O Sindipetro NF (Sindicato dos Petroleiros) do Norte Fluminense solicitou ao Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) análise técnica quanto ao índice de desemprego na região.
Segundo os dados, de 2014 a 2018, a redução dos trabalhadores da Petrobras no Norte Fluminense foi de 3.526 pontos e de 29.743 terceirizados, representando uma redução média de 55% do efetivo. De acordo com estimativas realizadas pelo Dieese, a redução de trabalhadores próprios da Petrobras e terceirizados foi maior do que a redução de empregos no país.
De janeiro de 2014 até dezembro do ano passado, Macaé fechou 33 mil postos de trabalho formais. Segundo o economista do Dieese, Iderley Colombini, a situação no município quanto à geração de emprego é ‘delicada’. Ele explicou que apesar de não existirem na PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ) dados de desemprego para todas as cidades do interior do estado do Rio de Janeiro, é possível visualizar a gravidade da situação de Macaé, por meio de dados do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que mensura o saldo de das admissões menos as demissões.
“Podemos constatar que a dimensão da gravidade da questão é revelada ao comparar Macaé ao próprio Rio de Janeiro. A cidade de Macaé tem 240 mil habitantes, representa apenas 1,4% da população do Estado. Mas o saldo negativo de trabalhadores formais da cidade, de 2014 a 2018, representou 7% do saldo negativo do Estado do Rio de Janeiro”.
O estudo apontou que a queda nos empregos está diretamente relacionada à redução dos investimentos da Petrobras, o que impactou imediatamente também na redução de royalties na região.
As estimativas do Dieese revelam que a perda de royalties no Norte Fluminense poderia ter sido amenizada de 2016 a 2018, em R$ 1,1 bilhões, com a manutenção dos investimentos da estatal. Os números do Dieese apontam também que os maiores municípios beneficiados, Campos dos Goytacazes e Macaé, tiveram de 2016 a 2018, perdas de royalties e participações especiais com a queda dos investimentos da Petrobras, de R$ 428 milhões e R$ 364 milhões, respectivamente.
A redução nos investimentos também afetou diretamente a produção de petróleo nos campos da Bacia de Campos. A produção média de 1,8 milhões de boe/dia em 2015 caiu para 1,3 milhões de boe/dia em 2018, redução de 28%. Segundo as estimativas do DIEESE, os investimentos da Petrobrás de 2013 a 2018 reduziram 55% no Pré-Sal, 62% na Bacia de Campos e 64% na área do Pós-Sal total do Brasil.
O economista explica que as causas da crise que assolou a região do Norte Fluminense, com queda da produção e de empregos de toda a cadeia de óleo e gás, não devem ser vistas de forma simplista, como resultado “natural” dos campos maduros e da queda dos preços do petróleo. “Como pôde ser constatado através dos dados reunidos na análise do Dieese, esse processo sofreu grande influência de uma mudança política no setor de óleo e gás no Brasil, mudança essa cristalizada na decisão da nova gestão da Petrobrás de se abdicar da exploração da Bacia de Campos e de um projeto do setor petróleo em conjunto com o desenvolvimento nacional e regional”, conclui.
O coordenador geral do Sindipetro NF, Tezeu Bezerra, afirmou que a atual posição da Petrobras, em reduzir os investimentos, além de uma posição clara para ‘desmanchar’ a estatal, ataca frontalmente os interesses dos municípios e da própria empresa. “Os atuais gestores da Petrobras estão de passagem e com a missão de vender a estatal a preço de banana.”. Segundo ele, o estudo foi feito justamente para denunciar o que estão fazendo. “Foram mais de 40 mil demitidos nos últimos anos só na região Norte Fluminense e isso é reflexo dessa falta de compromisso da atual gestão do país, da atual gestão da Petrobras com os trabalhadores, com o povo brasileiro. Este estudo prova bem o que o atual governo pensa e a própria gestão da Petrobras pensa hoje sobre o futuro do nosso país. Eles não acreditam em nós mesmos. Temos que virar esse jogo e colocar a Petrobras para voltar a investir na Bacia de Campos, porque é bom para a estatal. Tem muito petróleo ainda, muito dinheiro para o país ganhar, muito emprego para ser gerado aqui na nossa região”, destacou Bezerra.