Prensa traz nova série de entrevistas com candidatos à prefeitura de Macaé. A entrevistada é a professora Sabrina Luz (PSTU)
Sabrina Luz (PSTU) é a quinta candidata à prefeitura de Macaé nesta série de entrevistas. Com a proximidade das eleições municipais, a Prensa de Babel promove este projeto, que tem por objetivo permitir que a população conheça as pessoas que se apresentam como opção de voto para representar a cidade nos próximos anos.
Sabrina irá concorrer ao cargo de prefeito pelo partido PSTU. A candidata é formada em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e atua como docente em Macaé. É militante em questões ligadas ao Sindicato dos Profissionais de Educação (SEPE), onde foi coordenadora por duas gestões. Sabrina é mãe, nortista, negra e bissexual e ativista da luta contra o machismo, racismo e a LGBTfobia.
Acompanhe abaixo a entrevista da Prensa, na íntegra:
Prensa de Babel: De uma maneira geral, as propostas mais comuns de 2020 confrontam vários candidatos que defendem legados e participaram diretamente de governos passados dos últimos três prefeitos: Sylvio Lopes, Riverton e Dr. Aluízio: Como você avalia esse momento e como candidato, você defende o legado de um desses governos?
Sabrina Luz: Não defendo o legado de nenhum governo anterior! Macaé tem uma história de séculos de invasão, genocídio de indígenas e negros, escravidão, roubo de terras e riquezas promovido pelos super-ricos e poderosos. Recentemente com a vinda da Petrobras quem passou a mandar foram as grandes empresas em especial as ligadas à indústria do petróleo que fizeram da prefeitura uma ferramenta para manterem seu domínio em detrimento de nosso povo trabalhador. Até o momento todos os governos perpetuaram essa triste história.
Estamos em meio a uma gigantesca crise econômica, sanitária e ambiental. Em Macaé o número de pessoas em extrema pobreza chegou a 23 mil, o desemprego explode e a pandemia já levou a vida de quase 200 pessoas, porém neste mesmo ano surgiram 33 bilionários no Brasil. Os trabalhadores estão na miséria e um punhado de pessoas está lucrando como nunca. O que nos aguarda ano que vem é um cenário de barbárie!
Nosso povo precisar ir à luta em defesa de um futuro melhor. Precisamos resgatar nossa ancestralidade, relembrar os Quilombolas de Carukango, que lutaram bravamente contra os senhores de escravos e os capitães do mato. Nos inspirar nos flecheiros Goitacazes temidos pelos invasores europeus.
Minha candidatura está a serviço da ruptura com o capitalismo que historicamente separou o trabalhador da riqueza produzida por ele. Queremos colocar os trabalhadores, a dona de casa, o desempregado, o pequeno produtor rural e pequeno empresário para mandar cotidianamente em Macaé.
Prensa: A cidade tem um orçamento bilionário. Como pretende atuar para o desenvolvimento Econômico do município para que dependa cada vez menos dos royalties?
Sabrina: Macaé é uma cidade belíssima, temos praias, cachoeiras, a reserva de Jurubatiba, toda uma biodiversidade da Mata Atlântica, uma história rica e um povo acolhedor que veio das mais diversas partes do país com sua multiplicidade cultural. Tudo isso pode ser muito bem aproveitado estimulando o ecoturismo, o turismo de aventura, desenvolvendo um calendário de atividades culturais, a exemplo do Jaz e Blues de Rio das Ostras, podemos fazer feiras e festivais literários, teatrais, musicais, de cultura do norte e nordeste e um longo etc.
Para gerar emprego propomos um grande plano de obras voltado para atender as demandas da população e melhorar os serviços públicos que inclui: a construção de 60 novas escolas e creches de tempo integral para atender inclusive as crianças menores de 2 anos que hoje são excluídas; reestruturar o sistema de transportes com a duplicação da ponte da barra, da RJ 106 e 168 no acesso a Macaé; levar água e esgoto para toda a população, superar o déficit habitacional construindo bairros planejados para abrigar a população que hoje está em áreas irregulares e construir 1 restaurante popular em cada bairro periférico. Estas obras podem gerar mais empregos no curto e médio prazo do que as 9 termelétricas e com a vantagem de não gerar um grande impacto ao nosso meio ambiente.
Precisamos diversificar a economia e investir em fontes alternativas de energia como a solar e a eólica, porém é um grande erro o verdadeiro desmonte que a Petrobrás está sofrendo. Defendo uma Petrobrás forte, 100% estatal e controlada pelos trabalhadores. Hoje o governo só tem a maioria do capital votante, boa parte do lucro da empresa vai para os grandes acionistas privados, muitos deles nem no Brasil moram.
É um absurdo que aqui na capital nacional do petróleo tenhamos uma das gasolinas e gás mais caros do país.
Caso o bem estar do povo brasileiro fosse o objetivo da Petrobrás poderíamos ter gasolina e gás baratos em nossa cidade, poderíamos ter o regime 14 por 21 para todos os embarcados, desta forma geraríamos milhares de novos postos de trabalho.
Prensa: Como pretende resolver as questões relacionadas ao Transporte Público em Macaé?
Sabrina: Em primeiro lugar propomos acabar com o monopólio da SIT. Hoje temos um péssimo serviço e uma passagem cara. A população paga 2 vezes: R$ 1 diretamente e mais 2,50 pagos pela prefeitura, o preço real é R$3,50.
Calculamos que todos os anos a prefeitura repassa R$90 milhões para a SIT. Propomos utilizar estes milhões para construir uma empresa pública municipal de transporte, que incorpore todos os atuais funcionários. Essa nova empresa será movida pelo objetivo de prestar um serviço de excelência e não o lucro como é hoje. Dessa forma poderíamos garantir transporte de qualidade a R$ 1 de verdade e gratuidade para os desempregados.
Prensa: Quais as políticas públicas essenciais para que a cidade se desenvolva de maneira igualitária?
Sabrina: Macaé é riquíssima, em 2017 foi o 7º maior PIB per capita do estado, quase R$ 63 mil. Isso significa que se dividirmos toda a riqueza da cidade pelo número de habitantes, uma família de 4 pessoas receberia 21 mil reais por mês, mas isso não chega nas mãos da população, fica concentrado nos bolsos dos grandes acionistas da Petrobrás e de um punhado de grandes empresários, são eles os que realmente mandam no prefeito e na câmara de vereadores.
Temos recursos para ser um município modelo em todos os serviços públicos, mas para isso temos que romper com a lógica do capital e colocar a maioria da população para de fato mandar no dia a dia da cidade e em 100% de seu orçamento.
Defendemos deslocar o eixo de poder. Queremos que os trabalhadores, o povo pobre, os pequenos agricultores e pequenos empresários de Macaé mandem na cidade através dos conselhos populares. A prefeitura, as secretarias e a câmara de vereadores estariam a serviço dos conselhos populares.
Propomos organizar cada bairro e local de trabalho, para realizar assembleias e debaterem os mais diferentes temas de interesse da população: emprego, saúde, moradia, violência, transporte, saneamento básico, meio ambiente, agricultura familiar, a situação das mulheres, negros, LGBTs, e etc. A população dessa forma seria chamada a participar da vida política cotidianamente e não apenas de 4 em 4 anos.
Os conselhos populares elegeriam delegados para levar o que foi decidido na assembleia local para o grande conselho popular de toda Macaé. Diferente do que ocorre hoje com os vereadores, estes delegados teriam mandatos revogáveis, a assembleia local pode trocá-lo a qualquer momento se este representante não mais defender realmente os interesses da assembleia a qual o elegeu.
O auxílio dos técnicos concursados da prefeitura, dos acadêmicos das diversas universidades e de intelectuais serão indispensáveis para orientar a tomada de decisão dos conselhos, mas a última palavra será dos trabalhadores, do povo pobre, pequenos agricultores e pequenos empresários organizados.
As mesmas perguntas foram enviadas a todos os candidatos à prefeitura de Macaé. As outras entrevistas serão publicadas ao longo da semana.