Cabo Frio e seus moradores estão com suas atenções viradas para a questão da Saúde e administração do Hospital da Mulher, localizado no bairro Braga. Depois da morte de alguns bebês, denúncias de negligência médica, uma manifestação que resultou em itens da administração pública quebrados, uma recepcionista ferida e continuas polêmicas, o prefeito de Cabo Frio, Dr. Adriano Moreno, falou com ao Prensa de Babel sobre todas as questões que envolvem a Saúde municipal e, principalmente o referido hospital.
Ao Prensa de Babel, o prefeito, que completa nove meses na gestão municipal, explica que o Hospital da Mulher de Cabo Frio, um hospital de referência na região que atende principalmente grávidas, chegando a fazer 1.300 atendimentos relacionados a parturientes e gestantes por mês, e também aproximadamente 190 partos mensais. Porém, Dr. Adriano admite que o fato dos óbitos terem ocorrido no hospital foi uma situação crítica, mas que está sendo resolvida.
“Não podemos diminuir de nenhuma forma o que aconteceu nos últimos meses. Há um problema grave de saúde, mas isso não é uma prerrogativa de Cabo Frio. Nosso País e Estado estão em com a Saúde Pública com problemas sérios. Recebemos o município nem um estado de descaso com a saúde muito grande e estamos, aos poucos, tentando reverter esse quadro triste”, analisou o prefeito Dr. Adriano.
O Prensa de Babel teve acesso com exclusividade ao número de óbitos de recém-nascidos e fetos. De acordo com a Prefeitura de Cabo Frio, em 2017, houveram 50 ‘óbitos domiciliares’ e ‘óbitos 24h’, o que significa uma média de 4,1 mortes mensais.
Em 2018, o número subiu para 54 óbitos, refletindo no valor da média mensal, que sobe para 4,5 mortes. Já nos meses de janeiro e fevereiro de 2019 houveram 11 óbitos ao todo, o que significa 5,5 mortes, em média, por mês. A Prefeitura não divulgou os números do mês de março de 2019.
Óbitos domiciliares são os casos em que o bebê já chega sem batimentos cardíacos ao hospital. Já a denominação ‘óbitos 24h’ se refere a mortes de bebês em até 24h depois de seu nascimento. De acordo com o prefeito de Cabo Frio, Dr. Adriano essas são as que mais acontecem e elevam o número de mortes do hospital.
“Recebemos pessoas, inclusive gestantes, em situações graves de todas as cidades ao redor. O Hospital trabalha de portas abertas e não nega atendimento a ninguém, mesmo que esse não seja do município. Então é de se esperar que tenhamos uma contagem de óbitos elevada por conta dos casos de risco que o hospital assume”, pondera o gestor sobre o número de mortes dentro do local, a principal reclamação dos moradores, junto ao atendimento público da Saúde.
Casos que abalaram a imagem do município
Um dos casos recentes envolvendo o Hospital da Mulher foi sobre o idoso levado em um carinho de mão na última terça-feira (9). A situação repercutiu rapidamente por todo o município e abalou ainda mais a imagem do hospital.
Dr. Adriano ressaltou que o senhor doente já é paciente da unidade há muito tempo e que essa última situação fugiu ao controle da prefeitura. O gestor explica que, por lei, a prefeitura não pode mandar ambulância buscar paciente em casa.
“Nesse caso, teria que ser o SAMU ou os Bombeiros, sendo que esse último só pode fazer o resgate de rua. E Cabo Frio não tem SAMU, que é o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Claro que a prefeitura ia tomar providência para transportar esse idoso, mas a pessoa se precipitou e nem esperou a funcionária da prefeitura resolver”.
Outro caso que ganhou os holofotes em Cabo Frio foi o do bebê que teria sido supostamente enterrado como indigente. A situação repercutiu depois que os pais do bebê e outros munícipes fizeram uma manifestação no Hospital contra a situação, porém reviraram cadeiras, depredaram itens públicos e feriram uma recepcionista do local.
Sobre o acontecido, Dr. Adriano Moreno comenta que todo morador direito de se manifestar, afinal é algo próprio da democracia, porém não é adequado que quebrem o patrimônio público, nem firam as pessoas.
“Todo o aparado físico do hospital é para ser utilizado pelos habitantes do município, se houver depredação quem fica sem é o próprio morador. Porém, sobre o caso, foi um equívoco da funerária que pegou a documentação de nascimento da criança e fez o enterro”, pontua.
Articulação política contra o hospital
Apesar de assumir as críticas à Saúde do município, Dr. Adriano, entretanto, afirma que existe um processo de articulação para desestabilizar a gestão municipal e tirar a credibilidade da instituição, o que acaba afetando também os funcionários do local.
“Estão se aproveitando do sofrimento alheio para fazer política. Estão atacando de várias frentes o hospital e isso está prejudicando até a contratação de novos funcionários. Não estamos conseguindo médicos para trabalhar por conta da imagem prejudicada”, comentou.
Há algumas semanas, um vídeo circulou nas redes sociais onde três homens que afirmam supostamente serem funcionários do hospital fazem críticas contra a Prefeitura e a Câmara Municipal. Um deles veste um jaleco e um estetoscópio. Porém, de acordo com a prefeitura, nenhum dos citados no vídeo seria funcionário do hospital.
“Esse jogo político pode afetar de forma muito séria o hospital. Pode fechar o Hospital da Mulher. E os moradores de Cabo Frio e outras cidades da região que seriam os mais prejudicados. Sabemos que quem gravou esse vídeo foram pessoas ligadas a política, a velha política cabofriense. Mas eu tenho um total desprezo por pessoas assim, que fazem absurdos por política, porque elas não constroem nada, só destroem”, concluiu.
Inquéritos e CPIs
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro abriu um inquérito no início do mês de abril para apurar as mortes de bebês recém-nascidos registradas desde novembro do ano passado.
A primeira ação do órgão foi solicitar que a Secretaria de Saúde de Cabo Frio informe o número de óbitos ocorridos no Hospital da Mulher desde novembro de 2018, com a indicação dos nomes e endereços das pacientes envolvidas.
O Ministério Público pediu ainda que a que a Alerj e a Câmara de Vereadores de Cabo Frio enviem relatórios das CPI’s que investigam os casos para que haja uma cooperação entre os órgãos.
A CPI da Alerj foi oficialmente instaurada no mês de março, apesar de ter sido anunciada há alguns meses. Já a CPI da Câmara dos Vereadores deu os primeiros passos em fevereiro e já conseguiu o afastamento cautelar e substituição da direção do hospital.
“Vemos essas CPI como uma oportunidade de mostrar como temos trabalhado e como conseguimos organizar a questão documental da instituição hospitalar. Todos os prontuários completos foram entregues para Alerj, Câmara e para o MP, mas como possuem um jargão muito específico espero que eles possuam um especialista médico para analisar detalhadamente. Mas estamos certos que tudo será resolvido”, comenta Dr. Adriano.