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Fábio Emecê

 

cabral-garotinhoVamo lá, to incomodado. Aliás, estou na maior parte do tempo. O incomodo dessa vez está na relação estabelecida na prisão de Garotinho e Cabral, ex-governadores do Estado do Rio de Janeiro. Estado Policial e punitivo tomando forma e deteriorando a democracia?

 

Sim, sim e sim! É uma afirmação que toma coro de pessoas que se colocam como seres pensantes e coerentes com a questão dos direitos humanos e o tratamento correto dado pela justiça as pessoas. Afinal, o ex foram presos sem serem condenados.

 

Aí entra meu incomodo. Há uma certa desfaçatez nesses argumentos, ainda mais com 300 mil presos provisórios no Brasil. E aí faço a pergunta básica: Que Estado Policial e punitivo é esse que está se instalando no Brasil? Quando foi diferente? Digam e provem, por favor, quando foi diferente.

A tese de Garotinho ser um ser humano e não merecia passar pelo ridículo de ser levado em avental e maca é aceitável até a página dois. Até porque esse brado pela humanidade do ex não ganha coro em outros casos mais absurdos e nonsenses de prisões arbitrárias e preventivas da nossa história recente. Um exemplo: Rafael Braga, o ser humano que está preso por portar pinho sol.

 

Não há aparato midiático, não há textos e textos de pessoas sensíveis, no máximo, nós ativistas mequetrefes fazendo atos, rodas e saraus pela liberdade do mesmo. Nenhuma comoção.

Sabe o que me incomoda? Garotinho e Cabral são notáveis. São corruptos e criminosos, mas são notáveis. E dentro do espetáculo bizarro da maca, se esconde o que ninguém admite. Só discutimos o que acontece com os notáveis. O Brasil só é absurdo e perdido a partir do que um notável sofre ou não.

 

Não importa o quanto ele é corruptível, não importa o legado de sucateamento do serviço público e detonação de gerações inteiras com o fortalecimento do aparato policial, inclusive com ocupação das forças armadas, sem contar o crescimento agudo de milícias, ele será apontado como um ser humano que não merece ser tratado arbitrariamente e que merece julgamento.

 

Afinal, bater palmas para as prisões dos ex, é aprofundar o desmantelamento do Estado Democrático de Direito e propor alternativas para acabar com o Estado Policial e arbitrário se torna escasso. Realmente, ainda nos pautamos por esses casos, porque eles são notáveis e o que importa de fato na História do Brasil é o quanto os notáveis podem ou não suportar qualquer injustiça, mesmo sendo eles os promotores da injustiça.

 

Quando a Cláudia Ferreira foi arrastada pelo asfalto deve-se ter pensado: “Ah, ela foi arrastada, mas ainda devemos defender o Estado Democrático de Direito. Não, a justiça não é punitiva e arbitrária, ainda há esperança”.

 

Quando os 5 meninos foram alvejados com 111 tiros em Costas Barros deve-se ter pensado: “Ah, eles foram alvejados, mas ainda devemos defender o Estado Democrático de Direito. Não, a justiça não é punitiva e arbitrária, ainda há esperança.”

 

Quando Rafael Braga foi preso nas jornadas de protestos em 2013 por estar com o pinho sol deve-se ter pensado: “Ah, ele foi preso, mas ainda devemos defender o Estado Democrático de Direito. Não, a justiça não é punitiva e arbitrária, ainda há esperança”.

 

Não pensaram isso? Pois bem, já que o clamor que podemos entrar agora, só agora, só depois da prisão dos ex em um Estado Punitivo e Arbitrário, com a ajuda da mídia de massa, é estranho. Entendam, só agora que se ligaram nisso! Por favor, em vez de ter pena, vamos clamar para que os caras sejam realmente julgados?

 

Ou melhor, parem com o cinismo de querer se diferenciar dos demais, querendo perdoar ou ser condescendente com promotores diretos daquilo que eles estão sofrendo hoje, afinal, O Estado Punitivo, Arbitrário e com apoio da mídia de massa só tem a força que tem hoje porque existiram Gestores como Garotinho e Cabral, frutos direto do Estado Democrático de Direito.

Analisamos a História a ou ética ou se mostrar ético é componente de currículo pra militância nos tempos de hoje? Nada mais me assusta e quase tudo me incomoda, principalmente não entender quem manda e quem obedece no jogo…

 

Fábio é professor de literatura, rapper e ativista de causas antirracistas.

Noticiário das Caravelas

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