Imagine surfar ondas perfeitas com até 25 segundos de duração, sem depender de maré, vento ou swell. Essa é a proposta da piscina de ondas que começou a ser construída no bairro planejado Aretê, em Búzios, com inauguração prevista para junho de 2026. Com tecnologia Endless Surf, a estrutura fará parte do Brasil Surfe Clube Aretê Búzios, um clube exclusivo dentro do Clube Aretê, que hoje já reúne as sedes Esportiva, Praia e Golfe. A nova sede Social e a piscina de ondas ampliam a vocação esportiva do bairro, que abriga ainda marina, hotel, escola, aeroporto e até fábrica de cerveja.
A piscina terá 10.100 m² de superfície de água e capacidade para gerar de 400 a 700 ondas por hora — com simulações simultâneas para os dois lados e adaptação para diferentes níveis. Um ambiente controlado, preciso e seguro, mas que, segundo os surfistas ouvidos pela Prensa de Babel e pelo jornal O Globo, não rivaliza com o oceano. Pelo contrário: é visto como um complemento essencial.
“O mar é insubstituível. A conexão com a natureza, o imprevisível, isso forma o caráter do surfista. Mas a piscina oferece algo que o mar não pode: repetição controlada. Você pode treinar a mesma manobra 10 vezes seguidas”, afirma Phil Rajzman, tricampeão mundial de longboard e morador de Búzios.
Phil sabe do que fala. Em 2007, trabalhou em uma das primeiras escolinhas de surfe em piscina no Brasil, em Goiás. Hoje, vê a nova estrutura como oportunidade para popularizar ainda mais o esporte de forma segura. “É uma tendência global. O Havaí tem piscina de ondas e continua sendo o berço do surfe”, diz.
Mais técnica, mais turismo
A piscina será parte do Complexo Esportivo Aretê, que já abriga mais de 30 modalidades, como natação em lago com 500 metros de raia, bike park e quadras para diferentes esportes. Segundo Pedro Bulhões, gestor do Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário (OPPFII), responsável pelo projeto, o investimento no novo clube será de R$ 180 milhões, em um terreno de 140.000 m² — metade dele destinado a reserva ambiental.
“Com mais previsibilidade e estrutura, o turismo esportivo deve crescer ainda mais em Búzios. Mesmo quem vem por poucos dias poderá surfar. Isso fideliza o visitante e movimenta a economia local”, acredita Theo Fresia, surfista profissional e fundador de uma das principais escolas de surfe de Búzios, a Fresia Surf Class. Ele também destaca a importância de se aproveitar a mão de obra local no desenvolvimento do novo espaço.
Nascido em Macaé, criado em Búzios e com carreira sólida no circuito mundial, Theo acredita que a piscina pode ajudar a formar uma nova geração de surfistas. Mas reforça que é preciso preparar os iniciantes para o ambiente natural: saber se portar na água, respeitar as prioridades e entender a dinâmica do mar.
Preocupação compartilhada por Dido, o primeiro buziano a surfar e referência local desde os anos 1970. Artista plástico e figura icônica nas praias da cidade, ele nunca quis competir — sempre viveu o surfe como parte da sua essência. Dido vê na piscina uma ferramenta interessante para o aperfeiçoamento técnico, principalmente das manobras, e quer experimentar a novidade. Mas frisa: “É preciso ensinar a ética no mar. A convivência no outside é parte fundamental do aprendizado do surfe.”
Tecnologia e inclusão
O ambiente controlado oferece mais que treino técnico. É também espaço de inclusão e segurança. Com áreas específicas para iniciantes e avançados, crianças, idosos e pessoas com deficiência poderão evoluir com menos riscos. A piscina terá áreas batizadas de Shore e Peak, com profundidade de até 4 metros, e deve ser palco para clínicas, eventos e até competições internacionais.
“Uma piscina bem gerida pode impulsionar talentos locais e atrair surfistas de todo o mundo.”, destaca Michel Lichnowsky, shaper, professor e uma das vozes mais respeitadas da cultura do surfe buziano.
Michel vê no projeto também uma oportunidade cultural. “Podemos ter um espaço que conte a história do surfe, com pranchas antigas, filmes, oficinas de reparo. Isso valoriza a memória do esporte e inspira quem está começando”.
Sobre a importância da estabilidade nas ondas para grandes competições, o lendário big rider Carlos Burle, em entrevista ao jornal O Globo reconheceu a questão da variação do mar comentando o episódio da semifinal olímpica de Gabriel Medina em Teahupoo — realizada em um dia de mar ruim e poucas ondas. “Era o último dia da janela. Entendo que eles poderiam ter esperado um pouco mais (o mar iria subir). Foi uma questão de escolha. Mas realmente foi um mar com pouquíssimas ondas, uma tristeza…”. Burle já se posicionou positivamente sobre piscinas de ondas e até surfou em algumas delas, o que aponta sua visão sobre a importância de estruturas complementares como estas para competições.
Sofisticação e natureza
A experiência no novo clube será pensada para toda a família. O projeto inclui restaurante assinado por chef reconhecido nacionalmente, spa, academia, pista de skate, quadras de beach tênis e futebol. Tudo isso cercado pela natureza preservada de um dos litorais mais bonitos do Brasil. O acesso será exclusivo a membros com número limitado de títulos.
“Essa piscina não é apenas um equipamento esportivo. É uma nova forma de viver o surfe, com conforto, segurança e beleza natural. Um ativo que reforça o compromisso do Aretê com esporte, bem-estar e sustentabilidade”, resume Ricardo Laureano, CEO da Brasil Surfe Clube.
Búzios ganha uma nova onda — uma que não depende do vento, da maré ou da sorte. Mas, como lembram os surfistas, quem respeita a máquina precisa, antes de tudo, entender o mar.