Vivemos em um mundo de merda. E por mais que tentem contestar a afirmação, digo isso pelo fato de que enquanto civilização, não sabemos lidar com a autodeterminação de povos, culturas e pessoas. A lógica de privação, eliminação e silenciamento daqueles que são considerados inaptos para acessar bens e possibilidades é algo bem corrente.
Na corrente vem o racista e suas práticas, sejam elas estruturais ou verbais. E em novembro, no mês da consciência negra, pelo menos aqui no Brasil, por conta do dia de 20 de novembro e tudo aquilo que envolve o quilombo de Palmares, o que pipocou de atos racistas, não se deu conta em imprensa nenhuma.
Vídeos gravados, memes, textos publicadas, páginas viralizadas e conteúdos históricos contestados a revelia invadiram as redes, principalmente as sociais, por esse ano e esse mês, a coisa ficou tensa. E aí é um gatilho que merece um pouco mais de atenção.
Um dos componentes do nosso mundo de merda é o espetáculo. O espetáculo, traduzindo grosso modo o Guy Debord, seria uma relação social entre pessoas, mediada por imagens. O que vale mesmo é a imagem que você cria sobre si mesmo e como isso reverbera.
Quando alguém compartilha vídeos, memes, textos, páginas e reportagens de cunho racista, em redes sociais, onde o espetáculo é concentrado, a proposta é vincular conteúdo a sua imagem e acreditar que aquilo vai te dar visibilidade. Ou like, como preferirem. As pessoas realmente acreditam que suas atitudes racistas agregam valor.
Países de origem escravocrata tem uma imensa dificuldade de admitir sua história, suas limitações e seus operativos com relação a sua população. É um país que olha pro espelho, tem vergonha de si mesmo e usa botox eternamente, contando algo que as outras partes do corpo não acreditam, justamente por não funcionarem direito mais.
A dificuldade cria a perversão. Perversão de você ser agressor, genocida, opressor sem se importar muito com as consequências. Naturalizar a agressão, o genocídio, a opressão ou até mesmo nem se perceber fazendo isso. Eu não acredito na não percepção de ação, ainda mais do porte racista, só coloco em jogo que a perversão faz você ser qualquer coisa para estar em voga no espetáculo, inclusive ser racista declarado.
O importante não é ser perverso, é ser visto cometendo a perversidade. É a capacidade de conectar outras pessoas que concordam com o que você tá fazendo e te dão o aval. A visibilidade daquilo que é absurdo, mas não importa o absurdo, importa o que você pode conseguir com aquilo e pasmem, ou não, você pode conseguir mobilidade.
Ser racista num mundo de merda não tem pegado muita coisa, além de visualizações e vociferações, sejam elas contra ou a favor. O mundo é uma seleção de imagens, sua ação é um print e sua reação um delete ou um block.
Temos uma teoria anti-racista de rompimento total com o modelo estabelecido, inclusive com intervenção profunda nas consciências, retirando o poder simbólico e concreto de um pequeno grupo e distribuindo de forma horizontal pra todos, sem excessos. Quando colocaremos em prática de fato e quem tá disposto a isso?
Quando um ícone cai, seus seguidores caem junto e quando o racista, o que cai junto com ele?
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Foto de capa recortes de alguns casos de racismo registrados na internet por Prognatismo Político