Alia Atkinson, provavelmente você nunca ouviu falar dela. Assim como não deve se lembrar de um nadador negro disputando grandes competições. É que a natação é um esporte dominado pelos brancos. Entretanto vamos à apresentação, neste caso, da exceção: Atkinson é uma nadadora negra da Jamaica. Na natação isso, por si só, já é uma proeza, mas ela foi além. Faturou a medalha de ouro dos 50m livre durante o campeonato mundial de piscina curta disputado neste momento na cidade chinesa de Hangzhou.
E porque a natação é um esporte dominado pelos brancos? Eles nadam melhor? A ciência poderia buscar explicações na densidade dos corpos, no volume da massa muscular. No entanto, eu creio que a causa tenha outra natureza. Afinal, como é fácil constatar, a natação requer certas necessidades. Manter uma piscina em boas condições para o treinamento dos atletas custa caro. Então, quem tem acesso a essas estruturas clubistas, majoritariamente particulares? Infelizmente a modalidade passa a régua nos atletas. Noves fora, permanecem aqueles que vemos disputando os pálidos mundiais…
Ora, mas voltemos a nadadora jamaicana. Ela além de ser negra disputando mundial de natação, além de ganhar medalha de ouro, reclamou da soberania branca. E terminou dizendo que pretende ser exemplo para jovens negros. Sua entrevista não foi amplamente divulgada e é difícil encontrá-la até mesmo na internet.
Alia Atkinson é um peixe raro pelo seu desempenho nas piscinas, mas sobretudo por sua visão política e social capaz de perceber porque o negro ainda ocupa espaços pré-determinados. Parabéns, Atkinson! Pois é preciso coragem para exigir um lugar além dos campos de futebol e das quadras de basquete para o atleta negro.
Rafael Alvarenga é nosso cronista esportivo e professor de filosofia