O CANDIDATO COM PEDIGREE: O REPRESENTANTE DA FAMÍLIA MUSSI
A família Mussi tem forte presença na recente história política de Macaé. Em 1977, o médico cardiologista Carlos Emir Mussi foi eleito prefeito, governando até 1982. Entre 1988 e 1992, foi a vez do prefeito Sílvio Lopes, um primo da família, empresário do ramo de agências funerárias e que exerceu mandato de deputado federal de 1995-1996. Ainda antes da existência da reeleição, Carlos Emir Mussi volta à prefeitura sucedendo Silvio nos anos de 1993 a 1996, onde conseguiu, inclusive alçar a própria mulher, Tânia Jardim, à deputada estadual e presidente da ALERJ.
Silvio Lopes é eleito para dois mandatos consecutivos, entre 1997 e 2004. E, embora as preferências pela sucessão caíssem sobre o então secretário de saúde, Dr. Pedro Reis, a pressão do sobrinho Riverton Mussi, que era presidente da Câmara se fez sentir, e ele foi eleito também para dois mandatos de 2005 -2012. Os dois filhos de Silvio Lopes, Glauco e Silvinho Lopes também tiveram cargos de deputado estadual e federal. Fazendo uma soma, assim por cima: oito anos de Carlos Emir, 12 anos de Silvio Lopes, 8 anos de Riverton – apesar das divergências intrafamiliares que ocorreram na política e no relacionamento – o fato é que o sobrenome Mussi esteve no poder cerca de 30 anos. Lembrando que o atual prefeito Dr. Aluízio cresceu frequentando a casa de “tio Sílvio” e que esteve presente nos governos Mussi, por mais que tenha sido eleito com o discurso da mudança.
Silvio Lopes tentou a quarta eleição em 2008, mas amargou um triste terceiro lugar. E em 2012, não conseguiu sequer se eleger vereador por Macaé. Será um cansaço do eleitorado com o sobrenome?
Silvinho Lopes – a esperança da volta dos Mussi ao poder
Com o prefeito Riverton inelegível, os grupos políticos que circundam a família escolheram Silvinho Lopes como o nome mais leve para disputa da próxima eleição. São donos da Rádio 95FM, de bom alcance na cidade, chegaram a demitir o radialista e suplente de vereador, atualmente com mandato, Robson Oliveira, para reduzir a concorrência, mas Robson não bebeu esse café amargo e rapidamente se colocou em outra rádio que apoia o governo de Dr. Aluízio.
Embora carregue o mesmo nome do pai, Silvinho Lopes não tem o desgaste da rejeição. Porém, trabalha para que o nome e feitos políticos estejam sempre entrelaçados ao do pai. Logo no primeiro mandato, Silvio contou com recursos novos advindos do Fundo de Participação dos Municípios – o que lhe deu fôlego para muitas obras, depois continuadas com o crescimento dos royalties e das gordas parcelas do valor repassado pela União e que trouxeram a Macaé um dos maiores orçamentos do Estado e do País.
Pós-graduado e mestrando em Administração Pública pela Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Silvinho tem 54 anos. Já foi secretário de Planejamento e Gestão Municipal de Macaé no período de 1997 a 2004, durante a gestão do pai. Uma das críticas feitas à época foi a linha tênue entre o que poderia ser considerado nepotismo ou como parte de um “Estado Patrimonialista”, com favoritismo a parentes e amigos do clã, no dizer do cientista político Francis Fukuyama.
A prova cabal: além do cargo do Silvinho, os irmãos também ganharam secretarias próprias. A família toda, aparentemente, possui qualificações excepcionais para ocupar cargos públicos: Glauco Lopes foi secretário de Turismo; Aldo Mussi Lopes foi responsável pela Fundação de Cultura de Macaé, e o primo Riverton era presidente da Câmara.
Atualmente, Carlos Emir Júnior e a mãe, Tânia Jardim, apoiam o atual prefeito Dr. Aluízio Jr. Tânia já foi presidente da Fundação de Cultura de Macaé. Junior, como é chamado, já foi candidato a vereador e assumiu a cadeira como suplente. Atualmente administra o Centro de Especialidades Dona Alba que, a contar pelas críticas nas redes sociais, não anda muito bem das pernas.
A candidatura de Silvinho, assim no diminutivo, tende a deixar dúvidas sobre as reais metas no governo. Filiado ao DEM de Cesar Maia, Rodrigo Maia e Eduardo Paes, traz, assim como o partido, uma proposta liberal para a economia da cidade, que nesse momento de crise, beneficiaria apenas os mais ricos, empresários e políticos estabelecidos.
Fica ainda a dúvida se a candidatura visa restabelecer o “clã Lopes” no topo da cadeia alimentar da política de Macaé e retornar ao clássico modelo de gestão do pai, onde ‘centralização de poder nas mãos de familiares’, com a volta dos patamares patrimonialistas, bastante atrasados diante dos desafios do novo milênio, da pandemia, do pós-pandemia e de todas as crises de saúde, econômica, financeira e emocionais que estamos vivendo. Macaé ainda traz algumas particularidades, onde a significativa queda na arrecadação dos royalties, somada à bolha imobiliária esfacelada, falta de empregos e fechamento de empresas montam um cenário com perspectivas muito sombrias pela frente.
Quem viver, verá.