Esta semana saiu no facebook uma notícia (nunca sei se é verdade pois essa rede social foi transformada pelos frequentadores- ao menos os brasileiros- numa verdadeira cloaca) que um rapaz supostamente havia invadido a casa de um tatuador (amador, pelo que se vê no traço) e que o mesmo havia escrito como vingança, uma frase na testa do invasor. Torto, como se Deus estivesse tomado a maquininha para si, as letras assim diziam: eu sou ladrão e vacilão. Em tempo de justiceiros, de caça às bruxas, da justiça das ruas, a foto foi sucesso imediato e não foram poucas as pessoas que aprovaram o feito. Poucos, pouquíssimos reclamaram.
Como o brasileiro pouco crê na justiça, fazer a própria justiça está entrando na moda. Ora (direis) mas o que fazer?! Se as polícias não me atendem, se a justiça é cara, lerda e corrupta, se o Estado está falido. Tenho o direito sagrado de defender minha vida e meu patrimônio. Verdade: quando nossa vida está em risco é aceitável que se use das armas necessárias para manter a mesma. Não trata-se de atitude civilidade e sim de uma reação natural. É preciso manter a segurança da espécie.
O Brasil ainda é um país primitivo em diversos assuntos. No conceito civilidade, está atrasadíssimo! Nas relações humanas, ainda nos comportamos como bárbaros. A vida pouco vale na maior parte do Brasil. Haja vista a quantidade de assassinatos por ano. Somente em Pernambuco, estado aonde nasci, matam-se 500 (isso mesmo, quinhentas) pessoas por mês. Dá quase 17 crimes por dia. E ninguém parece se importar.
Nossa incipiente e claudicante democracia ainda não apagou de corações e mentes o ranço dos conceitos da ditadura que até pouco tempo nos comandava. Muitos que se dizem cristãos ainda creem (e nos quer fazer crer) que bandido bom é bandido morto. O jovem delinquente que teve a testa tatuada é mais um bode expiatório, um exemplo aos que ousem invadir nossas casas. Não precisamos mais do Estado. Usaremos o que estiver as mãos. Seja uma escopeta ou máquina de tatuar.
Quantos de vocês que leram esse texto apoiaram o castigo? Quantos acharam correto a punição quase ETERNA pois mesmo que faça algum procedimento para remoção da tatuagem, ficará com uma cicatriz na testa até morrer? Os que acharam legal a punição aceitaria ter tatuado no corpo todos seus erros. E você cristão, aceitaria ter seus pecados marcados em sua pele por toda a vida?
A punição, por mais exemplar que seja, jamais poderá humilhar o criminoso. O castigo por mais duro que possa ser, não pode esquecer a condição humana do acusado. Em alguns grupos criminosos o líder dá um tiro no pé ou na mão de quem descumpre regras estabelecidas. Ao apoiar o caso que hora discutimos, muita gente boa se comporta como um bandido qualquer. Não se espantem se amanhã uma manicure aparecer no Facebook com um bandido amarrado na sua sala sem as unhas das mãos. Ou um cardiologista mostrando o tórax aberto de um assaltante sem o devido coração.