Proposta de lançar resíduos das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE’s) dos municípios da Região dos Lagos no Rio Una traz risco à praias de Búzios
O Mangue de Pedras, ecossistema raro localizado em Búzios, e a Praia Rasa poderão sofrer impactos com o despejo de esgoto. Recentemente, o Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos São João (CBH) divulgou uma proposta de lançar os resíduos das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE’s) dos municípios da Região dos Lagos no afluente da Lagoa de Araruama, o Rio Una.
A questão tem levantado debates entre os moradores, que se preocupam com os impactos ambientais. O Rio Una passa por várias cidades da região, e tem a foz no encontro com as águas da Praia Rasa.
De acordo com o ex-secretário de meio ambiente de Búzios, Luis Eduardo Tedesco (Duda Tedesco), a vazão de efluentes das ETE’s já lançados hoje no Rio Una é de 150l/s. Com o novo esgotamento, pode chegar a 800l/s. O esgoto de Iguaba Grande será lançado no sistema Arrozal-Fundo-Papicu, o de São Pedro da Aldeia no Rio Flecheira e o das duas estações de tratamento de Cabo Frio vão se utilizar do canalizado Córrego da Malhada. Todos eles chegam no Rio Una, e totalizam uma vazão de 800l/s (0,8m³/s) de rejeitos.
Segundo os estudos apresentados pelo CBH, a proposta não incluiu a produção de algas entre os elementos estudados nem a dispersão longitudinal na foz e a influência das marés, pois que a inclusão de tais variáveis exigiria um grau de complexidade maior do modelo.
Em nota, o ex-secretário se colocou contra a proposta e sugeriu como alternativa a adoção da pioneira experiência de Búzios, que após intensas e longas negociações com a concessionária, conseguiu implementar uma ETE terciária na cidade.
A estação citada foi inaugurada em 2017. A discussão sobre o despejo destes rejeitos no local já era pauta, e após longas manifestações da sociedade civil organizada, que promoveu protestos na Câmara de Vereadores e ações públicas, a Prolagos inaugurou a ETE no bairro São José. A proposta prometeu utilizar tratamento de esgoto de alta tecnologia, em nível terciário, com remoção de nitrogênio e fósforo e desinfecção por ultravioleta (UV), além de ampliar a capacidade de tratamento da estação em 50%.
Na época, o movimento teve o apoio da imprensa, com o jornal Peru Molhado, tradicional na cidade, e o advogado e ativista Hamber Carvalho.
Mangue de Pedras
De formação ambiental extremamente delicada, e único no mundo, segundo a geóloga e pesquisadora Kátia Mansur, o Mangue de Pedras de Búzios teve sua área transformada em APA – Área de Preservação Ambiental, em 2018, mas até hoje aguarda seu plano de manejo. Ao longo dos anos, o local tem sido alvo de ocupações irregulares, incêndios criminosos e especulação imobiliária, que ameaçam diretamente a sua flora e fauna.
A Prensa enviou questionamentos à Prefeitura de Búzios, à Câmara Municipal e ao Consórcio Municipal Lagos São João (CILSJ), mas não obteve respostas.