e quando conheceu o mundo do cinema se encantou.
Sokolowicz produz filmes há 30 anos. Quando começou, lembra, era época da presidência de Raul Alfonsín, da União Cívica Radical. Um homem honesto mas fraco em alguns sentidos. Assim como a economia, o cinema argentino estava num momento escuro. Em sérias dificuldades. Não havia investimentos nem tampouco produção. Os grandes cinemas de rua, tal qual aconteceu no Brasil e no resto do mundo, estavam vazios e a maioria fecharam as portas. Foi em 1985, quando o Filme a História Oficial ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro que as coisas começaram a mudar.
No entanto a economia começou a melhorar e começaram a surgir os complexos cinematográficos nos shoppings e ir ao cinema voltou a ficar na moda. Diferentemente do Brasil, os filmes por lá são todos bancados por empresas privadas ou pessoas, os produtores. Outra diferença é que argentina o cinema de autor tem muito peso. Num país onde todo mundo lê, isso faz a diferença. Tampouco há por trás da produção daquela pátria, uma emissora de televisão poderosa como a Rede Globo que aqui, através da Globo Filmes banca a maior parte da produção.
“Na Argentina temos muitas escolas de cinema que formam cerca de 3 mil alunos por ano. Esse capital humano é a base de criação do cinema de nosso país. Formamos diretores, diretores de fotografia, iluminadores, atores, etc. Felizmente a televisão ainda não influencia a criação nem a produção. Eu percebo essa diferença entre as produções da Argentina e do Brasil. Nos contamos as histórias que queremos contar.”
Apesar do sucesso mundial, Fernando diz que é muito difícil ser produtor de cinema na Argentina. Afora as dificuldades de captação de recursos, o aluguel de equipamento que é sempre em dólar americano, ainda tem a inflação que este ano vai bater na casa dos 40% o que pesa muito no orçamento inicial, ainda temos que lembrar que assim como no Brasil, as salas de cinemas ficam quase sempre ocupadas com os grandes filmes de Hollywood.
“Os filmes argentinos que conseguem furar esse bloqueio comercial são poucas. 50, 60 por ano. As outras ficam sem exposição. Temos uma conta por lei que deveria passar nas salas mas quase ninguém cumpre a regra. Como não existe penalidade, os exibidores fazem o que querem.”
Agora a nova ameaça ao cinema de autor é os sistema de Streamm. Para Fernando, empresas como Netflix vai criar a novo estilo de consumo. De inicio pode até ajudar a produzir mas o risco de matar as salas de cinema é enorme. Fernando foi produtor dos dois filmes em que Mário Paz trabalhou. Um deles, Viúvas que fez certo sucesso inclusive no Brasil.Mas seria o Mário um bom ator? Fernando garante que sim.
“Mário é um bom ator. Principalmente quando interpreta a si mesmo”, finalizou o simpático produtor.