Manguinhos é um dos locais no balneário cercado de história e ecossistemas
Búzios, a península localizada na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, é uma das principais escolhas de turistas de todo o mundo, seja pelas belezas naturais ou pelo charme da noite. No balneário há lugares que guardam histórias pouco sabidas e belezas pouco vistas, e para percebê-las é necessário um olhar mais atento e delicado. Um desses locais é o bairro Manguinhos, construído em cima de um manguezal aterrado.
Manguinhos recebeu este nome exatamente por ter vários mangues, que foram diminuindo à medida que iniciou a especulação imobiliária. Mas, mesmo após tantos anos, alguns ainda sobrevivem, ainda que em pequenas proporções, e estão localizados na praia que dá nome ao bairro. Um desses mangues que chama atenção fica na Ponta da Sapata, um pequeno cais. Ele já chegou a ser comparado com o que existe na Praia da Rasa, o Mangue de Pedras, classificado como ecossistema raríssimo pela diversidade, e para o município também possui um caráter histórico. Mas segundo a geóloga, Kátia Mansur, não se pode comparar pela falta de diversidade de vegetação.
“O mangue de Manguinhos também ocorre sob rochas, porém em tamanho bem menor. Mas não possui tanta variedade de vegetação”, explica Kátia informando ainda que há outros dois mangues que resistem no bairro, um próximo ao Porto da Barra e outro no córrego de Manguinhos.
Existem quatro tipos de espécies de manguezais, o mangue-vermelho, mangue-branco, mangue-preto e mangue-de-botão. Em Manguinhos o que prevalece é o mangue-branco, sendo mais resistente e tolerante as taxas de salinidade.
“Onde tem mangue existe uma fonte de alimentação maior para as espécies aquáticas. Ou seja, onde tem mangue tem comida e tem peixe”, comenta o historiador, Arthur Soffiati, completando ainda que no mangue a vida aquática encontra condições ideais para reprodução, berçário, criadouro e abrigo de espécies tanto aquáticas quanto terrestre, onde há mangue há vidas.
Segundo a Lei n°12.651 de maio de 2012, as áreas de manguezais são protegidas, porém, não há um respeito sobre os mangues, quando crescem em locais próximos ao centro urbano essas espécies são atingidas pela grande urbanização. Próximo ao córrego de Manguinhos há um pequeno mangue que sofre com as alterações urbanas.
“Se entrar no córrego e ir subindo, vemos as casas no local, vemos a pressão urbana sob esse mangue que é bem pequeno”, explica Arthur.
Ainda de acordo com o historiador, os manguezais são áreas pouco preservadas pela própria população. “A sociedade entende por mangue uma área suja e que tem mau cheiro. Os mangues não precisam de muito cuidado por parte da população, sendo o melhor jeito de cuidar desses ecossistemas é deixando-os “quietos”. “Não podemos alterar o local que eles estão”, finaliza Arthur.
Saneamento em Manguinhos
A conservação dos ecossistemas depende da conscientização humana e trabalho de prevenção por parte do poder público. Uma das preocupações é a com o saneamento. Em 2020, a Prolagos construiu uma nova estação elevatória de esgoto (EEE), que auxilia a unidade antiga no bombeamento para a estação de tratamento reforçando o sistema de captação a tempo seco, que recebe as contribuições que chegam pelas galerias pluviais. O local é o principal ponto de escoamento da drenagem urbana do município. A interligação com a unidade em funcionamento dobrou a capacidade de bombeamento das contribuições que chegam pela rede de drenagem.
Crescimento imobiliário em Manguinhos
A história conta que na década de 50 o núcleo central da cidade se limitada à Praia dos Ossos, mas havia uma concentração do povoado em Manguinhos. O crescimento do bairro se deu com a implantação da primeira linha de ônibus Cabo Frio–Búzios, em 1951. Atraído pela possibilidade da prática submarina, o presidente da empresa aérea Cruzeiro do Sul construiu sua residência de veraneio no bairro. Mas sua estadia em Manguinhos foi tão influente que ele reconstruiu a estrada Rasa-Armação para facilitar o escoamento do pescado, o que deu a ele a nomeação de administrador honorário do 3º Distrito de Cabo Frio.
Por: Natalia Nabuco, estagiária sob supervisão da jornalista Monique Gonçalves.