A sensação que eu tenho é que sentei aqui em frente a esse computador, no home office, desde março de 2020 e ainda não levantei
Terminando meu plantão de sábado, às 14h57 de 27 de fevereiro de 2021. Um ano depois do início desse medo absurdo de morrer que todos nós (pelo menos os sensatos) vivemos desde então. Não parei de acompanhar um dia sequer – sim, muitos domingos – as ações do governo municipal em Búzios, no combate à Covid-19. Sempre exerci meu papel de jornalista, perguntando, enviando e-mails, conferindo portal da transparência e boletins oficiais. Um desgaste físico e mental diário. Não me importo, esse é meu ofício, perguntar.
Há um ano, sou a mesma, fazendo as mesmas perguntas, recebendo as mesmas respostas evasivas, incompletas e até chegar ao ponto de, no momento atual, não receber resposta alguma. Considero sim, esse o pior momento para os jornalistas em Búzios. Atualmente dos mais de oitenta e-mails enviados à assessoria de comunicação desde 1 de janeiro de 2021, recebemos apenas uma resposta. Estamos entrando no terceiro mês de governo, e o desrespeito ao jornalismo segue. E sei bem, que não vai mudar. É o ‘modus operandi’ (coisa mais cafona), desse grupo.
Mas, se você chegou até aqui, vai entender o porquê deste artigo.
O trabalho da Prensa, e o meu trabalho, é o mesmo desde março de 2020, durante a gestão André Granado, cobrando, solicitando (vale destacar que mesmo que não fossem satisfatórias, tínhamos respostas) e questionando cada dado, cada documento, cada ação que pareciam não refletir a realidade. Em dado momento, fui bloqueada por que a assessora de comunicação disse que eu tinha que saber a hora de ‘cessar as perguntas’. O mesmo ocorreu entre novembro e dezembro do mesmo ano, na gestão Henrique Gomes. Perguntas, cobranças, matérias, questionamentos. Tudo documentado através de e-mails que solicitavam respostas sobre os atos do governo anterior, grande parte até hoje sem resposta. Para não ser injusta, nesse breve período tivemos alguns lampejos de informação.
O que quero apresentar aqui é o declínio da transparência e do direito à informação pública que venho presenciando na atual gestão, que faz questão de reforçar, nunca publicamente, mas sempre nos encontros em off, que ‘produzimos fake news contra eles durante a campanha’ e por isso para nós, o silêncio. Ora, justamente nós, combativos e defensores do jornalismo, produzindo fake news?
Onde estão esses textos falsos? E onde estão os processos contra esses textos falsos? Onde estão os pedidos de direito de resposta? Onde estão esses que questionam as informações veiculadas, desmentindo os fatos? As fake news, que foram impulsionadas para servir a interesses políticos, agora estão na boca desses mesmos políticos, insuflando seguidores contra jornalistas que produzem matérias que lhes desagradam. É uma nova narrativa de desqualificação da imprensa, como nova forma de manter o povo na ignorância, sendo manipulados.
Quando foi que não houve espaço, diálogo, comunicação entre nós e a equipe do então candidato que agora é prefeito? Destacando que foi este, o vencedor do pleito, o único que não compareceu ao debate promovido com lisura e direitos iguais para todos os candidatos e acompanhado por auditores e pela sociedade. Teria espaço melhor para rebater qualquer informação falsa?
Vale estudar a fundo antes de chamar qualquer matéria de fake news. Aliás, reproduzir notícia falsa, é crime.
As portas da nossa redação sempre estiveram e estão escancaradas para ouvir todas as versões, dar espaço ao contraditório e cumprir com o compromisso de relatar os fatos, sempre.
É uma escolha delicada, privilegiar um veículo em detrimento do outro, não é nada republicano não responder questionamentos, e muito menos considerar retirar o endereço de e-mail de uma redação dos disparos de imprensa. Acompanhamos preocupados ao longo dos meses o desprezo pela imprensa, ou melhor, por quem faz perguntas difíceis. Meu trabalho é primeiramente perguntar. E agora?
Cito aqui o caso da ex-vereadora Gladys, quando os seguidores sustentavam até o último momento que era mentirosa a informação que publicamos sobre a candidatura dela ser impossibilitada, por erros na prestação de contas da campanha dela em 2018 para deputada estadual. Até a experiente repórter, Maria Fernanda Quintella, foi citada em texto, acusada de promover notícia falsa. Ainda que houvesse documentação e materialidade para a notícia. Só para então chegarmos ao derradeiro final, que todos conhecemos.
Chego ao fim desse artigo, para dizer que sou, somos e seremos sempre os mesmos, exercendo o mesmo ofício, sem permitir que governos, patrocinadores ou anunciantes interfiram em nossa linha editorial. Custoso esse caminho que muitas vezes fecha mais do que abre portas. Estamos certos de que tudo passa, governos, anunciantes e patrocinadores, o que fica é o jornalismo, a credibilidade e o leitor fiel que pode confiar na letra da Prensa.
Viveremos mais um ano de pandemia, publicando o que ninguém quer que seja publicado, já que praticamos jornalismo.