Por Victor Viana
O Tatuí andava de chinelo havaianas- quando havaianas era chinelo de pobre- cada pé de uma cor. Quando arrebentava a correia ele punha um prego atravessado embaixo da sola para segurar, e assim ele ia. Vestindo sempre uma camiseta furada de candidato – no qual não votou, vivia apenas. Sua aldeia era seu mundo. Era talvez feliz.
De repente os ventos começaram a soprar uma estranha novidade: a aldeia queria virar cidade! O Tatuí escutou por aqui e por ali aquela história, que na época se escrevia estória. Um dia parado no caís viu um ator da Globo saindo em uma lancha a jato com duas modelos. Foi uma epifania, um clique, uma virada em sua mente.
Saiu à luta. Conversou com amigos e sentiu que ia dá pé: folguedos e cachaça! Passou na Igreja pegou umas cestas básicas distribuiu a alguns em seu próprio nome. Passou a ficar em fila de posto de saúde para marcar número para os outros, e até mesmo emprestava sua bicicleta para que fossem a sede do município, em Cabo Frio, resolver problemas. Agora aquele Tatuí tinha um propósito.
Foi as vésperas de assumir seu posto de nova elite da recém criada cidade que ele aprendeu a comer de garfo e faca. Trajava o terno pegado emprestado do pastor local. Tinha subido na vida aquele Tatuí. Tomou posse do cargo e de muitas terras, que trocou por espelhinhos e pentes.
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